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terça-feira, 23 de julho de 2013

25 de julho: Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe


Em 2009, éramos 75 milhões de despossuídas de cidadania plena

Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_

 
Em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas decisões: a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do 25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha. A data objetiva ser um polo de aglutinação internacional da resistência das negras à cidadania de segunda categoria na região em que vivem, sob a égide das opressões de gênero e racial-étnica, e assim “ampliar e fortalecer as organizações e a identidade das mulheres negras, construindo estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo”.
Em 2009, estimava-se que na região (América Latina e Caribe) éramos em torno de 75 milhões de negras – cidadãs despossuídas de cidadania plena, logo faltam esforços no âmbito dos governos para a efetivação dos nossos direitos humanos. Embora partícipes das lutas das mulheres em geral, incluindo as comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, nós, as negras feministas, sabemos que é preciso uma data toda nossa a partir da compreensão de que não há uma mulher universal. Entre as mulheres há fossos de classe e racial-étnico; e a “sororidade” entre as mulheres é algo que não existe. Então, temos de estar na luta por nossa própria conta.
Abordarei dois tópicos sobre a vida das negras brasileiras. O primeiro é a recente reunião da presidenta Dilma Rousseff, no último dia 19, com representantes de 19 organizações do movimento negro, com a presença dos ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, Aloizio Mercadante, da Educação, Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), e do chefe da Assessoria Especial da Secretaria Geral da Presidência da República, Diogo Sant’ana. “De acordo com a ministra Luiza Bairros, foram abordados temas que fazem parte da agenda do movimento, como a reafirmação do compromisso do governo federal para combater a discriminação racial, além de reconhecer o racismo institucional e reforçar o ensino da cultura africana nas escolas para promover a igualdade”.
 
 
É a primeira vez que
a presidenta nos ouve.
Mas parece que
ninguém abriu a boca
para falar em saúde
da população negra,
lacuna grave.

 
Se não estou enganada, é a primeira vez que a presidenta nos ouve presencialmente. Pelo que li até agora, considerei a reunião boa, pero... faltou Padilha! E parece que ninguém abriu a boca para falar em saúde da população negra, lacuna grave num momento em que o SUS está envolvido em um debate acirrado. Para o pesquisador Marcelo Paixão, 80% dos negros se internam pelo SUS. Todo mundo reclama que a Rede Cegonha não dá a mínima para o recorte racial/étnico e não há santo que a faça avançar. E perdemos a chance de dizer de viva voz à presidenta que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra está enterrada com uma caveira em algum canto do Ministério da Saúde, um descaso que eu sei que ela não sabe! Elementar: ou manda Padilha transversalizar o recorte racial/étnico em todas as ações da saúde, ou admite a omissão.
 
   Se os compromissos adquirirem logo materialidade, é um bom começo, além do que há algo muito simples que um governo antirracista precisa fazer, que não foi assumido, mas basta vontade política: entender que “Só combater a pobreza é pouco para debelar o racismo” (OTEMPO, 26.4.2011), porque pobreza é uma coisa e racismo é outra; e embora possam estar juntas, possuem dinâmicas diferentes! De modo que urge que o governo Dilma seja mais antirracista em atos.  
 
A petista Dilma Rousseff a noite, participa ao lado de mãe de santo de encontro do movimento negro organizado pelo PT
A petista Dilma Rousseff a noite, participa ao lado de mãe de santo de encontro do movimento negro organizado pelo PT (Campanha eleitoral 2010)
PUBLICADO EM 23.07.13
estatuto_igualdade_racial_agbrasilFONTE: OTEMPO
Indicação de leitura:  Saúde da População Negra BRASIL, ANO 2001 - Fátima Oliveira 

5 comentários:

  1. Adorei! O Padilha realmente não se dá conta da importância da saúde da população negra

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  2. Fátima foi bem na ferida racista que persiste no Ministério da Saúde

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  3. Tá avalendo Fátima Oliveira. Acabei de copiar teu livro. Lerei com atenção e sofreguidão

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  4. A Fátima botou quente. Se eu fosse o Padilha, entregava o cargo

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  5. Antes tarde do que nunca. Entendi que a reunião foi boa. Uma pena Padilha não estar presente para ser pressionado até chorar

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