Dina Vaqueira com Luiz Gonzaga (1976) Vaqueira conta como desafiou Luiz ... |
João Guimarães Rosa, acompanhando a Boiada (Maio de 1952) Foto: Sielo.Brasil |
Ao descer na Fazenda Sabiá, por volta das seis horinhas, a Comitiva Matinha de Dona Lô foi recebida por uma saudação de aboios, som de viola e pipocar de foguetes. No ar, um cheirinho bom de queima do alho... Tudo cronometradinho, ao estilo Dona Lô.
Mal viu a patroa, Toco, o cozinheiro, foi logo dizendo: “Dona Lô, mudemos de ‘prano’... A janta vai ser carne fresca assada na brasa: churrasco de carneiro e de cabrito – e diz que ‘inda’ tem buchada de bode e de carneiro, cum fussura e tudo – oferenda de Seu Vicente, que não deixou que eu fizesse a janta conforme o combinado com Vosmicê!”
–...
– Ô véim invocado, sô! Foi logo dizendo: “De jeito maneira, quem arrecebe com muito prazer Dona Lô e sua comitiva é a Fazenda Sabiá, pois não? Guarde os teréns de cozinha da boiada pra usar na estrada! Marrapá, aqui é Vicente Campos quem arrecebe vocês, cum janta de fidalgo e café fornido bem de meanzinha, antes da partida”. – Ora Toco, cê sabe, “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”. E juízo você tem de sobra, não é meu preto? Tá certo! Vamos usufruir da hospitalidade dele. Guarde o cardápio de hoje pra gente jantar na chegada na Matinha, né não? E o cardápio da Fazenda Sabiá é comida farta, dá pra um batalhão. Vamos a ela, pois não?
Eis que aparece Seu Vicente com sua esposa: “Ô Dona Lô, essa aqui é minha dona, a Almerinda, filha duns cearenses que moraram lá nas terras de Vosmicê por muitos anos e “Merinda” foi uns tempos sua ama... É, tomei ela de Vosmicê...
– Merinda! Mamãe falava muito em você, mas eu não lembrava...
– Claro Dona Lô! Vosmicê era neném de engatinhar quando fui ser sua ama. Donana é minha madrinha de batismo. Adepois me engracei de Vicente, que era vaqueiro lá na Matinha, onde fez o pé de meia que nos garantiu a vida até hoje. E sai de lá quando Dona Lô tinha uns dois anos, não mais... Aí, com as estradas tudo ruinzinhas, quase nunca saio daqui. E tombém num podia: era uma barrigada enfiada na outra.
Cangalha com caçuá |
– Tive quinze filhos, Lô! Vingou tudo. Tá tudo vivo. Tudo encaminhado na vida. Tudo doutor na cidade grande. Tem de doutor de gente, doutor de bicho, doutor dentista, doutor “adevogado”, de tudo quanto há no mundo! Coisa de Donana que levou primeiro os dois mais velhos pra estudar lá na Imperatriz, mía fía. Daí com esse adjutório dela e de Doutozim Felipe Tropeiro, que deu o pontapé, os dois primeiros tomando conta dos mais “piquenos” e nosso suor aqui da roça, formemos a fiarada toda, lá no São Luís!
– ...
– Agora graças a Deus que tu comprou esse gadim que prendia a gente aqui. Vicente é teimoso que só ele; quer ficar socado aqui, mas eu, não! Tanto fiz que ele aceitou vender o resto de gadim que tem aqui, graças a Santa Luzia. Fiz promessa. Ano que vem vou vestida de Santa Luzia pra festa dela lá na Matinha, que nunca mais fui adespois que casei. Quero ir pro São Luís, mía fía, dengar meus netinhos. Tenho muitos, Lô! Uns trinta e tantos. Perdi a conta. Já vou ter bisneto. Quero mais ficar nesse mato, não! Vou folgar na beira da praia, né mia fía?
