Em 2009, éramos 75 milhões de despossuídas de cidadania plena
Fátima
Oliveira
Médica –
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Em 1992,
em Santo Domingo, na República Dominicana, realizou-se o 1º Encontro de
Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas
decisões: a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e
Afro-caribenhas e a definição do 25 de julho como Dia da Mulher
Afro-latino-americana e Caribenha. A data objetiva ser um polo de aglutinação
internacional da resistência das negras à cidadania de segunda categoria na
região em que vivem, sob a égide das opressões de gênero e racial-étnica, e
assim “ampliar e fortalecer as organizações e a identidade das mulheres negras,
construindo estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo”.
Em 2009,
estimava-se que na região (América Latina e Caribe) éramos em torno de 75
milhões de negras – cidadãs despossuídas de cidadania plena, logo faltam
esforços no âmbito dos governos para a efetivação dos nossos direitos humanos.
Embora partícipes das lutas das mulheres em geral, incluindo as comemorações
alusivas ao Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, nós, as negras
feministas, sabemos que é preciso uma data toda nossa a partir da compreensão
de que não há uma mulher universal. Entre as mulheres há fossos de classe e racial-étnico;
e a “sororidade” entre as mulheres é algo que não existe. Então, temos de estar
na luta por nossa própria conta.
Abordarei
dois tópicos sobre a vida das negras brasileiras. O primeiro é a recente
reunião da presidenta Dilma Rousseff, no último dia 19, com representantes de
19 organizações do movimento negro, com a presença dos ministros Gilberto
Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, Aloizio Mercadante,
da Educação, Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), e do chefe da Assessoria Especial da Secretaria Geral da
Presidência da República, Diogo Sant’ana. “De acordo com a ministra Luiza
Bairros, foram abordados temas que fazem parte da agenda do movimento, como a
reafirmação do compromisso do governo federal para combater a discriminação
racial, além de reconhecer o racismo institucional e reforçar o ensino da
cultura africana nas escolas para promover a igualdade”.
É a primeira vez que
a presidenta nos ouve.
Mas parece que
ninguém abriu a boca
para falar em saúde
da população negra,
lacuna grave.
a presidenta nos ouve.
Mas parece que
ninguém abriu a boca
para falar em saúde
da população negra,
lacuna grave.
Se não
estou enganada, é a primeira vez que a presidenta nos ouve presencialmente.
Pelo que li até agora, considerei a reunião boa, pero... faltou Padilha! E
parece que ninguém abriu a boca para falar em saúde da população negra, lacuna
grave num momento em que o SUS está envolvido em um debate acirrado. Para o
pesquisador Marcelo Paixão, 80% dos negros se internam pelo SUS. Todo mundo
reclama que a Rede Cegonha não dá a mínima para o recorte racial/étnico e não
há santo que a faça avançar. E perdemos a chance de dizer de viva voz à
presidenta que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra está
enterrada com uma caveira em algum canto do Ministério da Saúde, um descaso que
eu sei que ela não sabe! Elementar: ou manda Padilha transversalizar o recorte
racial/étnico em todas as ações da saúde, ou admite a omissão.
Se os compromissos adquirirem logo
materialidade, é um bom começo, além do que há algo muito simples que um
governo antirracista precisa fazer, que não foi assumido, mas basta vontade
política: entender que “Só combater a pobreza é pouco para debelar o racismo” (OTEMPO, 26.4.2011), porque pobreza é uma coisa e racismo é outra; e embora
possam estar juntas, possuem dinâmicas diferentes! De modo que urge que o
governo Dilma seja mais antirracista em atos.
PUBLICADO EM 23.07.13
FONTE: OTEMPO
Indicação de leitura: Saúde da População Negra BRASIL, ANO 2001 - Fátima Oliveira
Adorei! O Padilha realmente não se dá conta da importância da saúde da população negra
ResponderExcluirFátima foi bem na ferida racista que persiste no Ministério da Saúde
ResponderExcluirTá avalendo Fátima Oliveira. Acabei de copiar teu livro. Lerei com atenção e sofreguidão
ResponderExcluirA Fátima botou quente. Se eu fosse o Padilha, entregava o cargo
ResponderExcluirAntes tarde do que nunca. Entendi que a reunião foi boa. Uma pena Padilha não estar presente para ser pressionado até chorar
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