Até parece que a negritude é empecilho à santidade!
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Nhá Chica, a santinha de Baependi, eu sempre soube que era uma mulher negra. Foram uma surpresa os comentários sobre o embranquecimento de sua imagem, entronizada na igreja de Nossa Senhora da Conceição, no dia de sua beatificação (4 de maio de 2013).
[A imagem de Nhá Chica esculpida pelo artesão Osni Paiva, renomado santeiro de São João Del Rei (MG)]Não há dúvida de que Nhá Chica era negra. Mas por que a imagem não a retrata como negra? Eu não vi a imagem, apenas fotos, mas quem viu diz que ela é fenotipicamente (aparência) branca. Fiquei indignada! Estou disposta a ir a Baependi conferir. Como se diz no Maranhão: “Ver de perto pra contar de certo”. Se a embranqueceram, foi uma prática
racista!
(Altar da Igreja da Imaculada Conceição recebe a Imagem de Nhá Chica)
[(Ana Lúcia Meirelles Leite diz que recebeu graça de Nhá Chica e se curou de problema no coração (leia sobre o milagre)]
Por que estou interessada na santa, já que nem religião tenho?
Acho fascinante a figura de Nhá Chica. Contam tantas histórias sobre ela, seu misticismo, a livre opção celibatária, o amor incomensurável aos pobres, a prática de um catolicismo popular respeitado e a construção da igrejinha para a santa de sua devoção, sem nenhuma ajuda do catolicismo oficial...
(Cecília Teresa Prudente Foto: Samantha Silva / G1)
("NHÁ CHICA", Francisca Paula de Jesus, quadro entalhado na madeira, do escultor: Rogério Rocha. Foto de José Antônio de Ávila)
Ela é a primeira “quase” santa nascida no Brasil (para a Santa Sé), a primeira santa negra brasileira (para o povo), logo uma referência importante para a população negra, sobretudo para quem professa o catolicismo. São tão raras as imagens de santos(as) negros(as) que até parece que a negritude é empecilho à santidade! A supremacia numérica dos santos brancos é asfixiante para pessoas negras. Eu acho! Enfim, uma santa negra para mostrar às nossas crianças.
Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, nasceu em 1808, na fazenda Porteira dos Vilellas, na região de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, no município de São João del Rei (MG), e faleceu em 14 de junho de 1895, em Baependi (MG). Pressupõe-se que tenha nascido escrava, já que era filha de uma: Izabel Maria, filha de Nhá Rosa, que veio de Benguela, em Angola, pois quando a Lei do Ventre Livre – que considerava livre a prole de mulher escrava nascida a partir da data da lei – foi promulgada, em 28 de setembro de 1871, Nhá Chica estava com mais de 61 anos! Ela morreu sete anos após a Lei Áurea (13 de maio de 1888).
Não há dúvida de
que Nhá Chica era
negra. Mas por que a
imagem não a retrata
como negra? Se a
embranqueceram, foi
uma prática racista!
Historiadores contam que Nhá Chica foi batizada em São João del Rei em 26 de abril de 1810 e que se mudou para Baependi aos 8 anos. Consta em seu site oficial que chegaram a Baependi a mãe de Nhá Chica, uma “ex-escrava” (comprou alforria ou foi alforriada?), o irmão Teotônio e, “com eles, poucos pertences e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição... Desde que se mudou para Baependi, Nhá Chica morou com a família numa casa humilde na antiga rua do Coqueiro – atual rua da Conceição, 165”. E que a mãe faleceu em 1818, quando Nhá Chica e o irmão estavam, respectivamente, com 10 e 12 anos de idade (www.nhachica.org.br)
Imagem de Nhá Chica ficará em Santuário de Nossa Senhora da Conceição (Foto: Reprodução EPTV)
(Nhá Cicha, a Sinhá do amor)
Sobre a mãe de Nhá Chica ter chegado a Baependi como ex-escrava e de ter comprado uma casa, ainda que simples, revela que ela não chegou lá de mãos abanando. Há algo meio misterioso aí, assim como em sua alforria e de seus filhos. Alguns dizem que ela foi alforriada por Chica da Silva. Isabel Maria foi escrava de Chica da Silva? Provavelmente não! Júnia Ferreira Furtado, em “Chica da Silva e o Contratador de Diamantes: O Outro Lado do Mito” diz que Chica da Silva teve muitos escravos e não alforriou nenhum!
História de Nhá Chica (vídeo)
http://youtu.be/KxJ4lITYe9Y
A Origem de Nhá Chica (vídeo)
http://youtu.be/qotzlNzRSE0
Fááááátima, arrepiei. Nh´Chica é uma santa negra, uai!
ResponderExcluirOração para Nhá Chica
ResponderExcluirDeus, nosso Pai, vos revelais as riquezas de vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes vossa serva Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: fé profunda, amor ao próximo e grande sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição. Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos….. (colocar suas intenções)
E dai-nos a alegria de vê-la elevada à honra dos altares. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
http://virgemimaculada.wordpress.com/2013/05/06/oracao-para-nha-chica/
ORAÇÃO À NHÁ CHICA
ResponderExcluirComposta por Marco Aurélio Rodrigues Dias (MARD)
Glorioso Deus e Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Imaculada Conceição, Nossa Senhora, seja bendita a minha casa porque nela entrou esta oração da Beata Nhá Chica.