Todo mundo percebeu a emoção que tomou conta de Dona Lô... As lágrimas escorriam copiosas...
– Abaixo de Deus, aqui pra nós é madrinha Donana. Tenho até um retrato dela ali, que mandei pintar, pendurado na parede. Ela é que nem u’a santa em minha vida.
– Pois Vicente, deixe de “embuança”, abra uma cerveja pra nós, sô! Pra vê se paga um tiquim do que me deve, por ter roubado a minha ama! E eu nem sabia! Se soubesse teria pago menos pela boiada, descontado o que me deve... Se encheu dos cobres. Tá montado na bufunfa, c’os diachos! Vai pegar uma fresca na praia pro resto da vida! Tá esperando o quê?
Foi risada geral...
– Pois é Seu Vicente, quero lhe dizer que vou botar o nome de Solta Vicente Campos, lá na parte da Matinha de Dona Lô onde vai ficar a boiada de gado pé-duro que lhe comprei. Sua insistência a vida toda em só criar pé-duro é admirável. Praticamente hoje em dia ninguém faz isso!
– “Quêquisso” Madame! Pucardiquê? Eu birrei no pé-duro porque é um gado menos “trabaioso”, “mansim” e quase que se cria sozinho, sem muito lero. Basta dar as vacinas, um salzinho todo dia um tiquim, e pronto! É deitar na rede, balançar e dormir... A gente dorme e o gado engorda, a gente dorme e o gado engorda... Fica tudo famoso que dá gosto, sem doutor veterinário. Num precisa de jeito maneira! Doutor de pé-duro é eu, que crio; e que labutei a vida toda com pé-duro! Criar pé-duro é assim, na maciota. Eita vida boa, siá!
– Pucardiquê? Explica aí pra ele Mariá...
Gado pé-duro no curralGado Pé-duro vira patrimônio cultural do Piauí |
As mulheres da boiada (Dona Lô, Gracinha, Laura, Mariá, Helena, Sabrina, namorada do dr. Jonas, o veterinário) dormiram na casa de Merinda, que não teve acordo pra que elas dormissem “ao relento”, como ela disse.
– “Lô, aqui é um casão fía. Vem, espia!”.
E era! Mas o que mais chamou a atenção foi o tamanho dos dormitórios da filharada. O das meninas, que eram nove; e o dos meninos, que eram seis, cada um com as fileirinhas de camas de solteiros, tantas quase a perder de vista!
As boiadeiras ocuparam o dormitório das meninas e Merinda também dormiu com elas: “Ô Lô, tá sobrando cama, vou dormir aqui pertim de tu, tá bem fia? Lembrar do tempo em que cuidei de tu”. Dona Lô não resistiu e abraçou Merinda e começou a chorar no ombro dela...
Por volta das quatro da matina, acordou com Merinda saindo do quarto. Todas perceberam que era hora de levantar para ajudá-la no preparo do café da comitiva, juntamente com Toco, que já estava na cozinha quando elas chegaram lá. No terreiro da casa, os homens já estavam praticamente com tudo pronto para a partida.
Cada boiadeira se ocupou de alguma coisa e rapidinho saiu do moinho a massa de arroz e a de milho para os cuscuzes. Foi um farto e reforçado café mil estrelas, pois além do cuscuz de arroz e do de milho, havia ovos caipira cozidos e estrelados, batata doce cozida, leite e café à vontade.
Dina Vaqueira Tesouro Vivo do Estado do Ceará |
Era cinco da matina quando o berrante explodiu no ar, agitando num primeiro momento, mas depois acalmando o gado preso. Um dos vaqueiros bradou: “Aêêêê, aêêêê queta vaca malandra! Vamos soltar, minha gente! Foi só ensaio, daqui papouco, depois da cantoria, é de verdade! Êêêêêêêêêêê... gado! Êêêêêêêêêêê... gado maaaaaaanso”.
