Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
Eu só vejo vantagens
em eleições. Gosto da época do pleito desde criança. Cresci vendo a muvuca das
eleições em minha casa, nos grotões do Maranhão, lá em Graça Aranha, onde papai
foi vereador duas vezes. Já relatei como mamãe era terrível em dia de eleição!
Relembrem:
“Mamãe recebia os
caminhões, distribuía um papelzinho e levava o povo pra votar. Era o terror das
seções eleitorais. Muito simpática, abordava mais mulheres, dizia: ‘Deixa ver
se tá levando o papel certo’. Se não era dos candidatos dela, bradava: ‘Num é
esse não! Pega o certo!’ E, de braço dado, ia com a pessoa até a entrada da
seção. Boca de urna de 100%. Papai era dos mais votados.
“Ela sabia, certinho,
os votos dele em cada urna! Dias antes, fazia serão escrevendo à mão os tais
papeizinhos, acho que eram números, que no dia da eleição carregava dentro do
sutiã. Ainda adora eleições, mas diz que hoje são sem graça. Tem razão.
Impossível reproduzir a sua boca de urna. Adoro eleições porque insisto em
sonhar”. (“Nas eleições, se não acredita, eu vou sonhar pra você ver”, O TEMPO,
20.4.2010).
O período eleitoral é
momento singular da luta por mais democracia e cidadania e também de muitas
esperanças... As pessoas estão sempre a desejar mais e mais daquilo que
signifique algum conforto adicional em suas vidas, a exemplo de transporte
público de qualidade, boas escolas, bom atendimento na assistência à saúde e
tudo o mais que torne a vida mais digna.
O dito “povão” não
exige nada de mais da Presidência da República, de governos de Estado nem de
prefeitos, apenas aquilo a que tem direito. O outro lado da questão em tela é
que os candidatos em geral demonstram não saber qual a função deles, uma vez
eleitos. Por que será, hein?
Imagino que numa
sociedade mais evoluída serão abolidas as tais propostas de programa de
governo. Não sei como, mas deve haver um jeito! Algo tipo uma consulta popular
sobre as necessidades mais prementes da população, e o resultado seria elencado
como o programa daquela cidade, daquele Estado ou país. Ou seja, bem diferente
do que hoje que a candidatura diz: “vou fazer, isso, aquilo etc.”.
Caberia às
candidaturas demonstrar quem é mais confiável para executá-lo. Cada pessoa
votaria em quem a convenceu de que seria o melhor para materializar aquelas
demandas... Ah, e o compromisso de finalizar todas as obras de seu antecessor!
Porque é costume abandonar obras públicas tão somente porque terminá-las
significa avalizar o trabalho iniciado por outrem...
Depois de muito pensar
e pensar, avalio que seria a única maneira de enterrarmos a ideia de quem se
elege para o Executivo (Presidência da República, governo de Estado e
prefeitura) acreditar que foi ungido para receber um cheque em branco da
população e, uma vez aboletado no poder, faz o que bem lhe aprouver, como
acontece hoje em dia. É que eleitos para o Executivo tendem a achar que são
imperadores e se danam a fazer o que lhes dá na telha! Agem como donos do lugar
e como se tudo devesse obedecer aos seus desejos pessoais. Chega a ser
acintoso!
Tenho a impressão de
que o cansaço que as pessoas demonstram em época de pedição de voto tem a ver
com o tradicional comportamento de dono de quem ocupa os postos máximos do
Executivo. É tão forte que muita gente se irrita e diz: “Tanto faz votar em
qualquer um, porque são todos iguais depois de eleitos!”. Quem duvidar faça a
sua própria experiência, dando-se ao trabalho de andar de ônibus e/ou de táxi
para sentir o pulsar das ruas nas eleições: é de descrença e desânimo.
PUBLICADO EM 22.07.14
FONTE: OTEMPO
Gostei de suas ideias. Estou de acordo com elas. Governante tinha de obedercer às necessidades do povo
ResponderExcluirAmada, que cabeça maravilhosa a sua. Cada vez melhor. Parabéns
ResponderExcluirEu até ri, mas gostei bastante de suas pensações
ResponderExcluirEu também gosto de eleições porque elas me fazem sonhar
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