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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ai, ai, sob o “Tema da Vitória”, não há o que pague a posse de Dilma Rousseff...


Fátima Oliveira


Na estrada que a levava para a sua morada, Dona Lô, enquanto dirigia, recordava a conversa que tivera com a dona da agência de viagem no aeroporto. Estava feliz, pois até os detalhes pareciam bem redondinhos...
Sem falar que não há o que pague ver Lula se despedir do povo brasileiro ao término de dois mandatos vitoriosos, tendo eleito a sua sucessora, embalado pelos acordes do “Tema da vitória”, música instrumental de autoria do maestro Eduardo Souto Neto, feita especialmente para as transmissões da Fórmula 1 pela Rede Globo, sons mais do que identificados com a Rede Globo, que só bobo não sabe que perseguiu Lula até não mais poder...



Ai, ai, Ali Kamel, se puder não vai deixar! Eita ironia do destino, minha gente! Isso tem nome, chama-se “cipó de aroeira”. Pois, sim é “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”, como certamente diria aquele menino neto do Brizola, que é deputado federal pelo Rio de Janeiro... Está numa música profética de Geraldo Vandré: “Aroeira”. Ah, lembrei o nome do Brizolinha, é Brizola Neto!

Geraldo Vandré canta "Aroeira" - 1967



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Geraldo Vandré...

AROEIRA
Geraldo Vandré

Vim de longe, vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
Noite e dia vêm de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar
Marinheiro, marinheiro
Quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira
No lombo de quem mandou dar.

 

“Ai, essa minha estrada é bonita que dói... Eu amo morar aqui. A estrada ainda é de terra batida, que a gente chama de carroçável, e no verão levanta uma poeira terrível, mas eu amo dirigir nela...”


Campestre

Campestre (Lisandra Balão)

– Ô Ducarmo, vou chegar cedo aí. Meu vôo está previsto para pousar por volta das nove da manhã. Assim sendo, você vai ao meu encontro no aeroporto ou vou à sua agência. Acontece que quero almoçar em casa, logo eu agradeceria não ter de ir à cidade, pois o aeroporto é saída pra fazenda...
– ...
– Ótimo! Ao desembarcar, telefonarei pra você. Enquanto pego minha mala, você chega, não é? Temos de verificar todos os detalhes da viagem à Brasília.



Estrada de chão (Lisandra Balão)

Tão logo desembarcou Dona Lô telefonou para Ducarmo, que avisou que já estava no aeroporto. Sentaram-se numa mesa e pediram café e pão de queijo. Tempo em que Ducarmo colocou duas pastas em cima da mesa, dizendo-lhe “São iguais. Uma é minha e a outra é sua. Vamos conferindo folha por folha, ou a senhora deseja fazer alguma pergunta antes?”
– Desejar até desejo. Você sabe o quanto eu sou perguntadeira, mas prefiro acompanhar a sua apresentação e se tiver algo a perguntar, o farei na hora. Está bem assim?
– Oh, sim! Se depender da organização, até dos detalhes, a viagem será maravilhosa e linda. A senhora verá. É um ônibus executivo de 45 lugares. Será guiado por dois motoristas. O percurso, saindo lá do povoado será de 1.387 Km – Chapada do Arapari, no município de Senador La Rocque, à Brasília – vamos trabalhar com 1.400 Km, incluindo aí a chegada em Brasília direto na pousada onde ficarão hospedadas.
– É muito chão! 1.400 Km é exatamente a distância Paris-Roma, que fiz uma vez de carro. Foi uma viagem lindíssima... Estava passeando e fui parando onde achava bonito. Levei três dias viajando. Inesquecível! Cada aldeia puro encanto. Oh, velha Europa!



– Portanto, ida e volta: 2.800 Kms. A empresa liberou 3.000 Km, no contrato, o que significa que têm uma cota de 200 Km para circular em Brasília. Está bom? Se precisar de mais quilometragem, terá de pagar a mais por quilômetro rodado, além dos 3.000.
– Ô Ducarmo, gostei desse acerto da quilometragem. Você é muito competente para organizar viagem...
– Tenho de ser. Vivo disso, não é Dona Lô?
– ...
– Seguro saúde que cobre todas as passageiras no período da viagem: do dia 30 de dezembro ao dia 03 de janeiro – um dia a mais, porque se houver qualquer imprevisto, não precisa agoniar, não é?


Campo dei Fiori (Roma)

– Que beleza, minha rosa!
– A viagem durará em média entre 18 a 20 horas, incluindo um tempo folgado para as paradas, conforme a senhora pediu. Então, saindo dia 30 às 20 horas, estarão em Brasília no dia seguinte na metade da tarde, por volta das 16:00, no máximo, provavelmente, se não houver imprevisto algum, 14:00 estarão lá.
– ...
– Portanto, achei melhor marcar o almoço de vocês para a estrada, assim a mulherada chegará à pousada já de “barrigas cheias”. O que acha?
– Está bem! Chegando de estômago forrado, a fadiga vai ser só no banho...
– Oh, sim! Poderá ocorrer um aperreio mesmo, uma “demorinha”, mas nem tanto, pois há seis banheiros na pousada...
– Então, teremos o jantar na pousada, não é? Deixe-me ver: no dia 31 jantar na pousada; no dia 1º. café e almoço. O ônibus pegará o caminho de volta a que horas?
– Conforme a senhora pediu: por volta das 21:00 do dia 1º. Não foi? Mas se quiserem antes, os motoristas estarão lá por conta de vocês... Sairão na hora em que definirem.
– Sim, sim! Deixe-me ver: se no dia 1º. só almoçaremos na pousada, onde as mulheres vão jantar, minha irmã?
– A ideia, falta fechar, estava esperando para falar com a senhora, é que jantem numa churrascaria na estrada, na saída de Brasília... É mais confortável e prático do que tentar voltar para jantar na pousada ou mesmo em algum lugar em Brasília, não é?
– Ah, ótimo!
– Em Brasília uma moça que contratei estará na pousada lhes esperando e ficará com vocês o tempo todo até à saída do ônibus pra cá. Vai acompanhá-las para assistir a parte pública da posse. A partir das dez horas da manhã na Esplanada dos Ministérios acontecerão muitos shows nas Tendas das quatro regiões brasileiras, a saber: a Tenda 1 vai ser comandada por quatro bandas do Norte; na Tenda 2, músicas típicas do Sul; na Tenda 3, do Sudeste; e na Tenda 4, do Nordeste. Há muita coisa para apreciar, até 36 painéis de mulheres que marcaram a historia do Brasil...
– “Minina”, tem coisa demais! Só de pensar nesse tanto de coisa, fiquei cansada. Vou de tênis, isso sim! O mais velhinho e macio que eu tiver. Descubra a lista dessas mulheres dos painéis porque preciso ficar afiada na vida delas pra poder contar pras minhas companheiras, né não? E o que mais do percurso da comitiva presidencial?