O violeiro tirou as três músicas previamente combinadas: primeiro, “O menino da porteira”; depois “Promessa do Batistinha”; e, por último, “Disparada”.
Enquanto ele tocava e todo mundo tentava cantar, Dona Lô distribuiu para cada participante da boiada um cordão de ouro com duas medalinhas, também de ouro: as imagens de Nossa Senhora Aparecida e de Santa Luzia, dizendo: “Gente, boiadeiro e peão de boiadeiro da Matinha de Dona Lô só cruza o estradão com as duas santas no pescoço. Foram benzidas em Aparecida, ainda no tempo do meu bisavô. Chegando à fazenda, o cordão é devolvido, tudo bem?”
Ouça "Ali passava boi, passava boiada www.oshomenspassaros.com/ali_passava_boi_passava_boiada.htm |
E o show de viola foi encerrado com “Disparada”, cantada por Dona Lô, montada em sua égua Estrela Guia. E o show de viola foi encerrado com “Disparada”, cantada por Dona Lô, montada em sua égua Estrela Guia.
Zé Vaqueiro anunciou: “Vamo ensair o berrante, prestem atenção pra compreender bem os toques: vou fazer duas vezes cada um...
1. Toque de saída ou de solta....
2. Toque de estradão
3. Toque de rebatedouro (anunciando perigo)”.
“Agora, valendo a abertura da porteira...” E ao som do toque de solta do berrante, a boiada foi saindo do curral e caindo no estradão...
À frente, puxando a boiada, o comissário da comitiva: Zé Vaqueiro, auxiliado por Cesinha, parecendo gente grande; na culatra: Dona Lô e sua trupe, puxada por um jumento com duas ancoretas de água pendentes da cangalha e um burro encangalhado, levando dois baús de couro, as bruacas, onde iam as louças da comitiva: pratos esmaltados, bule e canecas, também de esmalte para o café, garfos, facas e colheres – no dizer de Dona Lô, ali estavam as joias da comitiva.
Cangalha |
Bruacas |
– Só Dona Lô merminnha pra botar essas duas bruacas véias no lugar que carregou Donana! Decaí demais meu povo! Ô disgrota! Noutra Vosmicê não me pega mais, viu Dona Lô?
E caiu na risada: “Vumbora cavalo! Pegar a estrada! Pra casa! Pra Matinha de Dona Lô!”
Chegaram ao primeiro povoado: Ingazeira; depois Centro do Véi João; Fazenda Capim Santo; Onça Preta; Fazenda Capixaba; Canfístula...
Às onze horas da manhã, a primeira parada pro almoço. A boiada estava na estrada há seis horas. Toco, que foi na frente, na Svezinha com Pedro, marido da Estela, estava com o almoço pronto: carne-de-sol frita na manteiga; feijão sempre-verde com quiabo; e banana-sapa cozida. De sobremesa, goiabada, Made in Matinha de Dona Lô.
Foi estendida uma grande lona no chão e ali muita gente cochilou, enquanto outras descascaram laranjas pra todo mundo e jogaram muita conversa fora.
– Dona Lô, uma das coisas que ainda lembro da primeira vez que toquei boiada, eu estava com uns dez anos, era que Donana montava numa sela de... Esqueci o nome, mas era uma sela feminina...
Silhão - sela feminina |
– Oh, se lembro! Se perdeu lá pela Matinha, há muitos anos. Acho que sim. Certa vez João queria por que queria montar no silhão da mãe dele. Tanto fez que deixamos, mas a caboclada começou a chamá-lo de baitola e ele se irritou tanto que chegou na casa fazenda no maior chororô...
– Ih, pai, nem fale nisso que carreguei esse trauma por muitos anos. Na verdade, hoje confesso, eu tive tanta raiva daquela sela que acabei cortando várias partes dela... Foi assim que ela se acabou. Mamãe descobriu, mas nunca contou pro senhor.
