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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Do tempo em que ler "O Pequeno Príncipe" era obrigação


Hoje, é rara a pessoa com menos de 30 anos que o leu
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br

Quando eu era adolescente, a resposta clássica a qualquer entrevista de uma candidata a miss que se prezasse - o concurso de Miss Brasil arrastava multidões e tinha prestígio - é que "O Pequeno Príncipe" era o seu livro de cabeceira! Nem pensar numa miss que não lera o célebre livro de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), piloto da Segunda Guerra Mundial, escritor e ilustrador francês, que aos 44 anos, pilotando um avião militar, foi abatido pelos alemães, num voo de reconhecimento entre Grenoble e Annecy, na França. Era julho de 1944. Em 2004, os destroços de seu avião foram encontrados na costa de Marselha.


 
As aspirantes a miss banalizaram um livro, literária e filosoficamente, precioso, cuja leitura era obrigatória em meu tempo de ginasiana. É rara a pessoa com menos de 30 anos que o leu. No máximo conhece algumas de suas belas e filosóficas frases que pululam na web. Já faz tanto tempo em que crianças e jovens liam Saint-Exupéry por obrigação e depois se encantavam com ele para sempre. Em geral, quando falo sobre o tema, ouço: "É a nova! Do tempo em que era obrigatória a leitura de  Pequeno Príncipe!".



Lamento que não seja mais. Por vários motivos. Um deles é que "O Pequeno Príncipe" é uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e nos ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista, mas no horizonte: "O que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em algum lugar". Outra razão, é que livros como ele são companhias prazerosas e enriquecedoras a qualquer momento. É engano considerá-lo piegas, apesar de que pieguice tem serventia e hora - nem sempre é coisa boba, condenável ou execrável, podendo, inclusive, ser terapêutica.

Dilma Rousseff é entrevistada pela TV Record  Foto: Roberto Stuckert Filho/Divulgação
Primeira entrevista da presidenta Dilma Rousseff, à Rede Record de Televisão, em 01.11.2010

[...É uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e nos ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista, mas no horizonte"].

"O Pequeno Príncipe" expressa uma visão de mundo decente e nele há insumos que se prestam com propriedade para adoção no cenário da política. Alguns cabem como uma luva para a conjuntura política brasileira. Se eu fosse conselheira da presidente Dilma Rousseff diria que ela deveria sugerir ao vice-presidente Michel Temer sessões de biblioterapia - o livro como recurso terapêutico - para o PMDB, usando "O Pequeno Príncipe", com convites extensivos a alguns parlamentares e ministros do PT e da "base aliada". No momento, é a única vereda que vislumbro para dar algum lustro ético ao PMDB e dotá-lo de sensibilidade para minorar a petulância partidária e estimular o amor ao povo brasileiro. O que pode ser aprendido com os diálogos da raposa com o Pequeno Príncipe: "Para enxergar claro, basta mudar a direção do olhar", e que "só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos".




Sempre que releio "O Pequeno Príncipe" descubro algo arrebatador. Nunca deixo de ler a dedicatória: "Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande/ Tenho uma desculpa séria: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo./ Tenho uma outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança./ Tenho ainda uma terceira: essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todas essas desculpas não bastam, eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi./ Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se lembram disso)./ Corrijo, portanto, a dedicatória: A Léon Werth, quando ele era pequenino".


Ninguém lê "O Pequeno Príncipe" e continua a mesma pessoa.


Publicado no Jornal OTEMPO em 08.02.2011
FONTE: www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=14234

LEIA TAMBÉM COMENTÁRIOS EM: Fátima Oliveira aconselha Dilma a sugerir a Temer a leitura de “O Pequeno Príncipe”
www.viomundo.com.br/voce-escreve/fatima-de-oliveira-aconselha-dilma-a-sugerir-a-temer-a-leitura-de-o-pequeno-principe.html




livre, Antoine et Consuelo de Saint Exupéry, Un amour de légende
Antoine de Saint-Exupéry com a esposa Consuelo Suncin de Sandoval (1901-1979, escultora e pintora)









Estátua de Saint-Exupéry com o Pequeno Príncipe, em Lion, França



Uma flor única no mundo!