Dilma é diplomada e promete cuidar da estabilidade

– Desde a hora em que a presidenta sair da Catedral de Brasília, às 14:00, após uma Missa Ecumênica, seguirá no Rolls-Royce presidencial conversível, para o Congresso Nacional, onde as solenidades começarão às 14:30 horas. Tão logo seja empossada, a presidenta e o vice, Michel Temer, serão saudados por 21 tiros de canhão na área externa do Congresso Nacional, e ela fará o seu primeiro discurso, que será transmitido por telões que estarão dispostos em toda a Esplanada dos Ministérios.
– ...
– Por volta das 16:30, no Rolls-Royce, ela seguirá até ao Palácio do Planalto e será recebida na rampa pelo presidente Lula que, naquele momento, passará a faixa presidencial – já foi anunciado que Lula “descerá a rampa do Palácio do Planalto pela última vez, ao se despedir do cargo, ao som do ‘Tema da Vitória’, música tradicionalmente associada às vitórias brasileiras na Fórmula 1, tocada pela banda dos Dragões da Independência, o regimento da guarda presidencial.
– ...
– “A escolha foi feita pessoalmente pelo 1º tenente Almeida Machado, regente da banda dos Dragões. Ao ser perguntado se essa seria mesmo a música do presidente, o tenente respondeu com outra pergunta: ‘E tem música mais apropriada?’"
– Seeeeei! Esse tenente deve ser gente nossa... Quer dizer, nordestina, porque “benhi’ nessa escolha ele demonstrou amor a Lula.
– No Palácio do Planalto a presidenta receberá os cumprimentos dos chefes de Estado e de autoridades presentes. Logo após, ente 17:00 e 18:00, no Cerimonial diz que será às 16:30, ela se dirigirá ao parlatório do Palácio do Planalto, em frente à Praça dos Três Poderes, e fará um discurso ao povo brasileiro. Depois empossará seu ministério; e às 18:30, no Palácio do Itamaraty, oferecerá um coquetel para autoridades, incluindo todo o novo ministério, e missões estrangeiras.
– ...
– No mesmo horário, na Praça dos Três Poderes, ou seja às 18:30, começará o show “Cinco ritmos do Brasil”, com as cantoras Elba Ramalho, Fernanda Takai, Gabi Amarantos, Mart’nália e Zélia Duncan, que será encerrado às 21:00.

– Que belezura, gente! Jesus, me abana! Eu voi ficar é doidinha com aquele tanto de mulher, pois só vão querer sair de Brasília no cisco!
– A guia de Brasília também fez uma proposta de passeios por Brasília na noite do dia 31, quem sabe querem ver a queima de fogos do romper do Ano-Nove, dizem que é bem bonita; e na manhã do dia 1º, algum passeio antes de irem bater perna na Esplanada. Mas fique à vontade para aceitar ou não e para sugerir.
– Bem, isso a gente resolverá com ela lá, não é? Quero lhes mostrar o Catetinho, de certeza! Depois daremos uma volta curtindo os shows da Esplanada e iremos almoçar de verdade. Voltaremos quase na hora do início da posse. Acho que poderá ser assim.
– Sim, pode ser. Em linhas gerais é isso! Mas gostaria de detalhar a rota, para a senhora ficar ciente de tudo.
– Pois vamos lá!


– Eis o percurso, passo a passo. Vá acompanhando pela sua pasta. Na página dez: O Km Zero da viagem começa na cidade de Senador La Roque, pois o computador não aceitou começar do povoado. Isto é, o Km Zero começa depois de 25 Km de viagem, da Chapada do Arapari a Senador La Rocque. Depois a gente soma essa quilometragem inicial...
– OK!
– Estão discriminadas todas as cidades pelas quais passarão nos 3 Estados: Maranhão (oito, contando com Senador La Rcque), Tocantins (vinte e nove) e Goiás (nove). Eis as rotas: a Rota no MA, que totaliza 175 Km, a partir do povoado...
– ...
– Olhe bem no mapa Dona Lô...



– É, hoje a Belém-Brasília fica quase toda no estado do Tocantins, que antes era Goiás. E nosso piquenique na estrada, hein Ducarmo, você marcou pra onde?
– Ahahahahahhah... Veja, não esqueci do seu frito e nem da cervejada... Será em Goiás, antes de pegar a BR-251, podendo ser em Santa Rita do Novo Destino, Barro Alto ou Vila Propício. À sua escolha! Quem sabe seja melhor em Uruaçu, um pouquinho mais de a 300 Km de Brasília, com tempo de estrada ainda que dá pras mulheres tirarem um cochilo bom, assim chegam em Brasília mais descansadas, pois não?
– Hem-hem...
– Veja as propostas de paradas, que totalizam três horas e meia de ônibus parado, sendo de meia hora cada nas três primeiras e duas horas pro piquenique...
313 Km Nova Olinda - TO [(1ª. Parada (00:00)]
700 Km Santa Rita do Tocantins - TO [(2ª. Parada: 04:00)]
932 Km Porangatu - GO [3ª. Parada: 07:00)] - Café
1206 Km Vila Propício - GO [(4ª. Parada: 12:00)] – Almoço/piquenique
– Temos de chegar em Brasília “comidas”... Bem “comidas”...
– Ahahahahahhah...

Ponte JK (Estreito-MA)
* Ao descer na porta de sua casa Dona Lô foi recebida com grande alegria. Um fuzuê, todo mundo querendo saber “como foi de viagem”. Era tanta perguntação que ela apenas sorria e não respondeu a nada.
Depois de calçar seu chinelinho de pano, estatelou-se em sua cadeira de balanço, dizendo rindo: “Por Deus gente, virei bicho do mato mesmo! Isso aqui é o melhor cantinho do mundo".
– “’Quêquisso’ Dona Lô, a senhora está nova demais pra se ‘entonar’ nesse matão de meu Deus!”, alegou Pedro, marido de sua afilhada Estela.
– Já me “entonei” Pedro! Não “me dou” mais morando em cidade! De jeito maneira. Ô furdunço que é qualquer cidade. Tudo pura fadiga! Eu não via a hora de chegar em casa. Pendurei as chuteiras, na boa! Por livre e espontânea vontade. Já bati perna demais pelo mundo. Acho que depois dessa viagem à Brasíla, quem quiser me ver, que aqui venha! Palavra de Lô! Falando em viagem, ô Cesinha, quero ver o vídeo de você burrinha de meu amo, depois do almoço.
– Ih, a senhora já soube?! Ah, povo da língua grande, vôte!
– Antes, Cesinha dê um jeito, “jazim”, de chamar as mulheres que vão viajar comigo pra que venham tomar um cafezinho fresco com bolo frito aqui em casa lá pelas seis horinhas. Quero conversar sobre a viagem.
– ...
– Diga que é conversa e não reunião, coisa que elas detestam! Eu também! Diga também que é coisa rapidinha pra não tomar muito o tempo de ninguém e eu também estou meia lesa da viagem, preciso de sossego. Agora é descansar para aguentar o tranco do estirão da Belém-Brasília!
– Tô indo “jazim” Dona Lô!
– Pois vá logo pra depois chorar até morrer por ter nascido homem.
– Eu? Como assim? “Pucardiquê”?
– Ora “pucardiquê”! Não vai vê Lula ao vivo se despedindo de nós com a Banda dos Dragões da Independência tocando o “Tema da Vitória”.
– A música do Ayrton Senna, Dona Lô? Lula pediu essa "merminha" aí?
Que Lula pediu, coisa nenhuma! Que música do Ayrton Senna, deixa de ser "mané" Cesinha! Claro que ela é a cara do Ayrton Senna ganhando na Fórmula 1, mas não foi feita pra ele.
“Ah, disse eu já sabia”, entrou Pedro na conversa: “Li uma reportagem em que o autor da música, o maestro Eduardo Souto Neto disse que ‘O que muita gente também não sabe, ou não se lembra, é que o Tema da Vitória embalou muitas conquistas de Nélson Piquet, mas só ficou famoso com Ayrton Senna’”.
“Ah, e fooooooooooooi?”, falou Dona Lô com ar de espanto...
Ao que Pedro retrucou: “Ele explicou como surgiu o Tema da Vitória: ‘Na época eu trabalhava na TV Globo e tinha a função de fazer vinhetas. Surgiu então a ideia de sonorizar todas as etapas de uma corrida de Fórmula 1, desde o aquecimento, a largada até a vitória. Porém, o mais urgente era fazer uma música para as vitórias, não importava se fosse de um brasileiro ou não. Essa música foi pedida para ser tocada no GP Brasil de 1984. O vencedor desse ano foi o francês Alain Prost. Depois, com a ascensão do Nélson Piquet na categoria, a Globo passou a utilizá-la em cada prova vencida por ele. O curioso é que o Tema da Vitória só passou a ser conhecido com o Senna. O Piquet foi tricampeão e ninguém deu muita importância. Só com o Ayrton ela ganhou uma dimensão incrível.’”



