Visualizações de página do mês passado

terça-feira, 24 de abril de 2012

Desdenhar da grande experiência camaleônica de Sarney é ignorância

 DUKE

Como funciona a moral mafiosa no tocante a dinheiro
Fátima Oliveira
Médica –
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Sussurram em versos e trovas nas alcovas, no breu das tocas, nos botecos; e anda nas cabeças e nas bocas que o senador amapaense José Sarney teria dito: "Renan e eu conhecemos o Demóstenes gordo e o Demóstenes magro", quando especularam se o senador surtou de repente.



Ou seja, para Sarney, ele é isso aí! Se a idade não deu sabedoria a Sarney, experiência ele tem de sobra. Nunca deixo de prestar muita atenção no que ele fala, nem que seja só para discordar com conhecimento de causa. A fala de Sarney faz sentido. Não se trata de uma sociopatia não criminosa (nem todo sociopata é criminoso!).






Foto: Agência SenadoA dica de Sarney é quente e em si um aviso, ainda que quase camuflado, mas nas entrelinhas aponta que é hora de rever dois grandes filmes-subsídio para entender o momento político brasileiro: o épico "O Poderoso Chefão" (1972), a saga da família Corleone em três filmes de Francis Ford Coppola, adaptação do romance de mesmo nome, de Mario Puzo; e "A Honra do Poderoso Prizzi" (1985), de John Huston, baseado no livro de mesmo nome de Richard Condon.


 É de bom tom revê-los com um novo e mais apurado olhar para apreender como funciona a moral mafiosa no tocante a dinheiro, que, tal qual o capital financeiro internacional, tem origem, mas é apátrida. O desnudamento de relações siamesas do senador Demóstenes Torres, assim como a capilaridade em quase todos os partidos políticos, vai explicitando que quem os chefia, em sua ânsia de controlar e subalternizar os Três Poderes brasileiros, não é um exército de um homem só.


 Suas práticas, desde Waldomiro Diniz, corroboram um princípio: a máfia não sobrevive nem prospera sem um ponto de apoio no governo instalado, daí porque exige ter aboletado em um dos Três Poderes, ou em todos, um setor serviçal ou, usando palavra mais apropriada, um setor fâmulo - um criado com vínculos de subordinação absoluta. Não importa de qual partido. Não é de admirar que o senador Demóstenes Torres não apenas religiosamente preste contas do que faz, caladinho, ao "capo", como recebe pitos homéricos sem piar!

 E obedece, pois descumprir o juramento do silêncio ("omertà") é sentença de morte, como disse o ex-mafioso Tommaso Buscetta: "A sentença de morte da máfia é sempre cumprida, cedo ou tarde. A máfia não esquece nunca". O senador foi eleito para cumprir o papel de representante de interesses escusos, nada a ver com dupla personalidade (é aí que Sarney acerta!), o que corrobora o dito por Wálter Fanganiello Maierovitch: "Parecem eternas as ligações da criminalidade organizada com o chamado clientelismo político e a subserviência de muitos ao poder econômico representado pelas máfias" ("Máfia e política: crises vocacionais").

(Diego Tajani)

Em cenário político sob a batuta mafiosa, há um elemento crucial a ser considerado na hora do voto nas próximas eleições. Para quem não é do ramo nem simpatiza, trata-se de avaliar o envolvimento ou não da candidatura, por mais inocente que ela possa parecer, com práticas mafiosas, conhecidas desde 1875 e tornadas públicas pelo procurador geral de Palermo (Itália), Diego Tajani: "Posso afirmar que a máfia prospera por motivos políticos e só é forte na medida da proteção recebida das autoridades", por ter comprovado que "a máfia siciliana colocava grana e influência nas campanhas, elegia os seus políticos e escolhia os seus representantes nos governos" (IBGF/WFM, em "Máfia, política, jogos de azar e Cachoeira). Agora é aqui. Em nossas fuças.


 Publicado no Jornal OTEMPO em 24.04.2012

3 comentários:

  1. "Mantenha os amigos por perto; E os inimigos mais perto ainda." - Don Vito Corleone

    @GersonCarneiro

    ResponderExcluir
  2. Fátima Oliveira, vc se excedeu em tudo no artigo. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Gostei da análise, que achei impressionante

    ResponderExcluir