Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Desde meados de outubro vivenciamos dias de
protagonismo intenso das mulheres, semelhante à maré de sizígia – “de grande
amplitude, que ocorre quando o Sol e a Lua estão em sizígia: alinhados em
relação à Terra, e a atração gravitacional entre os dois astros se soma”,
durante as luas nova e cheia.
[Imagens da maré de sizígia na Ilha de São Luís (MA), em 2015]
Vários fatos detonaram a maré de sizígia das vozes das
brasileiras contra o patriarcado e suas escoras, tipo o racismo. Nas redes
sociais da web, a insatisfação se avolumou, e o ativismo de sofá chegou às
ruas.
Não farei uma análise, apenas um registro para que
cada pessoa avalie e forme a sua opinião. Sabe-se que “o conservadorismo
político não está necessariamente associado a conservadorismo em matéria de
costumes” (Albertina Costa); todavia, a conjuntura na qual eclodiram as vozes
das mulheres é de pressão contínua do “jaguncismo político” pela manutenção do
status quo do conservadorismo político e de inclusão do ideário do
fundamentalismo religioso para todo mundo, como numa teocracia!
Tão logo as mulheres “botaram a boca no mundo”,
futurólogos bradaram: “Parece que as mulheres, antes dos políticos, vão
derrubar Eduardo Cunha”. É que presenciavam uma mobilização inesperada, que se
avolumava nas redes sociais, contribuindo para levar milhares de mulheres às
ruas em diversas capitais e cidades, sob a consigna “Pílula fica, Cunha sai”,
contra o Projeto de Lei 5.069/2013, do parlamentar neopentecostal e presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que cria entraves ao aborto previsto em lei
e à ministração da pílula do dia seguinte para vítimas de estupro, direitos
regulamentados no país!
(Juliana de Faria é jornalista formada pela PUC-SP e fundadora da OLGA)
(Literatura de Cordel exclusiva sobre o tema, em parceria com o Think Olga. Para receber, é necessário contribuir com o projeto, fazendo uma doação).
Pintou pedofilia. Ouçamos Juliana de Faria
(jornalista, fundadora do Think Olga e da campanha Chega de Fiu-Fiu): “Uma
menina de 12 anos se inscreve no programa de TV, pois ama cozinhar. Na
internet, homens se sentem atraídos por sua aparência e, ignorando sua idade,
resolvem tecer comentários de cunho sexual sobre a criança. O fato gera
revolta... Foi aí que nasceu a campanha #primeiroassédio. Convidamos nossas
leitoras a contar, pelas redes sociais, a história da primeira violência sexual
que sofreram”.
E Simone de Beauvoir no Enem 2015, tema que abordei em
“O poder de ‘O Segundo Sexo’, de Simone de Beauvoir, hoje” (O TEMPO,
3.11.2015)? Por pouco, os misóginos de cá não exigiram a exumação do corpo dela
para queimá-lo numa fogueira!
(Antonia Pellegrino)
(Manoela Miklos)
E
a maré de sizígia cresceu mais! A escritora Antonia Pellegrino e Manoela
Miklos, doutora em relações internacionais, criaram o projeto
#AgoraÉQueSãoElas, “em que mulheres ocupam o espaço de escritores e jornalistas
homens durante uma semana”. Demos um banho de vozes escritas. Perdi a conta do
tanto que li, e ainda não li tudo! Fiquei maravilhada. A luta feminista não é
em vão!
No bojo de tudo, a denúncia da atriz Taís Araújo do
racismo sofrido nas redes sociais desde 31.10, que acolhida pelas autoridades,
colocou as medidas cabíveis em curso. Exigimos que justiça seja justa!
Ocorreu
também no período o recrudescimento das ameaças de estupro e morte, iniciadas
em 2012, à professora Lola Aronovich, do Departamento de Letras Estrangeiras da
Universidade Federal do Ceará, que mantém o blog feminista Escreva, Lola, Escreva desde 2008. Ela foi incansável em fazer boletins de ocorrência, e as
autoridades têm feito ouvidos de mercador. Agora, as coisas podem mudar. Ela
conseguiu explodir a “bolha” patriarcal que encarcera feminista que ousa ser
livre-pensadora e tem recebido solidariedade expressiva de amplos setores da
sociedade – reconhecimento de que o feminismo faz política!
(DUKE)
PUBLICADO
EM 10.11.15
FONTE: OTEMPO
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