Tema da Vitória


Tema da vitoria
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Chapada do Arapari, 27 de dezembro de 2010

Programação Cultural da Posse de Dilma Rousseff


Das 10h ao meio-dia, em toda a Esplanada dos Ministérios haverá apresentações de grupos infantis, com mamulengo e pernas de pau, além dos painéis de mulheres brasileiras ilustres.

Shows musicais
Tenda 1 – Região Norte
10 às 11h
Tambor de Couro: Projeto Tambores do Tocantins – Sussa, Catira, Congada e composições tocantinenses
11 às 12h
Danças Tradicionais Macuxi: Mestre Jaci, Dona Bernaldina, Dona Laudisia e Rosilda Macuxi (Tuxauas) – Ritual Maruwai, dança Parixara e dança Tukui (Terra Indígena Raposa Serra do Sol, RR)
12 às 13h
Flor Ribeirinha: Grupo Flor Ribeirinha – Siriri (Cuiabá, MT)
13 às 14h – Cortejo cívico-cultural
Grupo Jabuti-Bumbá – Cordão de Boi (Rio Branco, AC)

Tenda 2 – Região Sul
10 às 11h
Fandango: Grupo Pés de Ouro – Fandango (Paranaguá, PR)
11 às 12h
Sombrero Rock Show: Sombrero Luminoso – Rock da Fronteira (Porto Alegre, RS)
12 às 13h
Vesselka: Grupo Folclórico Ucraniano Brasileiro Vesselka – Balé (Prudentópolis, PR)
13 às 14h – Cortejo cívico-cultural
Catumbi: Grupo Catumbi de Guaramirim – Congada Dramática (Itapocu, SC)

Tenda 3 – Região Sudeste
10 às 11h
Jongo de Piquete, Um Novo Olhar: Grupo Jongo de Piquete – Jongo (Piquete, SP)
11 às 12h
Brô MC’s: Grupo Brô MC’s – Hip Hop Indígena (Reserva Indígena Jaguapiru, Dourados, MS)
12 às 13h
Fidelidade a Brasília: Zé Mulato e Cassiano – Música Caipira (Brasília, DF)
13 às 14h – Cortejo cívico-cultural

18:30 às 21:00: Show “Cinco ritmos do Brasil”, com as cantoras Elba Ramalho, Fernanda Takai, Gabi Amarantos, Mart’nália e Zélia Duncan.

Roteiro da Comitiva Chapada do Arapari para a posse de Dilma Rousseff
Km 0/Rota Maranhão (MA) Rod. MA-122: Senador La Rocque; João Lisboa; Imperatriz; Governador Edison Lobão; Ribamar Fiquene; Campestre do Maranhão; Porto Franco; e Estreito - MA
Rota Tocantins (TO): Rod. BR-226
Aguiarnópolis; Palmeiras do Tocantins; Darcinópolis; Wanderlândia; e Araguaína
Rota Tocantins (TO) Rod. BR-153
Nova Olinda; Palmeirante; Colinas do Tocantins; Presidente Kennedy; Guaraí; Fortaleza do Tabocão; Rio dos Bois; Miranorte; Miracema do Tocantins;  Barrolândia; Paraíso do Tocantins; Pugmil; Nova Rosalândia; Oliveira de Fátima; Fátima; Santa Rita do Tocantins; Crixás do Tocantins; Aliança do Tocantins; Dueré; Gurupi; Cariri do Tocantins; Figueirópolis; Alvorada; e Talismã.
Rota Goiás (GO) Rod. BR-153
Porangatu; Santa Tereza de Goiás; Estrela do Norte; Mara Rosa; Campinorte; e Uruaçu.
Rota Goiás (GO) Rod. BR-080
Santa Rita do Novo Destino; Barro Alto; e Vila Propício.
Rota Goiás (GO) Rod. BR-251
Padre Bernardo
Rota Brasília (DF): Rod. BR-080; Rod. DF-001;
Rod. BR-070; Rod. DF-095, Rod. DF-003

domingo, 26 de dezembro de 2010

O trancelim da Burrinha do meu amo do Reisado pra Dilma Rousseff


Casamento de Rafael Covolo e Paula Araújo Rousseff, filha da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff e Carlos Araújo (Porto Alegre, 18.04.2008)
   Fátima Oliveira



“A burrinha do meu amo
Come tudo que lhe dão
Só não come carne fresca
Sexta-feira da paixão”.

Burrinha do meu amo
 – Ô Gracinha, Tudo bem por aí, minha rosa? Como foi o café dos reiseiros? E o almoço de Natal? Quero saber tudinho, tim-tim por tim-tim... Depois que contar, chame Estela, está bem?
– Quer saber primeiramente o quê?
– Como foi ontem à noite o encerramento da Novena de Natal de Dona Celestina... Fiquei com pena de não estar aí. Acho as novenas dela muito bonitas, sempre. É noveneira das boas, especial. Já está velhinha, tem de ensinar para outras mulheres essas novenas!



