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segunda-feira, 23 de julho de 2012

A BH possível, a dos nossos sonhos: amiga das mulheres

bh.jpg (78547 bytes)

AS QUESTÕES CRUCIAIS DA CIDADE, O QUE EMPERRA A CIDADANIA
Fátima Oliveira
Médica – 
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


O eixo dos debates de uma eleição municipal é a cidade que temos, a que queremos e a que sonhamos. Ou seja, temos de colocar na mesa sonhos mais focados nas questões cruciais da cidade, aquilo que emperra a cidadania. Nem mais, nem menos.





Portanto, o meu repúdio ao fundamentalismo religioso, expresso nas palavras do secretário geral da CNBB: "Aborto também deve ser tema de eleição municipal", uma tentativa espúria de desvirtuar o sentido das eleições municipais, servindo na bandeja o que não pertence a nenhuma religião: os corpos e as vidas das mulheres. Querer impor tal pauta tem nome: é desprezo por gente concreta, "nascida", aviltamento da cidadania. "Xô, tirem seus rosários dos nossos ovários!".




 (Mulher e crianças, Portinari)


É hora de revisitar a cidade que temos, indagar por que "ela é assim e não assada", pois cidade não é apenas um território, mas o conjunto de bens públicos disponíveis - equipamentos educacionais, como berçários, creches e escolas de diferentes níveis; serviços de saúde, de transporte e de mobilidade de modo geral; de segurança; e de lazer. Isto é, um conjunto de bens materiais e imateriais que traduzem direitos de cidadania.
O que temos é suficiente para todos? É de boa qualidade? Neles gente recebe tratamento que não degrada a dignidade humana? Atende às necessidades imediatas e não desconsidera as necessidades estratégicas de gênero? É uma cidade inclusiva ou excludente para as mulheres, enquanto usuárias e elaboradoras de projetos urbanos? Tais questões podem parecer supérfluas, já que historicamente as cidades não são pensadas para as mulheres, como se todas estivessem encerradas nos gineceus das casas dos ricos da Grécia antiga e andassem de palanquim.



 (A partida de Coriolano, óleo sobre tela, R. Postiglione, século XIX)


“É preciso priorizar
a abundância pública,
não a riqueza privada



Arquivo: Henry Alken, depois de Henry Chamberlain - A rede.jpg  (Palanquim, Henry Alken)
 [The palanquim (1843) Desenho de Pitt Springett. Litografia de T. Picken]


São aspectos de uma velha questão, a exclusão das mulheres das cidades, e conformam o debate contemporâneo sobre uma nova filosofia para as cidades, de planificação e planejamento territorial, em que o recorte e a dimensão de gênero sejam indispensáveis para garantir o direito das mulheres à cidade a partir do horizonte que "pensar e remodelar a cidade através do olhar das mulheres aporta um novo equilíbrio e uma outra dimensão". Isso consta na "Carta europeia das mulheres na cidade - Rumo ao direito à cidade para as mulheres", um conjunto de proposições sobre a cidade, a cidadania e o gênero, "uma nova malha de leituras da cidade", que explicita que o cotidiano de mulheres e o de homens possuem necessidades diferentes às quais cabe ao poder público municipal responder.


 Para o urbanista norte-americano Mike Davis, autor de "Planeta Favela", "é preciso priorizar a abundância pública, não a riqueza privada. Para ele, a abundância pública é representada por grandes parques urbanos, museus gratuitos, bibliotecas e inúmeras possibilidades de interação humana", logo, "a prioridade é construir complexos culturais, educacionais e esportivos que funcionem como centros cívicos para bairros e distritos suburbanos, mesmo que para isso seja preciso suspender os investimentos no centro da cidade, e as maravilhas do centro devem se tornar mais acessíveis para todos, por meio de passagens mais baratas e entradas gratuitas".



 Na hora de escolher o novo prefeito de Belo Horizonte, é importante lembrar que a cidade precisa de um cuidador com olhos voltados para a cidadania - mais para quem precisa mais! - e comprometido com a abundância pública vincada por uma dimensão de gênero capaz de fazer de BH uma cidade amiga das mulheres.

   (Duke)
Publicado no Jornal OTEMPO em 24.07.2012

  Sobre Eleições municipais 2012, da autoria de Fátima Oliveira:
Beagá merece Patrus mais uma vez: o que é bom vale repetir
 Sobre Patrus Ananias e eleições municipais em BH, da autoria de Fátima Oliveira e publicado em O TEMPO:
Eqüidade para as duas Beagás: mais para quem precisa mais - Fátima Oliveira (16.09.2008)

www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=6584,OTE
O segundo turno na capital: "Nem mé, nem cabaça" - Fátima Oliveira (14.10.2008)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=6813,OTE
Memória, compromisso e via-crúcis: do "Resgate" ao Samu - Fátima Oliveira (02.03.2010)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=11016,OTE

4 comentários:

  1. Uma visão interessante, mas gostaria de saber mais sobre necessidades imediatas necessidades estratégicas de gênero.
    Artigos como o seu ajudam ao debate eleitoral, pois traz elementos que nos levam a pensar

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  2. Arrepiei. Um texto que emociona

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  3. Fátima, honestamente, eu desocnhecia a Carta Europeia
    das mulheres na cidade - Rumo ao "Direito à Cidade para as Mulheres"

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  4. Graziela Amaral Nunes24 de julho de 2012 às 21:11

    Muito bem Fátima Oliveira

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