Silhão - sela feminina |
E passou Fazenda Novo Oriente; depois os povoados Baixa da Ema, Limoeiro, Centro do Gonçalão, Centro dos Carneiros, Cacimbão e Embaubal. Às 18 horas, o primeiro pouso: pro jantar e a dormida, nas imediações da Fazenda de Zé Alonso, que cedeu um pasto pra colocar e dar de beber o gado. A boiada andou 24 Km, bem puxados. Dali a 20 Km chegaria ao seu destino.
O jantar teve como cardápio arroz misturado com fava; lagarto e pernil de porco de lata; a sobremesa constou de doce de leite, Made in Matinha de Dona Lô, banana e laranja. Antes do jantar, foram consumidos dois litros de pinga da terra. E a cerveja durante a refeição foi à vontade, até acabar as duas grades, num total de 48 garrafas.
O converseiro rolou animado, com a peaozada contando causos de assombração de boiadeiros e boiadas, acontecidos e inventados. Inácio Vaqueiro era o que mais falava.
O violeiro Chichico e o sanfoneiro Zé Cafofo se revezaram na música até quase dez da noite, quando soou a sineta que era hora de todo mundo dormir... Era bonito de ver aquela redaiada armada nos galhos das árvores que nos davam pouso. É de admirar a habilidade dos peões para armar redes em árvores!
No dia seguinte, às seis da matina, depois do café com pão de alho caseiro e queijos variados esquentados no espeto, a boiada prosseguiu... No começo, silenciosa após os toques de partida do berranteiro. Depois a conversa fluiu bem, mas lenta, quase gutural...
Os homens pareciam entusiasmados com o gado pé-duro: “A raça pé-duro possui também outras qualidades: é dócil, sua carne é saborosa, o couro macio e resistente e o leite excelente. Segundo alguns criadores e técnicos é também muito menos susceptível a plantas tóxicas como o barbatimão e a erva-de-rato”.
E a boiada prosseguia no passo modorrento dos bois. Não parece, mas o ritmo da boiada pede silêncio para se ouvir a música da marcha bovina, que é bonita e calmante. Talvez seja por isso que a conversa é pouca. Todo mundo concentrado.
Mas Dona Lô parecia preocupada...
Depois da saída da Fazenda de Zé Alonso, passou Centro do Meio, Santa Rita, Lagartixa, Croatá, Fazenda Água Boa, Jenipapo, onde foi a parada para o segundo almoço da comitiva, às onze horas.
Degustaram carne de sol na brasa; feijão tropeiro, quibebe e goiabada de sobremesa. Parecia que todo mundo estava sonolento, de modo que quando Zé Vaqueiro propôs uma parada mais curta, porque estavam perto de casa e seria bom chegar ainda com dia claro, todos toparam. Mal comeram, se arrumaram pra partir.
Antes, Dona Lô, chegando perto de Gracinha falou ao ouvido dela: “Cê tá vendo o que eu estou?” E ela retrucou dando de ombros: “Deixe pra lá Dona Lô, eu sabia que aquela alma queria reza. E queria! Inácio Vaqueiro é velho femento e gado véi, que só gosta de capim novo. Acho que já traça ela faz é tempo...”
A boiada pegou a estrada à uma e trinta da tarde, pontualmente. E foi ficando na poeira do estradão a Fazenda Zé Mineiro, os povoados Preá, Centro dos Goianos, Zé Gaúcho, Boi num Lambe, Frege da Cotinha, Sumaúma e... Tan-tan-tan-tan... Chapada do Arapari ao longe. Antes de chegar lá, a boiada pegou o atalho para o seu destino final...
Se a boiada não dava demonstrações de cansaço, a peãozada estava nas últimas quando deu pra avistar a Matinha de Dona Lô, onde foram recebidos por Pedro e pelo cuca Toco que, após o almoço, colocou seus apetrechos na caminhoneta, deu tchau todo lampreiro dizendo: “Cansei de comer poeira e sentir cheiro de bosta de boi!” Chegando à fazenda, seguindo orientações de Estela e com a ajuda dela, preparou o jantar com parte dos ingredientes que deveriam ter sido usados no jantar da Fazenda Sabiá. Era... Caussolet da Dilma!