– Ah, essa bem aí não sei contar tanto, não. Cheguei já quase no finzinho da novena. Mas terminou todo mundo satisfeito que só pinto no lixo, então “devera” de ter sido boa. Mas Dona Lô, a senhora perdeu a burrinha do meu amo, “tava” uma coisa de bonita, senhora. Só vendo!
– Ah, e foi? Pucardiquê “tava” essa lindeza toda?
– Sabia que a burrinha do meu amo esse ano foi Cesinha?
– Não diga Gracinha! Como eu não fiquei sabendo? Ah, moleque astucioso! É um cagado de sorte. Conseguir entrar pro Reisado de Seu Zé Preto não é pra qualquer, não!



– Pucardiquê ele não sabia que a senhora estaria de viagem e queria lhe fazer uma surpresa, mulher! O “bichim” ficou foi triste quando soube que a senhora não estaria presente. “Tadim” dele Dona Lô! O "bichim" ficou pra lá de “brocoxô”, “tronchinho” “mermo”, mulher!
–...
– O quê mais Gracinha?

[DSCN1114.JPG]

– O reisado teve de tudo, desde as cantorias bonitas e penosas:
“Ô de casa, ô de fora
Ô de casa, ô de fora...”
Aposto que num tem reiseiro mais competente do que Seu Zé Preto. Tudo dele é bonito demais, “inté” os caretas, que ô bichos que acho medonhos! Tá sabendo que Seu Zé Preto dedicou a tiração de reis desse ano para nossa presidenta Dilma Rousseff? Pois foi! Viiiiiiiiiiiiiiiixe Maria, “os povo” "tão " tudinho doidinho por Dilma. Coisa de impressionar!


– É, da toada que vai, Dilma não vai virar só rainha não, vai virar é santa mesmo no imaginário popular! Ahahahahahhahaha...
– Ah, antes da mesa de café – ora café. Café é modo de dizer – claro que teve a mesona de café com bolo de tudo quanto foi tipo, uns bolos cacetes da “mió” espécie – guardei uns pra vosmicê – suco também, à folote. E o banquete da madrugada dos reiseiros, o de costume: galinha ao molho pardo com arroz e salada que, como de costume, ninguém comeu. Sobrou todinha. E olhe que fiz pouca! Eles avançam mesmo é na galinha com arroz – viiiiiiiiiiiixe que povo que come, minha mãe santíssima! Parece que "tão" na Seca de XV!
– Por isso que quando termina a tiração de reis os cabras estão gordos que é uma beleza, parecendo porco no chiqueiro de tão gordos, pois daqui até o dia 6 de janeiro são treze dias só de comilança no amanhecer do dia, né não? Nem sei como aguentam tanta farra. Dançam a noite toda, comem que nem sultões e dormem o dia todo!
– E aí, tem mais Gracinha?
– Ah, tem novidade: fui sorteada para ir pra posse de Dilma. Tô toda inchada e explodindo de felicidade.
– Hem-hem, que beleza, minha filha! E como foi esse sorteio?
– Ao bem da verdade, não foi sorteio. Coisa de astúcia de Memélia, que ali de “lesa” num tem nada. Garantiram a senhora, Mãe Zefinha e eu. Aí então, cada casa, são quarenta, da criação de porco e de galinha escolheu sua representante.
– Então ocuparam 43 vagas. Se são 45 lugares no ônibus, sobraram dois. E então, o que vão fazer com as que sobraram?
– Vão dar de presente pra duas meninas que vão fazer 15 anos. Lelena de Cotinha que completa 15 anos dia 30 de dezembro; e Gorete, de Dona Sassá, que o aniversário é no dia 1º. de janeiro. Ideia delas lá. Ficou bom, não ficou?
– Oh, se ficou! Mais alguma novidade boa?
– O almoço de Natal foi tudo na ordem! Do “mermo” jeitim de como sempre foi. Muita gente, muita comida. Todo mundo alegre e satisfeito. Nenhum bêbado. Sobrou comida. Guardei o seu quarto de leitoa e uma coxa do peru na geladeira. "Tão" aqui lhe esperando. Chega que dia?
– Amanhã, Gracinha. Até à hora do almoço estarei em casa. Pode preparar meu pedaço de leitoa e de peru que vou comê-los amanhã no almoço. Certo?
– E Dona Lô, já descobriu a cor do vestido de Dilma?
– Fala da roupa da posse? “Pucardiquê” quer saber?
– Ah, eu quero vestir um vestido da mesma cor, oxente! Vou é nos trinques, toda chique, feito gente e não “malamanhada”, num é Dona Lô? Dilma merece!



– Ahahahahahaha... “Paridinha” por Dilma também, né? “Arriada” até os quatros pneus!
– Passe pra Estela, por favor. Até amanhã Gracinha! Dê um beijo em Cesinha.
Estela que estava ao lado de Gracinha rindo, ao atender Dona Lô, sapecou: “A ‘bença’ Dindinha! Eita danação de par de jarro, hein Dindinha? Todo mundo aqui só quer saber da cor do vestido de Dilma. Dizem que vão vestir uma roupa da mesma cor. Li que a estilista gaúcha Luísa Stadtlander, que fez a roupa dela pro casamento da filha e do dia da diplomação, está fazendo a roupa que Dilma vai usar na posse e que a cor é pérola. Sabia?
–...

– Hem-hem, Cesinha ficou uma burrinha do meu amo divina! E dançou o trancelim como gente grande! Pena a senhora não ter visto. Só hoje entendi que trancelim é a dança da burrinha do meu amo. E olhe que nasci vendo reisado. Todo ano vejo. A senhora sabe por que só homem brinca reisado? Até hoje tenho medo dos caretas do reisado, sabia?
–...
– Queria ter visto? Pois vai ver: Pedro gravou todo o trancelim da burrinha do meu amo. Na há o que pague ter visto Cesinha de burrinha do meu amo! É impagável! Coisa boa, né Dindinha ele estar estudando e se ligar nessas coisas da cultura popular, né mesmo? Não desgrudar das origens. Ah, Gracinha lhe contou do “saracotico” que aquela remelenta da serrista da Dona Nem fez? Foi um espetáculo Dindinha! Cesinha viu e vai lhe contar “direitim”.

Folia de Reis, de origem portuguesa: no Brasil a comemoração está ligada ao Natal. Foto: Rosane Volpatto

 

Chapada do Arapari, 26 de dezembro de 2010

Veja as roupas escolhidas por Dilma, da época de ministra aos eventos da Transição

http://exame.abril.com.br/economia/politica/album-de-fotos/as-roupas-escolhidas-por-dilma
 
[DSCN1106.JPG]O Reisado foi introduzido no Brasil-Colônia pelos portugueses no século XIX. É um espetáculo popular das festas de Natal e Reis, cuja ribalta é a praça pública, a rua, mas as vezes pode ser apresentado em residências.
Folia de Reis, ou Reisado, ou ainda Terno-de reis, constitui um dos mais originais folguedos folclóricos. É uma folia conhecida em Em todos os estados do Nordeste do Brasil, mais Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Guanabara. No interior, é uma dança do período natalino em comemoração ao nascimento do Menino Jesus e em homenagem aos Reis Magos: Gaspar, Melchior e Baltazar, que levaram ouro, incenso e mira, que representam as três dimensões de Cristo (realeza, divindade e humanidade).
Esta festa tem sua origem primária na Festa do Sol Invencível, comemorada pelos romanos e depois adotada pelos egípcios. A festa romana era comemorada em 25 de dezembro (calendário gregoriano) e a egípcia em 6 de janeiro. No século III, ficou estabelecido que dia 25 de dezembro se festejaria o nascimento de Cristo e 6 de janeiro, dia dos Reis.
A característica principal do reisado está no uso de muitos adereços, trajes com cores quentes e chapéus ricamente enfeitados com fitas coloridas e espelhinhos.

