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terça-feira, 12 de novembro de 2013

O debate e o embate sobre as cotas para parlamentares negros

  (Deputado Luiz Alberto, PT-BA)

Eis uma discussão rumo à justiça racial/étnica que promete
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


Em 30 de outubro passado a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deu parecer favorável à Propostade Emenda à Constituição (PEC) 116/2011, do deputado Luiz Alberto (PT-BA), do Movimento Negro e coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombolas, que reserva vagas a parlamentares de origem negra, na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmara Legislativa do DF, por cinco legislaturas (20 anos), prorrogáveis até por mais outras cinco.
A proposta ainda tramitará por uma comissão especial antes da votação em dois turnos no plenário da Câmara dos Deputados. O garatujar de hoje é de teor informativo acerca de um tema novo, mas não original: já tivemos deputados(as) federais classistas (1933-1937), com vistas a “diminuir a hegemonia política representativa do ancien regime”, conforme Getúlio Vargas.
 
Almerinda Farias Gama - 27/07/2012 [Divulgação]   [Almerinda Farias Gama,  alagoana, negra, primeira mulher a ganhar holofotes no cenário político brasileiro. Presidenta do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos, foi deputada classista na Assembleia Nacional Constituinte (1933), advogada e feminista]

 

A PEC 116/2011 determina que:
1.      O critério para a candidatura é o da autodeclaração;
2.      Cada eleitor(a) terá direito a dois votos: um para a lista geral de candidaturas e outro  específico para a lista de candidaturas negras;
3.      O voto específico visa cumprir a reserva de cotas raciais;
4.      O porcentual de vagas da cota deve corresponder a dois terços do somatório de pessoas que se declararam pretas ou pardas no último censo demográfico – pelo censo de 2010, esse percentual seria de 50,7%;
5.      O número de vagas destinadas à população negra não poderá ser menor que um quinto (20%) ou superior a metade (50%)  das vagas disponíveis;


“A polêmica agora
será maior. Trata-se de
ampliar a participação
popular num ambiente
de disputa real de
poder. A resistência
será maior”.


Dizendo que menos de 5% dos deputados federais e apenas 2 senadores, de um total de 82, são negros, o deputado Luiz Alberto arremata: O que se propõe é dar um choque de democracia nas casas legislativas. Em resposta à indagação: “Acha que as cotas no Legislativo serão tratadas pelos deputados como as cotas universitárias?”, declarou: “Não. A polêmica agora será maior, porque se trata de uma tentativa de ampliar a participação de setores mais populares num ambiente de disputa real de poder. É ali que são decididos os rumos do Brasil. A resistência será maior”.
Matéria veiculada pela Afropress – Agência de notícias destaca que a PEC 116/2011 padece de três problemas: rompe com o princípio de cotas e demais ações afirmativas como medidas inclusivas e não segregacionistas, referendado pelo STF (opinião que carece de sustentação); e poupa os Partidos do enfrentamento da ínfima presença negra nas candidaturas (é fato!); e que “ao invés de fazer com que discutam políticas de inclusão e até estabeleçam cotas para preenchimento das vagas em disputa, a proposta repassaria aos eleitores essa tarefa e criaria a categoria de deputados de segunda – os eleitos por voto específico – os negros”, o que é discutível.
 
 


 Para mais nuances à discussão, lembro a figura de deputado(a) classista, criada por Getúlio Vargas, Código Eleitoral de 1933, para integrar a Constituinte, referendada pela Constituição de 1934, abolida pelo Estado Novo (1937), como representação parlamentar de entidades classistas, patronais e de trabalhadores sindicalizados – eleitos pelos sindicatos, com os mesmos direitos de quem se elegeu pelo voto popular. Para a Câmara Federal eram 40 deputados classistas: 20 dos empregados, sendo dois funcionários públicos; e 20 dos empregadores, dos quais três profissionais liberais. Para a 36ª e 37ª Legislaturas foram eleitos 50 representantes.
Eis uma discussão rumo à justiça racial/étnica que promete ser calorosa. Zumbi vive!
 
 
Busto de Zumbi dos Palmares, no Rio  (Busto de Zumbi dos Palmares, no Rio)

12.11.2013
           OPINIÃO, pág. 20 de O TEMPO impresso

Indicação de leitura: O conceito de democracia na proposta de representação classista na Constituinte de 1934, Vera Alves Cepêda

5 comentários:

  1. Parabéns pela coragem deputado Luiz Alberto. Cara Fátima, obrigada também

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  2. O deputado Luiz Alberto tem razão: o bicho vai pegar; poucos brancos acham natural o negro no poder

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  3. Vale como discussão, mas não sei se concordo, pois para sermos justos o bastante, teria de haver cotas também para índios e ciganos.

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  4. Penso que a proposta é justa, mas é polêmcia, até o movimento está dividido, não é?

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  5. Teremos uma luta grande e forte pela frente. Concordo com o deputado Luiz Alberto que a coisa não será fácil

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