A Beata Nhá Chica, em nome de Maria, multiplicava laranjas e pode multiplicar a felicidade da minha casa.
A Beata Nhá Chica, por Maria Santíssima, curava os doentes e pode curar as minhas enfermidades também.
A Beata Nhá Chica, em nome de Maria, alimentava os pobres e pode alimentar-me sempre na necessidade.
Ela, por Maria Santíssima, fez a terra parar de tremer e pode parar as aflições e os temores que me atormentam.
A Beata Nhá Chica, em nome de Maria, chamava o povo para fazer as orações e pode também, em nome da Sagrada Mãe, chamar a paz para habitar em minha casa. Amém!
Nhá Chica é uma sata do catolicismo popular e desde 1954 que a Igreja Católica se apoderou de seu legado. Eis a real história.
ResponderExcluirEu também achei a imagem branca. É um absurdo
ResponderExcluirPrezada Fátima, vc retirou o que estava entalando a minha garganta: Nhá Chica é negra! E a imagem é branca!
ResponderExcluirOsni Paiva entregou o produto que a Santa Sé encomendou! Tenho certeza!
ResponderExcluirFátima, como sempre você nos faz pensar e refletir com seus textos sempre bem elaborados. Nhá Chica é negra...a mídia a branqueou, é de se esperar num país ainda tão cheio de preconceito.Cheiros.
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ResponderExcluirdomingo, 1 de janeiro de 2012
Osni Paiva, produtor e defensor da história
Natália Resende
A história é como um quadro com moldura, que deve ser guardado.
“É um dom, e ele nasce com a gente”. Foi com esta resposta que o escultor são-joanense Osni Paiva iniciou a conversa, ainda meio acanhado, tremendo no sofá, como se aquela fosse a primeira entrevista de sua vida. Suas mãos, calejadas e com marcas de tinta, acompanhavam a batida das pernas, como se estivessem seguindo o ritmo de uma melodia.
Osni Paiva é escultor santeiro de São João del-Rei. Autodidata, interessou-se pela escultura ainda criança, com seis anos de idade, quando seu pai, dono de uma serraria trazia toquinhos para ele. “Minha família sempre me incentivou, principalmente devido a nossa religiosidade, produzir imagens sacras era e é um sinônimo de fé”.
Segundo Paiva inspiração para criar imagens sacras tão belas e expressivas surge da própria essência da madeira. “Meus santos já vem na madeira, eu simplesmente tenho que achá-los”. A procura é feita ao som de músicas sacras e barrocas, comenta. “Nossa cidade é privilegiada, respiramos o barroco. A inspiração está no ar presente em nossas Igrejas, com obras de grandes artistas como Mestre Cajuru e Valentim Correa Paes.”
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Não demorou muito para a conversa tomar outro rumo e a história de Osni se confundir com a do bairro de Matosinhos. “Eu nasci em Matosinhos e sou apaixonado pelo bairro; eu vi o fim da nossa história com a demolição da antiga Igreja; foi lastimável. Foi o fim da nossa memória e identidade; por isso resolvi fazer uma réplica da Igreja e tentar preserva - lá”.
O escultor menciona o fato da antiga Igreja de Matosinhos, construída em 1774, século XVIII, ter sido demolida, em 1970, devido à expansão do bairro e a necessidade de se ter uma paróquia que acompanhasse o desenvolvimento. A demolição ocorreu mesmo com o tombamento da Igreja, em 1935, como patrimônio histórico da cidade.
“Sou apaixonado pela a cultural local, o qual me foi passado pela oralidade dos meus pais, pelas festas deslumbrantes que ocorriam na Igreja. Por eu ser um apaixonado por história, foi um prato cheio”. O santeiro referia-se à construção, em seu quintal, da réplica da antiga Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em tamanho reduzido, mas que impressiona pela veracidade e riqueza dos detalhes.
Neste ponto, a entrevista já tinha se tornado uma aula de história na qual Osni demonstrava uma força em suas palavras, até então não revelada, misturando revolta e esperança. “Sou apaixonado pela história de São João del-Rei, sou barrista com orgulho, acho que primeiro temos que amar nossa história, conhecê-la bem, para depois ir ampliando. A gente não ama aquilo que não conhece. Às vezes, idolatramos monumentos e histórias estrangeiras e acabamos demolindo a nossa. A história é como um quatro com moldura que deve ser guardado, pois embeleza”.
Para finalizar, o escultor comenta que uma bela maneira de preservarmos nossa cultura, a fim de que atos como a demolição da antiga Igreja de Matosinhos não ocorram, é valorizando a educação. “Acho importante levar a criança no ambiente histórico, ela assimila e marca mais, valorizando hoje o trabalho de ontem, dando assim, continuidade a tradição oral, marca de nós mineiros”.
Osni mantém um trabalho voluntário no município de São Miguel do Cajurú (Cajuru), onde tenta recuperar a história local, por meio de pesquisas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e com a conscientização das crianças, nas escolas. Um dos artifícios adotados por ele é reconstruir momentos que marcaram a cidade com pequenas esculturas e divulgá-las para a comunidade.
www.observatoriodacultura.org/2012/01/osni-paiva-produtor-e-defensor-da.html