Fazenda Matinha de Lô, Chapada do Arapari, 20 de janeiro de 2011
DISPARADA
Letra de Geraldo Vandré/Música de Theo de Barros
Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...
Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...
Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu...
Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei...
Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...
Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...
Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar
Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu...
Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei
Jair Rodrigues - Disparada - Festival de 1966
Enviado por jeffband. - Veja mais vídeos de música, em HD!
125 - Promessa Do Batistinha - Sulino E Marrueiro 2 |
Observando a Boiada, de De Marchi |
Aprecie aboios em: Dona Lô vai à Brasília...
Menino da porteira - com Sergio Reis por migueldf13 no Videolog.tv.
Fátima Oliveira, você é uma vaqueira minha santa para escrever um texto assim. Muito bonito
ResponderExcluirFiquei muito emocionado. Sou filho de boiadeiro
ResponderExcluirVou ler mais vezes, de tão grandiloquente que é o conto
ResponderExcluirFátima, eu também fui tocando essa boiada. Um deslumbramento total
ResponderExcluirInté dei uma choradinha
ResponderExcluirFiquei a pensar que como Guimarães Rosa, a Dra. Fátima Oliveira também aprecia uma boiada. E pela descrição do conto já tocou boiada também. Eita mundão semporteira, quem diria que intelectuais gostassem de aboio, toque de berrantes...
ResponderExcluir......
E o que Manuelzão contava sobre Guimarães Rosa?
Maria: Manuelzão era condutor de boiada. E Guimarães Rosa, mais novo do que eles, acompanhava os boiadeiros.
Joaquim: Guimarães Rosa era jovem e acompanhava a comitiva de Manuelzão com um caderno na mão, anotando tudo que passava. O Manuelzão falava que ele era muito perguntador, assim como você. Ele contava também que Guimarães Rosa perguntou para ele se já tinha matado alguém, se ele era jagunço de algum patrão. Aí o Manuelzão respondeu que se era empregado, então era jagunço, porque, se alguém fizesse alguma agressão contra seu patrão, ele era obrigado a defender.
..
Manuelzão por Joaquim, José e Maria - Por Flávia Ayer
http://redacaoemjornalismo.blogspot.com/2006/05/manuelzo-por-joaquim-jos-e-maria.html
BOIADA
ResponderExcluirAlmir Sater
Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada
A poeira é como o tempo, um véu, uma bandeira, tropa viajada
Foram indo lentamente, calmos e serenos, lenta caminhada
E sumiram lá na curva, na curva da vida, na curva da estrada
E depois dali pra frete, não se tem notícias, não se sabe
Nada que dissesse algo de boi, de boiada
De peão de estrada disse um viajante, história mal contada
Ninguém viu, nem rastro, nem homem, nem nada
Isso foi há muito tempo, tempo em que a tropa ainda viajava
Com seus fados e pelegos no rangeu do arreio ao romper da aurora
Tempos de estrelas cadentes, fogueiras ardentes, ao som da viola
Dias e meses fluindo, destino seguindo, e a gente indo embora
Isso tudo aconteceu no fato que se deu, faz parte da história
E até hoje em dia quando junta a peãozada
Coisas assombradas, verdades juradas
Dizem que sumiram, que não existiram
Ninguém sabe nada
Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada
A poeira é como o tempo, um véu, uma bandeira, tropa viajada
Foram indo lentamente, calmos e serenos, lenta caminhada
Dias e meses seguindo, destino fluindo, e a gente indo embora
Isso tudo aconteceu no fato que se deu, faz parte
E até hoje em dia quando junta a peãozada
Coisas assombradas, verdades juradas
Dizem que sumiram, que não existiram
Que não sabe nada
Cara Fátima Oliveira, o conto é uma ode à boiada. Meus parabéns
ResponderExcluirÉ bonito que dói
ResponderExcluirCONCURSO GASTRONÔMICO LEVA EM CONTA A TRADIÇÃO DAS COMITIVAS
ResponderExcluir29/08/2009 - 18:12
EPTV.com - Fabiana Assis
Uma das atividades mais esperadas da Festa do Peão de Barretos, a “Queima do Alho”, reuniu tropeiros, cozinheiros, violeiros, apreciadores da cultura caipira e muitos curiosos no Parque do Peão, na manhã deste sábado (28).