FONTE: http://sites.google.com/site/taxilunar2/reisado

[DSCN1161.JPG]

BOLO CACETE

Ingredientes:
1 litro de polvilho
1/2 litro de óleo quente
1/2 dúzia de ovos
Sal a gosto
Erva doce, a gosto

Modo de fazer:
Escalde o polvilho com óleo quente.
Misture bem e acrescente o sal, os ovos e amasse. Molde com as mãos em formato de cacetinhos.
Leve ao forno quente.
Bolo cacete

sábado, 25 de dezembro de 2010

Preconceito que cala, língua que discrimina



Marcos Bagno
     Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua


Por Joana Moncau*


Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua, típica das sociedades ocidentais. “Podemos amar e cultivar nossas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita gente pagou para que elas se implantassem como idiomas nacionais e línguas pátrias”.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Para isso aponta a afiada análise do escritor e linguista Marcos Bagno, brasileiro de Minas Gerais. Autor de mais de 30 livros, entre obras literárias e de divulgação científica, e professor da Universidade de Brasília, atualmente é reconhecido sobretudo por sua militância contra a discriminação social por meio da linguagem. No Brasil, tornou-se referência na luta pela democratização da linguagem e suas ideias têm exercido importante influência nos cursos de Letras e Pedagogia.

A importância de atingir esse meio, segundo ele, é que o combate ao preconceito linguístico passa principalmente pelas práticas escolares: é preciso que os professores se conscientizem e não sejam eles mesmos perpetuadores do preconceito linguístico e da discriminação. Preconceito mais antigo que o cristianismo, para Bagno, a língua desde longa data é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo de controle social. Dialeto e língua, fala correta e incorreta: na entrevista concedida a Desinformémonos, ele desnaturaliza esses conceitos e deixa à mostra a ideologia de exclusão e de dominação política pela língua, tão impregnada nas sociedades ocidentais.


“A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich
Língua Materna: Letramento, Variação & EnsinoPortuguês ou Brasileiro?: um Convite à Pesquisa

O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe uma língua ou uma determinada variedade linguística para se tornar a língua oficial. Evidentemente qualquer processo de seleção implica um processo de exclusão. Quando, em um país, existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as demais línguas passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo dialeto sempre foi carregado de preconceito racial ou cultural. Nesse emprego, dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar uma língua. Também é uma maneira de distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas de falar dos povos selvagens. Essa forma de classificação é tão poderosa que se erradicou no inconsciente da maioria das pessoas, inclusive as que declaram fazer um trabalho politicamente correto.
De fato, a separação entre língua e dialeto é eminentemente política e escapa aos critérios que os linguistas tentam estabelecer para delimitar dita separação. A eleição de um dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial, renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de língua de um mesmo território à terrível escuridão do não-ser. A referência do que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma baixo auto-estima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de “auto-ódio”.

Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso das crenças, superstições, ideologia e representações. A Língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país, um povo, uma língua”. Durante muitos séculos, para conseguir a desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são emudecidas, muitas populações foram e são massacradas, povos inteiros foram calados e exterminados. No continente americano, temos uma história tristíssima de colonização construída sobre milhares de cadáveres de indígenas que já estavam aqui quando os europeus invadiram suas terras ancestrais e dos africanos escravizados que foram trazidos para cá contra sua vontade.
Não podemos esquecer que o que chamamos de “língua espanhola”, “língua portuguesa”, ou “língua inglesa” tem um rico histórico, não é algo que nasceu naturalmente. Podemos amar e cultivar essas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita gente pagou para que elas se implantassem como idiomas nacionais e línguas pátrias.


Breve histórico linguístico da América Latina
Norma Linguística
A história linguística da América Latina foi e é marcada por muita violência contra as populações não-brancas, em todos os sentidos, dos massacres propriamente ditos, passando pela escravização e chegando aos dias de hoje com a exclusão social e o racismo.
No caso específico das línguas, as potências coloniais (Portugal e Espanha) se empenharam sistematicamente em impor suas línguas. As situações variam de país a país. Na Argentina, por exemplo, depois da independência, o governo traçou um plano explícito de extermínio dos indígenas, a chamada “Conquista do Deserto”, pagando em dinheiro às pessoas que levassem escalpos como prova do assassinato. Com isso, a população indígena da Argentina, principalmente do centro para o sul, desapareceu quase completamente, e com ela suas línguas.
No Peru e na Bolívia, a língua quéchua, que era uma espécie de idioma internacional do império inca, é muito empregada até hoje, havendo mesmo comunidades mais isoladas cujos falantes não sabem falar espanhol. 

No Brasil, o trabalho de imposição do português foi muito bem feito, de maneira que é a língua homogênea da população. O extermínio dos índios fez desaparecer centenas de línguas: hoje sobrevivem cerca de 180, mas faladas por muito pouca gente, algumas já em vias de extinção. Durante boa parte do período colonial, a língua mais usada no Brasil foi a chamada “língua geral”, baseada no tupi antigo, que os jesuítas empregaram para catequizar os índios. Com a expulsão dos jesuítas no século XVIII e a proibição do ensino em qualquer língua que não fosse o português, a língua geral desapareceu. É uma pena que não tenhamos uma riqueza linguística como no México, que possui mais de 50 línguas diferentes, sendo que o nahua é falado por cerca de 1 milhão de pessoas. Ainda assim, essas minorias linguísticas no Brasil estão cada vez mais reconhecendo seus direitos e lutando por eles.

Quanto às línguas africanas no Brasil, elas não puderam sobreviver porque os portugueses tomavam cuidado para separar as famílias em lotes diferentes bem como os falantes de uma mesma língua, de modo que fossem obrigados a aprender o português para se comunicar entre si e com os brancos. Mesmo assim, as línguas africanas, sobretudo as do grupo banto, influíram fortemente na formação do português brasileiro, fazendo com que ele se tornasse o que é hoje, uma língua bem diferente do português europeu.
No Paraguai, como não houve expulsão dos jesuítas, a língua geral empregada por eles, o abanheenga (guarani), permanece até hoje como elemento importante da vida dos paraguaios, que são bilíngues em sua maioria: espanhol e guarani.


Falar errado? Para quem?