[origami de Eva Duarte]


20 comentários:

  1. Fantástico, em homenagem a Saint-Exupéry e como conselho pra nossa presidenta

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  2. COMENTÁRIO DE MINHA FILHA LÍVIA, em O TEMPO

    Muito bom! Detalhe: Eu li O Pequeno Príncipe...rs! Vou guardar essa para a Clarinha, pois na nossa família ler O Pequeno Príncipe continua obrigatório e lendo essa crônica ela entenderá perfeitamente porque...rs! Bjos vovó! 08/02/2011 - 09h29 Lívia Oliveira São Luís-MA http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=14234

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  3. Fátima Oliveira faz política sem perder a ternura

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  4. ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY

    Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry filho do conde e condessa de Foscolombe (29 de junho de 1900, Lyon - 31 de julho de 1944, Mar Mediterrâneo) foi um escritor, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial.

    Faleceu durante uma missão de reconhecimento sobre Grenoble e Annecy. Em 3 de novembro, em homenagem póstuma, recebeu as maiores honras do exército. Em 2004, os destroços do avião que pilotava foram achados a poucos quilômetros da costa de Marselha. Seu corpo jamais foi encontrado.

    Suas obras foram caracterizadas por alguns elementos em comum, como a aviação, a guerra. Também escreveu artigos para várias revistas e jornais da França e outros países, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França.

    No entanto, deve-se dar uma atenção a este último, O pequeno príncipe (O Principezinho, em Portugal) (1943), romance de maior sucesso de Saint-Exupéry. Foi escrito durante o exílio nos Estados Unidos, quando fez visitas ao Recife. E para muitos era difícil imaginar que um livro assim pudesse ter sido escrito por um homem como ele.

    O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.

    É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

    Principais Obras
    O aviador (1926);
    Correio do Sul (1928);
    Vôo Noturno (1931);
    Terra de Homens (1939);
    Piloto de Guerra (1942);
    O Pequeno Príncipe (br) - O Principezinho (pt) (1943).
    Cidadela (1948)-
    Cartas ao Pequeno Príncipe

    http://www.paralerepensar.com.br/exupery.htm

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  5. O Pequeno Príncipe foi escrito e ilustrado por Antoine de Saint-Exupéry um ano antes de sua morte, em 1944. Piloto de avião durante a Segunda Grande Guerra, o autor se fez o narrador da história, que começa com uma aventura vivida no deserto depois de uma pane no meio do Saara. Certa manhã, é acordado pelo Pequeno Príncipe, que lhe pede: "Desenha-me um carneiro"? É aí que começa o relato das fantasias de uma criança como as outras, que questiona as coisas mais simples da vida com pureza e ingenuidade. O principezinho havia deixado seu pequeno planeta, onde vivia apenas com uma rosa vaidosa e orgulhosa. Em suas andanças pela Galáxia, conheceu uma série de personagens inusitados – talvez não tão inusitados para as crianças!

    Um rei pensava que todos eram seus súditos, apesar de não haver ninguém por perto. Um homem de negócios se dizia muito sério e ocupado, mas não tinha tempo para sonhar. Um bêbado bebia para esquecer a vergonha que sentia por beber. Um geógrafo se dizia sábio mas não sabia nada da geografia do seu próprio país. Assim, cada personagem mostra o quanto as “pessoas grandes” se preocupam com coisas inúteis e não dão valor ao que merece. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase da raposa, personagem que ensina ao menino de cabelos dourados o segredo do amor: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

    Antoine de Saint-Exupéry via os adultos como pessoas incapazes de entender o sentido da vida, pois haviam deixado de ser a criança que um dia foram. Entendia que é difícil para os adultos (os quais considerava seres estranhos) compreender toda a sabedoria de uma criança.

    Desta fábula foram feitos filmes, desenhos animados, além de adaptações. Muitos adultos até hoje se emocionam ao lembrar do livro. Talvez porque tenham se tornado “gente grande” sem esquecer de que um dia foram crianças.

    "As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"
    (Antoine de Saint-Exupéry)
    http://www.paralerepensar.com.br/exupery.htm

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  6. "O Amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte".

    "O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção."

    "Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante."

    " Não exijas de ninguém senão aquilo que realmente pode dar."

    "Em um mundo que se fez deserto, temos sede de encontrar companheiros."

    " Nunca estamos contentes onde estamos."

    " Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas."

    "Para enxergar claro, bastar mudar a direção do olhar."

    " Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."

    " Sois belas, mas vazias. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus a redoma. Foi a ela que abriguei com o para-vento. Foi dela que eu matei as larvas. Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa."

    " Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"

    " Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."

    " O amor verdadeiro não se consome, quanto mais dás, mais te ficas."

    " Só os caminhos invisíveis do amor libertam os homens.

    " O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem."

    "Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla."

    "Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas." (Antoine de Saint-Exupéry)

    "ACASO

    "Cada um que passa em nossa vida,
    passa sozinho, pois cada pessoa é única
    e nenhuma substitui outra.
    Cada um que passa em nossa vida,
    passa sozinho, mas não vai só
    nem nos deixa sós.
    Leva um pouco de nós mesmos,
    deixa um pouco de si mesmo.
    Há os que levam muito,
    mas há os que não levam nada.
    Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
    e a prova de que duas almas
    não se encontram ao acaso. "

    (Antoine de Saint-Exupéry)



    "A civilização é um bem invisível porque inscreve seu nome nas coisas",
    E suas últimas palavras antes de embarcar na missão final e fatal: "Se voltar, o que será preciso dizer aos homens?"

    Ele escreveria que "durante séculos e séculos a minha civilização contemplou Deus através dos homens. O homem era criado à imagem de Deus. Respeitava-se Deus no homem. Esse reflexo de Deus conferia uma dignidade inalienável ao homem", para concluir que "as relações do homem com Deus serviam de fundamento evidente aos deveres do de cada homem consigo próprio ou para com os outros".

    "Havia, em algum lugar, um parque cheio de pinheiros e tílias, e uma velha casa que eu amava. Pouco importava que ela estivesse distante ou próxima, que não pudesse cercar de calor o meu corpo, nem me abrigar; reduzida apenas a um sonho, bastava que ela existisse para que a minha noite fosse cheia de sua presença. Eu não era mais um corpo de homem perdido no areal. Eu me orientava. Era o menino daquela casa, cheio da lembrança de seus perfumes, cheio da fragrância dos seus vestíbulos, cheio das vozes que a haviam animado."
    (Antoine de Saint-Exupéry)
    http://www.paralerepensar.com.br/exupery.htm

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  7. Eliane Gonçalves Melo8 de fevereiro de 2011 às 14:50

    É um lindo post

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  8. Entendi o recado político, mas fiquei encantada com a crônica e suas imagens

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  9. Querida Dra. Fátima Oliveira, não é à-toa que eu admiro tanto e que você se tornou uma das grandes formadoras de opinião das Minas Gerais. Só você com sua voz confiável, porque verdadeira e ética, vem a público reabilitar O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, um dos classicos da literatura universal, que foi avacalhado nos anos 60, 70 e 80 do século passado quando era citado pelas misses, como verniz cultural (todas diziam mesmo que haviam lido e era a literatura de cabeceira); e a senhora ainda pinta e borda em sua bela crônica ao sugerir à presidenta Dilma que indique P Pequeno Príncip epara sessões de biblioterapia do PMDB e et caterva. Estou rindo desde a hora em que li sua crônica hoje pela manhã em O TEMPO, a quem parabenizo por tê-la como colunista semanal.

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  10. Catarina Alencar Seixas8 de fevereiro de 2011 às 19:32

    Dra. Fátima Oliveira, sua cabeça é muito criativa.

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  11. Gilmar Pereira dos Santos8 de fevereiro de 2011 às 21:14

    Apenas cumprimentá-la pela clareza política

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  12. É de pessoas como voce, com seus conselhos e pensamentos que está faltando na nossa conjuntura política.

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  13. Uma felicidade ler um artigo de quem não perdeu a garra e nem a ternura

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  14. Conterrânea você é brilhante e não nega fogo

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  15. Maranhence seus textos são demaissss, Adoroooo.Como você esceveu:"Ninguém lê o Pequeno Príncipe e continua a mesma pessoa."
    Será se Temer mudaria?

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  16. um texto doce, gostoso e político o bastante para dar um tapa de luva de pelica nessa gente fisiológica

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  17. Gosto de suas crônicas. Agora virei frequentador do seu blogue

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  18. Érica Brandão Chaves17 de fevereiro de 2011 às 20:30

    Dra. Fátima Oliveira, amei a sua crônica!

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