“Queima do Alho é uma gíria do mundo caipira. Quando estava na hora do almoço, só uma pessoa cozinhava então todos perguntavam ‘quem vai queimar o alho?’”, explica o coordenador da competição, João Paulo Martins.
Dezoito comitivas disputaram o título de melhor comida de tropeiro. Nesse concurso gastronômico não há variedade de pratos. Todos os cozinheiros preparam arroz de carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne seca (alguns fazem no pilão), carne assada e mandioca. O que faz com que cerca de 3 mil pessoas disputem um prato durante o evento é o sabor dessa comida, que é preparada no chão, em fogão de tijolo.
“Esse arroz é muito saboroso, nunca comi nada igual”, disse a assistente social Maria Izabel Prado Nogueira dos Santos, de Ribeirão Preto, que visita a Festa do Peão pela primeira vez.
Mas para os jurados do concurso, a comida é o que menos importa. “A gastronomia é o último item a ser julgado. Nossa preocupação é com a autenticidade. Se a tralha (utensílios de cozinha) é do estradão mesmo, se o peão sabe conservar a tradição”, diz o coordenador Dorival Gonçalves.
Comitivas
O transporte de bois do tropeiro ainda é muito utilizado nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em São Paulo, a atividade quase não existe mais, a não ser em trechos curtos entre fazendas.
Luis Carlos Gonçalves Anunciação, de 44 anos, hoje é pecuarista, mas trabalhou por muitos anos transportando boiada no Mato Grosso e ainda hoje vai com os peões tocar o gado no Pantanal. Participante do concurso há quatro anos, ele relembra os tempos em que cozinhava para a comitiva. “Comecei a viajar com 10 anos. Como era ruim para trabalhar na ‘vida dura’, só sobrava a cozinha para mim”, conta.
Mas muitos participantes nunca foram tropeiros. São pessoas que trabalham na cidade, mas que vivem e preservam a cultura caipira nos fins de semana ou em eventos como a Queima do Alho. É o caso do dentista José Carvalho Júnior, de Campinas. Ele e outros amigos formaram a comitiva Rota dos Tropeiros para manter a tradição de seus antepassados. “Meus avós faziam essa comida no estradão”, conta.
Dona Dalva Aparecida Utuari também nunca tocou boiada, mas presenciou todas as edições da Queima do Alho e, por isso, ganhou direito de ser a única mulher a participar do concurso. “Comecei ainda menina e nunca ‘falhei’ um ano”, diz a senhora.
A Queima de Alho de Barretos, foi o primeiro e é o mais tradicional concurso gastronômico de comida de tropeiros do Brasil, foi patenteado e deverá se tornar Patrimônio Histórico em 2010.
Todas as comitivas vêm para Barretos com as despesas pagas e o vencedor recebe R$ 1,5 mil, um prêmio bem modesto diante dos US$ 100 mil que estão sendo disputados neste fim de semana na arena pelos peões da Copa do Mundo de Montaria em Touro. “O que vale é o certificado. Ele é um passaporte e um motivo de orgulho para a comitiva vencedora”, diz Martins.
Berrante
O concurso foi aberto com um grande toque de berrante. Outra cultura caipira destacada em Barretos, em mais uma competição na manhã deste sábado, com a reunião de 25 tocadores de todo Brasil. Além de valorizar o mais tradicional instrumento do peão, o concurso serve de estímulo para novos tocadores, sejam eles adultos ou crianças.