Livro - Nada na Língua é por Acaso
Também existe uma ideologia linguística que não é oficializada, mas que ao longo do tempo se instaura na sociedade. Em qualquer tipo de comunidade humana sempre existe um grupo que detém o poder e que considera que seu modo de falar é o mais interessante, o mais bonito, é aquele que deve ser preservado e até imposto aos demais.
Nas sociedades ocidentais as línguas oficiais sempre foram objetos de investimento político. As línguas são codificadas pelas gramáticas, pelos dicionários, elas são objetos de pedagogias, são ensinadas. Claro que essa língua que é normatizada nunca corresponde às formas usuais da língua, sempre há uma distância muito grande entre o que as pessoas realmente falam no seu dia-a-dia, na sua vida íntima e comunitária, e a língua oficializada e padronizada.

A questão da língua é a única que une todo o espectro linguístico, ou seja, a pessoa da mais extrema esquerda e da mais extrema direita geralmente concordam, por exemplo, diante da afirmação de que os brasileiros falam português muito mal. É uma ideologia muito antiga, eu digo que é uma religião mais antiga que o cristianismo, porque surgiu entre os gramáticos gregos 300 anos antes de Cristo e se impregnou na nossa cultura ocidental de maneira muito forte.

Entretanto, ao mesmo tempo em que as classes dominantes diziam que era preciso impor o padrão para todo o mundo, elas não permitiam às classes dominadas o acesso a ele. Havia essa contradição, que na verdade não é uma contradição, mas uma estratégia político-ideológica: “Você tem que se comportar assim, mas não vou te ensinar como”. Isso, para as classes dominantes terem, além de outros instrumentos de controle social, também o controle da língua. É o que Pierre Bourdieu chama de a ‘língua legítima’: as classes dominadas reconhecem a língua legitima, mas não a conhecem. Ou seja, elas sabem que existe um modo de falar que é considerado bonito, importante, mas elas não têm acesso a ele.

O preconceito linguístico nas sociedades ocidentais é derivado principalmente das práticas escolares. A escola sempre foi muito autoritária, muitas vezes as pessoas tinham que esquecer a língua que já sabiam e aprender um modelo de língua. Qualquer manifestação fora desse modelo era considerada erro, e a pessoa era reprimida, censurada, ridicularizada.
Outro grande perpetuador da discriminação linguística são os meio de comunicação. Infelizmente, pois eles poderiam ser instrumentos maravilhosos para a democratização das relações linguísticas da sociedade. No Brasil, por serem estreitamente vinculados às classes dominantes e às oligarquias, assumiram o papel de defensores dessa língua portuguesa que supostamente estaria ameaçada. Não interessa se 190 milhões de brasileiros usam uma determinada forma linguística, eles estão todos errados e o que apregoam como certo é aquela forma que está consolidada há séculos. Isso ficou muito evidente durante todas as campanhas presidenciais de que Lula participou. Uma das principais acusações que seus adversários faziam era essa: como um operário sem curso superior, que não sabe falar, vai saber dirigir o país? Mesmo depois de eleito, não cessaram as acusações de que falava errado. A mídia se portava como a preservadora de um padrão linguístico ameaçado inclusive pelo presidente da República.

Nessas sociedades e nessas culturas muito centradas na escrita, o padrão sempre se inspira na escrita literária. Falar como os grandes escritores escreveram é o objetivo místico que as culturas letradas propõem. Como ninguém fala como os grandes escritores escrevem, a população inteira em teoria fala errado, porque esse ideal é praticamente inalcançável.
Entretanto, isso é muito contraditório, porque os ensinos tradicionais de língua dizem que temos que imitar os clássicos, mas ao mesmo tempo somos proibidos de fazer o que os grandes autores fazem, que é a licença poética. Como aprendemos nas escolas, ela é permitida àquele que em teoria sabe tão bem a língua que pode se dar ao luxo de desrespeitar as normas. A diferença entre a licença poética e o erro gramatical é, basicamente, de classe social. Uma pessoa pela sua própria origem social se dá ao direito e tem esse direito reconhecido de falar como quiser, outra, também por sua origem social não tem esse direito.
Cria-se um padrão linguístico muito irreal, muito distante da realidade vivida da língua. É a partir desse confronto entre a maneira de falar das pessoas e essa língua codificada, que surgem esses conflitos linguísticos. A pessoa, ao comparar seu modo de falar com aquilo que aprende na escola ou com o que é codificado, vê a distância que existe entre essas duas entidades e passa a achar que seu modo de falar é feio, é errado.
Qualquer tipo de imposição linguística acaba gerando um efeito contrário que é a auto-rejeição linguística ou a promoção de um preconceito linguístico por parte das camadas sociais dominantes.


Luta contra o preconceito linguístico

Acabar com o preconceito linguístico é uma coisa difícil. É preciso sempre que façamos a distinção entre preconceito e discriminação. O que nós temos que combater é a discriminação, ou seja, quando esse preconceito deixa de ser apenas uma atitude ou um modo de pensar das pessoas e se transforma em práticas sociais.
Primeiro é preciso reconhecer a existência do preconceito linguístico, conhecer os modos como ele se manifesta concretamente como atitudes e práticas sociais, denunciar isso e criar modos de combatê-lo.
Justamente pelo fato de o preconceito linguístico nas sociedades ocidentais ser derivado das práticas escolares, na minha opinião, o grande mecanismo para começar a desfazer o preconceito linguístico, a discriminação linguística, está também na pratica escolar. É muito importante que a escola, em sociedades letradas como a nossa, permita ao aluno esse processo do acesso ao letramento a partir de práticas pedagógicas democratizadoras, em que as variações linguísticas sejam reconhecidas como prática da cultura nacional, que não sejam ridicularizadas. E é claro que isso tem um funcionamento político muito importante, não só na escola, mas em toda a sociedade.

Por isso que no Brasil, eu e um conjunto de outros linguistas e educadores estamos sempre atacando muito o preconceito linguístico e propondo práticas pedagógicas democratizadoras. Que a criança, ao chegar na escola falando uma variedade regional menos próxima do padrão, não seja discriminada. Nosso trabalho atualmente se centra muito na escola, nos materiais didáticos e na formação dos professores de português, para que não sejam eles mesmos perpetuadores do preconceito linguístico e da discriminação.
Além disso, vale considerar que, em menos de meio século, a proporção mundial entre a população urbana e a rural ficou muito desigual, com a população mundial muito mais urbanizada. A urbanização implica o contato com formas linguísticas de maior prestigio, na televisão, na escola, na leitura etc. Isso vai implicar também uma espécie de nivelamento linguístico. Embora as variedades linguísticas se mantenham, quanto mais pessoas souberem ler e escrever e tiverem ascensão social, é mais provável que haja um nivelamento linguístico maior.
No caso específico do Brasil, nos últimos oito anos, quase 30 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e com isso vão impor também sua maneira de falar. Outro dado muito importante é que a grande maioria das pessoas que se formam professores (de português, principalmente) vem dessas camadas sociais. Portanto, o professor que está indo para sala de aula já é falante dessas variedades linguísticas que antigamente eram estigmatizadas. Isso vai provocar um grande movimento de valorização dessas variedades menos prestigiadas. Estamos assistindo a um momento muito importante da história sociolinguística do Brasil.


