(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Muito já foi escrito de 2 de outubro para cá sobre a
reforma ministerial efetivada pela presidente Dilma Rousseff. E antes também,
sobre quem ficaria e quem sairia, referente a ministérios e a quem ocuparia as
pastas remanescentes.
Muito choro e ranger de dentes, desesperança e
desânimo entre pessoas que apoiam o governo. Li bastante sobre o assunto,
declarações favoráveis e desfavoráveis, para embasar a minha opinião na
presente tentativa de análise de perdas e ganhos, ainda inicial e sem
pretensões de esgotar o tema, que é vasto, complexo e eivado de paixões.
Tentei manter algum distanciamento das áreas nas quais
tenho uma história militante: opressão da mulher, opressão racial/étnica e
saúde, sobretudo a defesa do SUS – as mais ceifadas, inegavelmente, pela
reforma ministerial. Parecia um pesadelo, mas era realidade, e ela se impôs.
A entrega do Ministério da Saúde (de porteirafechada?) a quem nunca deu um prego numa barra de sabão em defesa do SUS, ao
contrário, é surreal! Considero fora de propósito e um equívoco ideológico e
político a junção da Secretaria da Mulher com a Secretaria de Promoção da
Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos Humanos, configurando o Ministério
das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que vejo como um ministério mala
e, como tal, de pouca serventia, mas ter Nilma Lino como ministra é um alento.
Desanquei o patriarcado, que está vivíssimo e mostrou
bem suas garras; o racismo é uma fé bandida e se mostrou de dentes
arreganhados; e repeti à exaustão que saúde não é moeda de troca, mas foi, e
para mãos não confiáveis! Quer mais? Não vou enumerar tudo para não sangrar
mais minhas feridas. Me poupe: “Tire o seu sorriso do caminho/ Que eu quero
passar com a minha dor” (“A Flor e o Espinho”, de Nelson Cavaquinho, Guilherme
de Brito, Alcides Caminha).
Estou desde sexta-feira passada dando chiliques e
pedindo “meus sais”! Maldisse Altamiro Borges, que teve o topete de escrever
“Reforma ministerial desanima os golpistas”; maldisse Ricardo Kotscho e seu
lúcido “Dilma sai das cordas; oposição apoia Cunha”; e maldisse o editorial do
Portal Vermelho, que, com serenidade irritante, diz, sob o título “Reformaministerial e a nova maioria pelo desenvolvimento”: “A reforma ministerial foi
uma importante vitória do governo liderado pela presidente Dilma... Uma reforma
da administração e uma recomposição do ministério, dentre outras medidas
importantes”.
Um esforço que faço quando estou numa encruzilhada
política é ter como guia uma visão panorâmica, no caso a conjuntura brasileira.
Para tanto, recorro à metáfora de uma árvore que plantei – ela é minha – numa
floresta pegando fogo!
A conjuntura nacional é uma floresta ameaçada pelo
fogo, e as minhas áreas de militância são as minhas árvores que estão na
floresta ameaçada de virar cinza. Lembrem-se de que, naquela floresta, eu tenho
três árvores, a saber: as lutas pelos direitos da mulher, pela igualdade racial
e pelo SUS! O que fazer?
É evidente que, se eu desejar preservar tão somente as
“minhas árvores”, sem a preocupação de defender toda a floresta, corro o risco
de perder as “minhas árvores” e toda a floresta!... De modo que urge que eu
tenha honestidade intelectual de ver as “minhas árvores” como parte da floresta
que está em chamas.
Maldisse todos que li e que me forçaram a ver a floresta
que estava pegando fogo e um incêndio sendo contido. Resta-me o consolo dos
versos de Brecht (1898-1956): “Fôssemos infinitos/ Tudo mudaria/ Como somos
finitos/ Muito permanece”.
PUBLICADO
EM 06.10.15
FONTE:
OTEMPO
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