O campeão Neguinho Berranteiro veio de Três Lagoas (MS) e começou a tocar aos 10 anos. Em 2007, ele havia conseguido o segundo lugar.
FONTE: http://eptv.globo.com/lazerecultura/lazerecultura_interna.aspx?269307
Só agora me pus a pensar no lúdico e no cultural das boiadas. Gostaria de ter sido vaqueira, boiadeira...
ResponderExcluirSinceramente eu fiquei abestada diante da beleza da boiada de Dona Lô
ResponderExcluirEitá Dona Lô na próxima vez eu vou é participasr de tua comitiva. " ÊEEEE,vida de gado, povo marcado , povo feliz!
ResponderExcluirTexto bom de ler Fátima, tu é uma escritora arretadamente envolvente. Parabéns muié.
Tudo lindo, lindo, lindo...
ResponderExcluirBOIADA
ResponderExcluirAlmir Sater
Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada
A poeira é como o tempo, um véu, uma bandeira, tropa viajada
Foram indo lentamente, calmos e serenos, lenta caminhada
E sumiram lá na curva, na curva da vida, na curva da estrada
E depois dali pra frete, não se tem notícias, não se sabe nada
Nada que dissesse algo
De boi, de boiada, de peão de estrada
Disse um viajante, história mal contada
Ninguém viu, nem rastro, nem homem, nem nada
Isso foi há muito tempo, tempo em que a tropa ainda viajava
Com seus fados e pelegos no rangeu do arreio ao romper da aurora
Tempos de estrelas cadentes, fogueiras ardentes, ao som da viola
Dias e meses fluindo, destino seguindo, e a gente indo embora
Isso tudo aconteceu no fato que se deu, faz parte da história
E até hoje em dia quando junta a peãozada
Coisas assombradas, verdades juradas
Dizem que sumiram, que não existiram
Ninguém sabe nada
Ele foi levando boi, um dia ele se foi no rastro da boiada
A poeira é como o tempo, um véu, uma bandeira, tropa viajada
Foram indo lentamente, calmos e serenos, lenta caminhada
Dias e meses seguindo, destino fluindo, e a gente indo embora
Isso tudo aconteceu no fato que se deu, faz parte da história
E até hoje em dia quando junta a peãozada
Coisas assombradas, verdades juradas
Dizem que sumiram, que não existiram
Ninguém sabe nada
São textos de uma grandiosidade poética que dão imenso prazer à leitura
ResponderExcluirVicê escreve muito bem Dra. Fátima Oliveira. Fiquei com a impressão de que participei da comitiva de Dona Lô. Uma leitura muito envolvente
ResponderExcluirDra. Fátima Oliveira, fiquei de queixo caído com a performance da boiada. E tive a certeza que a senhora também é boiadeira
ResponderExcluirEu também viajei com a boiada de Dona Lô. Parabéns Fátima. Quanta criatividade
ResponderExcluirFátima Oliveira, fiquei com um perto no peito. Só quem conhace, já viu e viveu uma boiada sabe o valor e a beleza deste conto. Ambos são grandes e grandiosos
ResponderExcluirÉ um conto épico, grandioso e bonito
ResponderExcluirLi e reli. De repente a beleza do conto tomou conta de mim e chorei. Memórias de minha infância de menino que viu muita boiada passar. É um espetáculo sem igual
ResponderExcluirMagnífico. Fiquei babando
ResponderExcluirachei a narrativa da boiada muito especial
ResponderExcluirFátima Oliveira, seu blogue é iluminado
ResponderExcluirParabens pela sua pagina, fico mais orgulhoso ainda pois as bruacas que estão na foto são minhas. Aqui em São Paulo somos uma comitiva que cultuamos a cultura caipira. Abraços
ResponderExcluir