*Matéria do Brasil de fato [1]


Marcos Bagno nasceu em Cataguases (MG), mas sempre viveu fora de seu estado de origem. Depois de ter vivido em Salvador, no Rio de Janeiro, em Brasília e no Recife, transferiu-se em 1994 para a capital de São Paulo, onde viveu até 2002, quando se tornou professor do Departamento de Lingüística da Universidade de Brasília (UnB), onde atua na graduação e no programa de pós-graduação em Lingüística. Coordena atualmente o projeto IVEM (Impacto do Vernáculo sobre a Escrita Monitorada: mudança lingüística e conseqüências para o letramento escolar).

Como escritor, Bagno iniciou sua carreira em 1988 ao receber o IV Prêmio Bienal Nestlé de Literatura pelo livro de contos "A Invenção das Horas", publicado pela Editora Scipione.

A militância de Bagno contra toda forma de exclusão social pela linguagem se tornou mais conhecida depois da publicação do livro "Preconceito lingüístico: o que é, como se faz" (Ed. Loyola) que, desde seu lançamento, em 1999, vem sendo reeditado de modo ininterrupto e constante, com uma edição nova a cada mês. Já perto de atingir sua 50ª edição, o livro é amplamente utilizado nos cursos de Letras e Pedagogia de todo o Brasil.
No início de 2007 a Parábola Editorial lançou "Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística". Neste novo livro, Bagno analisa os problemas existentes nas abordagens que livros didáticos e materiais de formação docente vêm dando à variação lingüística, problemas decorrentes da falta de bons fundamentos teóricos para o tratamento do tema. O livro traz os principais conceitos da sociolingüística, propõe um roteiro para a análise crítica dos materiais didáticos, oferece atividades práticas para o tratamento da variação e da mudança em sala de aula e, por fim, leva o leitor a refletir sobre os conceitos abordados por meio de exercícios.

FONTE:
http://profissionais-do-futuro.blogspot.com/2009/04/marcos-bagno-nasceu-em-cataguases-mg.html

ENTREVISTA
A gramática rebelde



O professor da Universidade de Brasília, escritor e lingüista, Marcos Bagno, natural de Cataguases (MG), é um insurgente contra toda forma de discriminação social por meio da linguagem. “O preconceito lingüístico precisa ser reconhecido, denunciado e combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social”, diz nesta entrevista que antecedeu a Aula Inaugural do Sinpro/RS, em Porto Alegre, na qual Bagno é palestrante – ver programação na página 17. Mestre em Lingüística e Doutor em Língua Portuguesa pela USP, ele já publicou mais de 30 livros – de literatura e de divulgação científica, entre os quais A língua de Eulália (Contexto, 1997), Dramática da língua portuguesa (Loyola, 2000) e Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação lingüística (Parábola, 2007). Bagno defende o reconhecimento do “português brasileiro” ou simplesmente “brasileiro”, língua que tem mais de 200 variações no território nacional, e questiona a norma-padrão tradicional da Língua Portuguesa, criada pelos gramáticos normativistas portugueses no século 19.

Por Gilson Camargo

Extra Classe – O senhor tem afirmado que a norma-padrão da língua portuguesa se transforma com freqüência em instrumento de exclusão social. O que é preconceito lingüístico?


Marcos Bagno – É preciso distinguir a “norma culta”, que é a língua falada e escrita pelos brasileiros com acesso à cultura letrada, da “norma-padrão”, fonte de preconceito social, que não é língua de ninguém, é só um ideal de língua, cada vez mais distante e difícil de ser alcançado – quase um saber esotérico! Não se pode confundir o uso real, autêntico, empiricamente coletável da língua por parte dos falantes privilegiados (a norma culta), do modelo idealizado de língua "boa”, arbitrariamente definido pelos gramáticos normativistas. O preconceito lingüístico existe em todas as sociedades onde se estabeleceu uma tradição escolar, uma cultura literária e instituições reguladoras dos usos da língua como a Academia Brasileira de Letras, por exemplo. Uma vez que toda e qualquer língua é essencialmente heterogênea, o que ocorre é a exclusão da maioria dos falantes do círculo restrito do “falar bem”. No caso do Brasil, nem mesmo as camadas privilegiadas da população acreditam falar bem a língua portuguesa, porque nosso modelo de “língua certa” é extremamente arcaico, inspirado nos usos literários dos escritores de Portugal na primeira metade do século 19.

EC – Por que Pasquale Cipro Neto, Josué Machado, Eduardo Martins, Arnaldo Niskier, que se autodenominam gramáticos, não aceitam a variação lingüística e desqualificam os lingüistas?
Bagno – Não classifico nenhum deles como gramático. Esse título cabe a especialistas, a filólogos, a pessoas que dedicam sua vida à pesquisa da tradição gramatical, à revisão das bases teóricas da doutrina como Evanildo Bechara, Celso Cunha, Celso P. Luft, Rocha Lima. As pessoas citadas na pergunta fazem parte daquilo que chamo de “comandos paragramaticais”. Não têm formação científica suficiente, muitas vezes não têm nenhuma, nem são da área das Letras, e se limitam a reproduzir, sem crítica, a doutrina gramatical normativa, como se ela fosse um bloco compacto, como se não houvesse divergências teóricas entre os próprios gramáticos. Essa atitude é muito antiga. Desde que a instituição gramatical surgiu, há 300 anos antes de Cristo, no mundo de cultura grega da Antigüidade, há sempre um grupo de pessoas preocupadas com a “decadência” e a “ruína” do idioma e lutando para preservar a língua.


EC – O que é mais importante, a língua falada ou a gramática tradicional ensinada na escola?
Bagno – A língua tem que ser estudada e apreciada sempre em sua totalidade de manifestações: como faculdade cognitiva, como sistema de palavras e regras estruturado para a interação humana, como instituição social, como forma de conhecimento do mundo. E também tem de ser estudada em todas as suas modalidades: falada, escrita, híbrida. A língua falada tem seu lugar no ensino assim como a escrita. Não basta reconhecer que a criança, quando chega na escola, já sabe falar a língua. É preciso mostrar a ela como essa língua falada pode ser usada nas interações sociais, quais são as diferenças entre os gêneros discursivos, entre os eventos de interação, quais são as instâncias públicas e privadas de uso da fala, e quais as normas sociais que presidem esses usos. A gramática tradicional, como patrimônio cultural do Ocidente, merece ser estudada, mas não como uma doutrina cheia de dogmas e verdades eternas, e sim como um conjunto de idéias e conceitos que precisa ser constantemente criticado, revisto, atualizado e até, se for o caso, abandonado no todo ou em parte.

EC – A proposta é reconhecer que a gramática normativa não é um dogma...
Bagno – Ao contrário do que apregoam alguns dos “comandos paragramaticais”, nenhum lingüista sério está mandando jogar as gramáticas no lixo, mas querendo que sejam tratadas como aquilo que elas são: obras produzidas por seres humanos – e não frutos de alguma ‘revelação divina’ – e, portanto, sujeitas à crítica e à reformulação. Os lingüistas são os primeiros a reconhecer que os gramáticos da Antigüidade tiveram intuições importantes ao definir sua doutrina, ao especular sobre o funcionamento da língua. Mas eles só se interessavam pela língua grega (e, mais tarde, pela latina), e todo o aparato que criaram (a nomenclatura tradicional) se adequava mais ou menos bem ao grego e ao latim. Para analisar outras línguas é preciso criar outros aparatos descritivos, outra teoria. O problema é que a gramática normativa virou uma instituição sociocultural, que passou a ser reverenciada como se fosse um crime submetê-la a juízo e revisão.

