... é um ponto de publicação de "coisas" escritas em momentos de grandes inspirações, pois a Chapada do Arapari é um lugar que existe, mas ao mesmo tempo é meu imaginário...
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
A minha solidariedade às vítimas da talidomida pelo mundo afora
CASSAÇÃO DO FÁRMACO SÓ FOI EFETIVADA COM RIGOR EM 1965
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
A catástrofe iatrogênica da talidomida é um crime que ainda considero impune. Estima-se entre 10 mil e 20 mil as vítimas da talidomida no mundo, com diferentes graus de deficiências. Fabricada pelo laboratório alemão Chemie Gruenhental em 1954, a talidomida foi comercializada a partir de 1956 como antigripal e "calmante" - contra distúrbios do sono e tranquilizante - e, depois, indicada em casos de "enjoos" matinais da gravidez. Vendida em quase 50 países, nos EUA, a droga não obteve licença para ser comercializada.
A "geração talidomida" começou a aparecer no fim da década de 50, mas só em 1961 veio o primeiro alerta sobre os casos de malformações congênitas associadas ao uso de talidomida. Foi retirada do mercado na Alemanha e na Inglaterra em 1961.
(Philippa Bradbourne um dos bebês vítimas da talidomida. Photo: Reuters)
No mercado brasileiro, desde 1958, chamava-se Sedin, Slip, Sedalis e Sedalis 100. Em 1962, o governo cassou a licença do fármaco, ato só formalizado em 1964, e efetivamente em vigor com rigor, a partir de 1965, conforme dados da Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), ficando o uso restrito, desde 1966, a tratamento de hanseníase, lúpus eritematoso sistêmico, um tipo de câncer de medula, o mieloma múltiplo, de doenças inflamatórias, como a doença de Crohn, e algumas afecções dermatológicas. Proibido o uso por grávidas.
(Harald Stock)
Harald Stock, diretor executivo da Chemie Gruenhental, inaugurou em Stolberg, Alemanha, em 31 de agosto passado, um memorial em homenagem às vítimas da talidomida - uma pequena escultura de bronze de uma menina sem braços e com malformações nas pernas, simbolizando as crianças que nasceram com problemas, depois que suas mães tomaram talidomida.
Na ocasião, Harald Stock apresentou, pela primeira vez, meio século depois, um pedido formal de desculpas: "Pedimos perdão por não termos encontrado uma maneira de chegar até vocês, ser humano por ser humano, ao longo dos últimos 50 anos...". "Pedimos que considerem nosso silêncio como um símbolo do impacto provocado em nós pelo seu destino". Incontinênti, associações de defesa de vítimas da talidomida na Alemanha, na Grã-Bretanha, no Japão, no Canadá e na Austrália emitiram declarações indignadas, considerando "inapropriado, patético e ofensivo" o discurso de Harald Stock.
(Tsugumichi Sato)
(Freddie Astbury)
No Japão, o terceiro país mais afetado pela tragédia, o diretor geral da Sakigake, um centro de ajuda social às vítimas da talidomida, Tsugumichi Sato, afirmou que "o número de vítimas teria sido menor se a empresa tivesse interrompido a venda do medicamento antes". Freddie Astbury, consultor da associação Thalidomide Agency UK, disse que "a empresa tem que acompanhar as palavras com indenizações e não apenas ficar limitada a um pedido de desculpas".
(Lynette Rowe)
Os advogados da australiana Lynette Rowe, que nasceu sem as pernas e os braços, venceram a empresa alemã na Justiça da Austrália - afirmaram que "suas desculpas são muito leves, tardias e repletas de hipocrisia", e que "durante 50 anos, a Grunenthal esteve envolvida em uma estratégia de empresa, calculada para resguardar-se de qualquer consequência moral, jurídica e financeira em função da negligência nos anos de 1950 e 1960".
