Eis
uma discussão rumo à justiça racial/étnica que promete
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com
@oliveirafatima_
Em 30 de outubro passado a Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados deu parecer favorável à Propostade Emenda à Constituição (PEC) 116/2011, do deputado Luiz Alberto (PT-BA), do
Movimento Negro e coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial
e em Defesa dos Quilombolas, que reserva vagas a parlamentares de origem negra,
na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmara Legislativa do DF,
por cinco legislaturas (20 anos), prorrogáveis até por mais outras cinco.
A proposta ainda tramitará por uma comissão
especial antes da votação em dois turnos no plenário da Câmara dos Deputados. O
garatujar de hoje é de teor informativo acerca de um tema novo, mas não
original: já tivemos deputados(as) federais classistas (1933-1937), com vistas
a “diminuir a hegemonia política
representativa do ancien regime”, conforme
Getúlio Vargas.
A PEC 116/2011 determina que:
1. O critério para a candidatura é o da
autodeclaração;
2. Cada eleitor(a) terá direito a dois
votos: um para a lista geral de candidaturas e outro específico para a lista de candidaturas
negras;
3. O voto específico visa cumprir a
reserva de cotas raciais;
4. O porcentual de vagas da cota deve
corresponder a dois terços do somatório de pessoas que se declararam pretas ou
pardas no último censo demográfico – pelo censo de 2010, esse percentual seria
de 50,7%;
5. O número de vagas destinadas à
população negra não poderá ser menor que um quinto (20%) ou superior a metade (50%)
das vagas disponíveis;
“A polêmica
agora
será maior.
Trata-se de
ampliar a
participação
popular num
ambiente
de disputa
real de
poder. A
resistência
será maior”.
Dizendo que menos de 5% dos deputados
federais e apenas 2 senadores, de
um total de 82, são negros, o deputado Luiz Alberto arremata: “O que se propõe é dar um choque de democracia nas casas legislativas”. Em
resposta à indagação: “Acha que as cotas no Legislativo serão tratadas pelos
deputados como as cotas universitárias?”, declarou: “Não. A polêmica agora será
maior, porque se trata de uma tentativa de ampliar a participação de setores
mais populares num ambiente de disputa real de poder. É ali que são decididos
os rumos do Brasil. A resistência será maior”.
Matéria veiculada pela Afropress – Agência de notícias
destaca que a PEC 116/2011 padece de três problemas: rompe com o princípio de
cotas e demais ações afirmativas como medidas inclusivas e não segregacionistas,
referendado pelo STF (opinião que carece de sustentação); e poupa os Partidos do
enfrentamento da ínfima presença negra nas candidaturas (é fato!); e que “ao
invés de fazer com que discutam políticas de inclusão e até estabeleçam cotas
para preenchimento das vagas em disputa, a proposta repassaria aos eleitores
essa tarefa e criaria a categoria de deputados de segunda – os eleitos por voto
específico – os negros”, o que é discutível.
Para mais nuances à discussão, lembro a figura de deputado(a) classista, criada por Getúlio Vargas, Código Eleitoral de 1933, para integrar a Constituinte, referendada pela Constituição de 1934, abolida pelo Estado Novo (1937), como representação parlamentar de entidades classistas, patronais e de trabalhadores sindicalizados – eleitos pelos sindicatos, com os mesmos direitos de quem se elegeu pelo voto popular. Para a Câmara Federal eram 40 deputados classistas: 20 dos empregados, sendo dois funcionários públicos; e 20 dos empregadores, dos quais três profissionais liberais. Para a 36ª e 37ª Legislaturas foram eleitos 50 representantes.
Eis uma discussão rumo
à justiça racial/étnica que promete ser calorosa. Zumbi vive!
12.11.2013
OPINIÃO, pág. 20 de O TEMPO impressoIndicação de leitura: O conceito de democracia na proposta de representação classista na Constituinte de 1934, Vera Alves Cepêda
Parabéns pela coragem deputado Luiz Alberto. Cara Fátima, obrigada também
ResponderExcluirO deputado Luiz Alberto tem razão: o bicho vai pegar; poucos brancos acham natural o negro no poder
ResponderExcluirVale como discussão, mas não sei se concordo, pois para sermos justos o bastante, teria de haver cotas também para índios e ciganos.
ResponderExcluirPenso que a proposta é justa, mas é polêmcia, até o movimento está dividido, não é?
ResponderExcluirTeremos uma luta grande e forte pela frente. Concordo com o deputado Luiz Alberto que a coisa não será fácil
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