EC – O que deve vir antes, o estudo científico da língua ou o domínio da escrita e da leitura?
Bagno – No tocante ao ensino, já está provado e comprovado que o mais importante é promover o letramento dos aprendizes, isto é, a inserção destes cidadãos no mundo da cultura letrada que é o nosso. E isso só se faz por meio da leitura e da escrita, da escrita e da leitura, da reescrita e da releitura. Nada de entupir a cabeça das criancinhas com uma nomenclatura profusa, confusa, muitas vezes incoerente. Vamos deixar isso para mais tarde, lá pelo Ensino Médio, quando a pessoa já souber ler e escrever bem. Se é só no Ensino Médio que as aulas de química, física, biologia aparecem, por que o estudo científico da língua tem de ser feito já nos primeiros anos de escolarização? Vamos pôr essa gente para ler e escrever, pois é disso que o cidadão precisa na sua vida diária. Nenhum profissional bem-sucedido, hoje, em qualquer área de atuação, precisa saber o que é uma “oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo”, mas precisa saber ler e escrever muito bem. E a gente só aprende a ler e a escrever... lendo e escrevendo!


EC – A gramática da línguapadrão está focada em uma das variedades lingüísticas, a escrita, que tem como modelo a literatura de Portugal. Sendo assim, esse ideal de língua desconhece a identidade social e cultural dos brasileiros?
Bagno – Trata-se de assumir que nós falamos uma língua toda nossa, o português brasileiro ou simplesmente brasileiro, com gramática própria, bastante diferente da do português europeu, e mais diferente ainda da normapadrão tradicional (que não é língua de ninguém!). Quando isso for assumido sem medo nem escrúpulos, poderemos produzir gramáticas que descrevam e autorizem o que já é falado e escrito por aqui há mais de cem anos; poderemos parar de ensinar coisas irrelevantes, modos de conjugação verbal que ninguém fala (nem escreve), regras de concordância obsoletas, colocação pronominal e outras coisas que não têm nada a ver com o uso real, contemporâneo do português brasileiro, inclusive da parte dos mais letrados, dos melhores escritores de cem anos para cá.

EC – Falta correspondência entre pesquisa e políticas públicas no campo da linguagem?
Bagno – A mudança depende, sobretudo, de uma política lingüística, coisa que não existe no Brasil. É preciso que o Estado legisle, racionalmente, sobre as questões da língua e das línguas (são mais de 200 no território brasileiro!) e sobre o ensino dessa(s) língua(s). E é para isso que esse mesmo Estado mantém, nas universidades públicas, importantes centros de pesquisa em lingüística teórica e lingüística aplicada: para subsidiar as ações públicas no tocante às questões de linguagem. Porém, o Estado brasileiro ainda não acordou para isso. Acima de tudo porque vivemos numa ilusão de monolingüismo: aqui “todo mundo fala português”, “todo mundo se entende”, então não é preciso que o Estado interfira nesse campo. Tremenda ilusão! Os exemplos de países como o Canadá, a Espanha, a Bélgica, a Suécia, a Noruega, a Índia, e até nosso vizinho Paraguai, entre outros – países onde existe uma política lingüística clara, oficial, explícita –, deveriam servir de fonte de inspiração e reflexão para os legisladores brasileiros para que nossa sociedade fosse realmente democrática, inclusive no campo das relações lingüísticas.



EC – Qual é o papel da escola na constituição dessa educação lingüística digna a que o senhor se refere?

Bagno – Não se trata, como defendem alguns desavisados, de reconhecer e valorizar as variedades regionais, sociais, etc. e ficar no discurso (reacionário) do “politicamente correto”. O papel fundamental da escola é levar as pessoas a conhecer e aprender coisas que elas não sabem. Assim, na questão da linguagem, a tarefa da escola é levar os aprendizes a dominar plenamente a leitura e a escrita, coisas que só se aprende na escola, e também conhecer e usar outras formas de falar e de escrever, entre elas (mas não só!) as formas tradicionais, eruditas, clássicas ou “cultas”. Trata-se, então, de ampliar o repertório lingüístico dos aprendizes. Mas isso tem que ser feito com uma pedagogia democratizadora das relações sociais, e não por meio da condenação das formas variantes, das formas inovadoras, e pela imposição autoritária das formas consideradas as únicas “certas”.


EC – Formas lingüísticas já fixadas pelo uso, inclusive na língua escrita, ainda são condenadas pela gramática normativa. Como mudar isso?
Bagno – De fato, o apego excessivo à norma-padrão tradicional cria esses conflitos. É inaceitável que formas não registradas pela tradição normativa, presentes até mesmo na nossa melhor literatura há mais de cem anos, continuem sendo condenadas pelos puristas. É ridículo dizer que a forma “eu custo a crer” é errada, quando ela já aparece desde José de Alencar (que morreu em 1877). É preciso divulgar amplamente os resultados das importantes pesquisas que têm sido feitas sobre o português brasileiro nos últimos 50 anos, mostrar o que já se fixou e o que já desapareceu da língua, e autorizar esses usos novos. Como já disse antes, é preciso haver uma política lingüística de Estado que reconheça a nossa língua como ela é hoje. Por exemplo, o Ministério da Educação deveria produzir uma gramática de referência do português brasileiro que descrevesse e autorizasse os usos que já estão aí há tanto tempo, mas que continuam sendo perseguidos como “pecados” pelos “comandos paragramaticais”.

EC – Qual é a relação entre linguagem e poder?
Bagno – A linguagem é um importantíssimo elemento de dominação sociocultural e política, talvez o mais importante instrumento de dominação e opressão. Quem está no poder quer continuar nele e, para isso, a maneira de falar dos poderosos, dos privilegiados, se transforma numa arma de defesa do poder contra a eventual insurreição dos oprimidos. O lingüista italiano Maurizzio Gnerre, que trabalhou no Brasil, escreveu que a norma-padrão tradicional é uma “cerca de arame farpado”, que separa uma pequena elite de iluminados do resto da população. Não é por acaso que, em todas as sociedades européias, o modelo de língua “certa” tenha sempre se baseado no modo de falar das regiões mais ricas, politicamente importantes, centros do poder. Não é por acaso também que o inglês-padrão é chamado de “inglês da Rainha”. Assim como o rei francês Luís XV dizia que “o Estado sou eu”, os poderosos também podem dizer “língua é a minha” – o resto é “jargão”, “algaravia”, “dialeto”, “caçanje”, ou simplesmente “não é português”.
[Foto: Marcos Muzi]

FONTE: www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/mar08/entrevista.asp