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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Comportamento bipolar e parasitário sobre a “riqueza” de médicos

Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
 
Fico abismada quando leio matérias que dizem que todas as pessoas que são médicas não trabalham e só querem se encher de dinheiro sem trabalhar; e que as pessoas que querem ser ou que são médicas querem apenas ganhar dinheiro.
Nas soleiras da aposentadoria, tenho a honra de dizer que nunca faltei, nem sequer cheguei atrasada em toda a minha vida laboral. Em nenhuma profissão as pessoas são iguais, por que deveriam ser em medicina? Ganhar dinheiro com o suor do próprio trabalho nunca foi crime ou pecado, mas parece que para quem faz medicina é! Em tempo: não sou pobre, mas não enriqueci! 
 
 Será que confundem o exercício da medicina com sacerdócio de graça, que não existe em nenhuma religião, ou “profissão de fé” de não receber pelo trabalho realizado? Ou é má-fé inominável? Num país capitalista os salários são regulados pelo mercado. Assalariados não impõem quanto vão ganhar, por que só médicos teriam de dizer que querem menos do que paga o mercado, que aqui é majoritariamente precarizado: sem carteira assinada e sem concurso público?
Relación médico pacienteOs planos/convênios de saúde ficaram milionários porque médicos recebem por “produção”, sem lenço e sem documento, sob as bênçãos de todos os governos, até hoje! Conhece algum convênio em que, mesmo em hospitais próprios, médicos são funcionários? E não fomos nós quem estabelecemos o mercado assim, abrindo mão de direitos trabalhistas, regra tão arraigada que o governo dela compactua, tanto que no programa Mais Médicos não se paga salários, se dá bolsas! Ou trabalhamos assim, ou nada!
Há uma expectativa cultural leviana de que médicos são ricos ou vão ficar, e há certeza que querem ficar. São generalizações furadas. A aura cultural da sociedade exige de que médicos ganhem bem, morem bem, tenham carros sempre novos e top de linha e se vistam nos trinques – que suas mulheres andem na última moda, que as médicas se vistam como modelos. Quem não se encaixa no figurino imaginário fracassou porque os bons mesmo ganham rios de dinheiro, pois o mito da medicina profissão liberal diz que temos um consultório abarrotado de pagantes!
 
  
É senso comum que não podemos morar em qualquer lugar, nossos filhos não podem estudar em qualquer lugar, como pessoas comuns, porque nosso valor profissional fica comprometido. Uma diretora da Escola Estadual Leopoldo de Miranda indagou por que meus filhos estudavam lá. Respondi que considerava uma boa escola e perto de casa. “Você é médica e pode pagar escola!”. Tasquei: “E pago, inclusive a sua, religiosamente e em dia, já que meu imposto de renda é descontado na fonte!”.
  
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Quase sempre quem faz algum trabalho para médicos cobra “os olhos da cara”. Um bombeiro fez um pequeno reparo hidráulico num apartamento em meu prédio e cobrou R$ 30. O mesmo serviço no meu apartamento cobrou R$ 100! A vizinha havia dito que eu era médica! Em geral, quem já trabalhou para nós, sendo regiamente pago, adquire o direito eterno de telefonar a qualquer hora da noite para uma “consultinha telefônica”; trocar a receita do “remédio controlado” da vizinha; quer 0800 sempre e, sinceramente, crê que merece favores infinitos e quando trabalhou para nós “meteu a faca”! E a parentada toda VIP é outro departamento, a querer para o saco e para o bisaco 24 horas por dia!
 Há um comportamento bipolar generalizado em relação a médicos de tirar proveito, meio sanguessuga e parasitário, que se revela até em festas: “Ah, pode dar uma olhadinha aqui?”. Ora, a olhadinha 0800 é uma consulta... no meio da festa! Ai que fadiga! 
 PUBLICADO EM 27.08.13
Doutora Brinquedos FONTE: OTEMPO 

3 comentários:

  1. Bem na fita! Fátima Oliveira vc foi à raias da perfeição. Retratou vida de médica/médico muito bem

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  2. eheheheheheh eu sei a chatura que é esse pedido de olhadinha

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  3. A cultura do aproveitar, de não perder oportunidade é sempre muito pesada na vida de médico. E muita gente não s emancag, de amigos a conhecidos a parents. Um horror

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