(Ilonka Stebritz)
Ilonka Stebritz, da Associação de Vítimas do Contergan (nome comercial da talidomida na Alemanha), considerou o discurso do representante da empresa insuficiente: "Expressou arrependimento, mas não se desculpou por ter colocado no mercado este medicamento, que foi vendido às mulheres grávidas, sem serem realizados previamente testes clínicos".
Publicado no Jornal OTEMPO em 04.09.2012
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Fico abismada com a cara de pau da empresa. A talidomida provocou uma tragédia mundial e nunca ela se importou com as vítimas
ResponderExcluirA talidomida criou uma realidade cruel. Nunca foi feita justiça.
ResponderExcluirDra. Fátima Oliveira obrigado pela sua solidariedade
ResponderExcluirAcho que a Chemie Gruenhental quer limpar sua barra, que mais suja do que pau de galinheiro.
ResponderExcluir....
História da Talidomida – Do seu dramático passado ao seu futuro promissor
Em 1954, uma pequena companhia farmacêutica alemã, a Chemie Grünenthal, tinha como objectivo aumentar os seus lucros aproveitando o “boom” dos antibióticos que ocorr eu no pós-guerra. [25]
Os investigadores da Grünenthal, ao tentarem encontrar técnicas simples e pouco dispendiosas para produzir novos antibióticos produziram a ftaloilisoglutamina, um composto derivado do ácido glutámico. Mas esta molécula que passou a ser denominada de talidomida, afinal não possuía as características antibacterianas desejadas. Nos testes realizados em animais, não demonstrou possuir nenhum efeito anti-tumoral ou sedativo; mostrava-se também atóxica, mesmo em doses muito elevadas. Herbert Keller, farmacologista da Grünenthal, levantou a hipótese de que mesmo não exibindo efeitos sedativos nos animais, a talidomida poderia funcionar no Homem, e ainda que também neste não funcionasse, como não revelou toxicidade, não poderia trazer prejuízos. Em ensaios clínicos, os investigadores da Grünenthal verificaram que a talidomida apresentava a capacidade de induzir um sono profundo nos indivíduos testados. Estes resultados foram estrondosos porque os fármacos sedativos eram um grande negócio na Europa no pós-guerra, mas tinham o inconveniente de serem tóxicos. [25]
A talidomida foi introduzida no mercado no ano de 1956 com o nome comercial de Contergan®. Para além de um potente efeito sedativo e hipnótico, apresentava também características anti-eméticas, revelando através de experiências com animais uma toxicidade aguda muito baixa. Dadas as suas características farmacológicas, foi utilizado por mulheres grávidas no combate às insónias e ansiedade, e também no alívio dos enjoos matinais. [11,12,29] A sua acção terapêutica permitiu que rapidamente fosse um êxito no mercado farmacêutico, atingindo grande popularidade particularmente na Europa e no Canadá, mas também na Ásia, Austrália, América e Africa, podendo ser encontrada com pelo menos 40 designações comerciais (Contergan®, Distaval®, Talimol®, Kevadon®, Nibrol®, Sedimide®, Quietoplex®, Neurosedyn®, entre outras). [29]
O facto de se tratar de um Medicamento Não Sujeito a Receita Médica (MNSRM), terá contribuído para o seu êxito mas também para as consequências desastrosas decorrentes da sua utilização. Nos EUA, no entanto, a FDA (Food and Drug Administration) nunca chegou a autorizar a sua introdução no mercado, devido à ocorrência de alguns efeitos neurológicos raros - alguns doentes que tomavam este fármaco durante largos períodos de tempo, relatavam períodos de perda de sensibilidade nas mãos e nos pés. Ensaios experimentais feitos para investigar a causa destes efeitos mostraram-se inconclusivos quanto à sua origem. [11]
Os primeiros relatos de crianças nascidas com malformações, que incluíam a ausência ou o encurtamento dos braços, pernas ou até mesmo de dedos, para além de malformações em órgãos internos, remontam ao fim da década de 50. [11,25,42
http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0506/talidomida/histria.htm