(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Aconteceu em Brasília, em 18 de novembro, a Marcha das
Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver 2015, com cerca
de 50 mil participantes, evento tecido durante três anos. É a primeira marcha
das negras brasileiras.
Ocorrerá em Brasília, de 1º a 4 de dezembro próximo, a
15ª Conferência Nacional de Saúde, sob o tema “Saúde pública de qualidade para
cuidar bem das pessoas”, que tem como eixo o “direito do povo brasileiro”;
“contará com 4.322 participantes, sendo 3.248 delegadas(os), 976 convidadas(os)
e 98 por credenciamento livre”.
FONTE: Geledés
Usarei os dois eventos para algumas especulações sobre
as conferências de saúde e a validade hoje em dia das “marchas políticas” como
instrumentos de reivindicação e pressão, que farei em outro artigo; mas adianto
que a grande vitória da marcha não foi ela em si, mas as mobilizações que a
prepararam, deixando um saldo organizativo expressivo em cada lugar onde foi
sonhada.
Tenho pensado sobre a efetividade política do controle
social exercido pelos conselhos e pelas conferências de saúde, além do dever de
resistência que a conjuntura impõe às delegações na 15ª Conferência Nacional de
Saúde, diante dos ataques que o SUS vem sofrendo cotidianamente.
O Brasil conta com 26 Estados e o Distrito Federal,
cada um com conselho de saúde, e possui 5.570 municípios, que, teoricamente,
são obrigados por lei a ter um Conselho Municipal de Saúde – dá para imaginar a
quantidade de pessoas fazendo controle social na saúde? Tivéssemos um controle
social como deveria, o SUS teria avançado muito mais!
“O Conselho de Saúde é um órgão colegiado de caráter
permanente e deliberativo (com poder de decisão), com representantes de toda a
sociedade e de composição paritária (parágrafo 2º, da Lei 8.142/1990)”. É nele
que se dá a participação popular na fiscalização e na condução das políticas de
saúde, garantidas a partir da Lei 8.142, de 28.12.1990, que instituiu os
conselhos e as conferências de saúde como instâncias de controle social do SUS
em âmbitos federal, estadual e municipal”.
“Composição paritária significa que o número de
representantes do segmento usuário é igual à soma dos demais representantes dos
outros segmentos: profissionais e trabalhadores de saúde; e gestores e
prestadores de serviços de saúde, o que garante o efetivo controle social sobre
a execução da política e dos planos de saúde”. Isto é, 50% representam
usuários; 25%, os profissionais e os trabalhadores de saúde; e os outros 25%,
gestores e prestadores de serviços”.
Em “O conferencismo sequestra a democracia e insulta ainteligência”, registrei o meu desânimo: “Longe de mim ser contra espaços de
discussões e proposições para garantir direitos! Que fique explícito: não sou
contra conferências, mas contra o uso do formato conferência para
‘conferencismos’ que “não nos tiram do amassar ‘ad aeternum’ o mesmo barro”,
pois são eventos que ‘não decidem nada e não mandam nada! Só listam
recomendações a que, via de regra, nenhuma autoridade dá a menor pelota – e os
conselhos das áreas também ‘não apitam nada’. Desconheço exceções nas três
esferas de governo. Talvez existam, mas desconheço” (O TEMPO, 18.10.2011).
Para que conselhos, conselheiros e conferências de
saúde cumpram o papel para o qual foram criados, ainda temos um longo caminho a
percorrer e um inimigo a derrotar: a “prefeiturização” da maioria esmagadora
dos conselhos municipais de saúde.
(DUKE)
(Angela Davis, ativista negra norte-americana)
Angela Davis em São Luís do Maranhão… quem diria! Por Fátima Oliveira
PUBLICADO
EM 24.11.15
FONTE:
OTEMPO
Você poderá gostar de ler, de Fátima Oliveira:
ENTREVISTA: “Se você tinha um cavalo, você valia um cavalo quando adoecia” (Publicada em 19.12.2011, Gazeta do Povo)
Negras da Irmandade da Boa Morte, Por Fátima Oliveira, O Tempo, BH, MG, 20 de agosto de 2003
O capital estrangeiro na saúde é venenoso como a laura rosa, Por Fátima Oliveira, O Tempo, BH, MG, 20.10.15
Sem o SUS, o Brasil retrocederá ao tempo dos indigentes, Por Fátima Oliveira, O TEMPO, BH, MG, 20.10.2015
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