Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
Optar pela vida simples é adotar uma filosofia na qual modismos e supérfluos não dão o tom. O difícil é explicar a decisão de simplificar a vida. “A simplicidade voluntária, diferentemente da pobreza, que é imposta, é um estilo de vida escolhido”, alicerçado pela filosofia de dois movimentos focados na sustentabilidade: o “slow food” e o “slow fashion”; na reciclagem e produção mínima de lixo.
Para o Movimento Slow Food, fundado em 1986 por Carlo Petrini, comer bem é um direito humano. Defende a herança, as tradições e culturas culinárias e tem como princípio o direito ao prazer da alimentação, por meio de produtos artesanais de qualidade especial, produzidos com respeito ao meio ambiente e aos produtores (“De pegada carbônica, filosofia slow food e ecogastronomia”, O TEMPO, 8.9.2009).
O Movimento Slow Fashion, criado por Kate Fletcher, do Centro de Moda Sustentável, é uma alternativa ao consumismo e busca unificar “eco”, “ética” e “verde”: qualidade, longevidade, atemporalidade, customização e o resgate do “vintage” – não basta ser antigo para ser “vintage”, que em moda é vocábulo usado para roupas originais de uma dada época. A moda retrô é roupa nova inspirada em moda antiga.
O “slow fashion” é um estilo sustentável que está na contramão do estabelecido nos anos 80, as “fast-fashion” – moda rápida, “design” moderno e baixo preço, que não é “sulanca”, mas jamais “alta-costura”, que chega às vitrines das grandes lojas, como Zara, Riachuelo, C&A e similares.
Nunca fui escrava da moda. Há anos o meu desejo de entrar numa loja para comprar roupa é quase zero. Passo um ano ou mais sem adquirir nenhuma peça. Sempre fui sustentável no vestir e compreendo que a “roupa fala”: diz do meu estado de espírito. Uso roupas com cara de novas, que comprei há 20 anos ou mais, até para festas! Amo moda à la Woodstock: a antimoda “hippie”, a neohippie, a hippie pop – quase obra de arte, de visual despretensioso com ar de “desleixo chique”.
Trilho o caminho da simplicidade voluntária com conforto – uma vida básica e/ou simples, sem as penúrias da pobreza e “canhenguices” franciscanas – aqui no Paranã profundo, na zona rural da ilha de São Luís, na estrada de Ribamar, em Paço do Lumiar (MA), num chalezinho de campo, a bem da verdade um “loft” bem transado, de dois quartos, dois banheiros, com jardim, piscina e um quintalzinho com uma hortinha – num lote de 10 m x 25 m (logo, não é um sítio!), de onde acesso em poucos minutos várias praias, as melhores e menos poluídas da ilha, por estradas asfaltadas. Ah, e aprendendo a domar a gana de estocar coisas (tenho tendências acumuladoras...), inclusive alimentos, perecíveis ou não, para além de 15 dias. A minha compra é minúscula e bem seletiva, apenas para uma pessoa!
É inenarrável acordar pela manhã e dar comida aos pássaros livres, cuidar das plantas – quase 100% dos meus muitos vasos são reciclados (garrafas PET, caixas de leite e de suco, latas, etc.), pero...
Muita gente recrimina silenciosamente, com olhares longos, misto de admiração e incredulidade, ao mirar o meu cafofo, que mais parece uma casinha de boneca, que intriga muito a minha neta... “Mas, vó, por que a tua casa não é de tijolo, como a de todo mundo?”
Ao resgatar as baterias de cozinha (paneleiros) das minhas ancestrais, Clarinha, ao vê-las, tascou: “Vó, tu não achas que as panelas ficam melhor no armário?” Depois de muitas risadas, contei uma linda história do sertão, do tempo das panelas “areadas” com tabatinga, anterior ao Bombril...
(DUKE) PUBLICADO EM 13.01.15FONTE: OTEMPO
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