Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Em 2 de outubro ocorreram eleições em todo o país para prefeitos (as) e vereadores (as). A peleja agora é para quem se elegeu e deve evoluir: “pensar global e agir local” pela preservação da democracia no Brasil.
Ao acordar no dia das eleições, senti saudades do
tempo em que boca de urna não era delito eleitoral (artigo 39, parágrafo 5º, I
e II, Lei Ordinária 9.504/1997). Nunca entendi boca de urna como um cerceamento
da vontade do (a) eleitor (a). Agora é crime!


Até ri pensando que, se vovó Maria Andrelina fosse
viva, no fuzuê das eleições onde moro, pediria para ela fazer uma promessa para
a gente vencer, embora ela dissesse que não fazia promessa para ninguém ganhar
eleição porque “a gente nunca sabe quem é mais mentiroso, pois ‘inleição’ é
tempo de promessa”. Era uma santeira de muita fé, e meu avô dizia que os santos
gostavam dela, como escrevi em “Para que servem os santos” (O TEMPO, 8.5.2007).
“Nasci no médio sertão do Maranhão, numa família de
moral camponesa rígida, de negros dos mais católicos, sem sincretismos, que
abominava terecô e assemelhados. E era muito apegada aos santos. Elementar,
onde não há nenhum tipo de atenção à saúde, se ‘apegar’ com os santos era o que
restava em caso de doença.

“O único testemunho escrito que conheço é o de dona
Nilza do Goiabal (bairro de São Luís), que, ‘quando jovem, assistiu em São Luís
à peregrinação de Nossa Senhora de Fátima, de Portugal. Levada pela emoção,
prometeu a si mesma fazer a procissão de Nossa Senhora de Fátima, são Benedito
e um tambor de crioula’ (Josimar Silva, ‘Perfil Popular’, Boletim 10, Comissão
Mineira de Folclore, dez. 1977).


“Tudo que acontecia de bom ela logo dizia que havia uma promessa a pagar. Na adolescência, comecei a implicar com esse jeito dela de ser. Havia motivos de sobra. Criança, usei uma roupa marrom, como o hábito de são Francisco, por três meses, num calor terrível, pagando promessa feita por ela...
“Para que servem os santos? Na compreensão popular,
por estarem mais próximos de Deus, podem intermediar pedidos. Promessa não é
isso? Pede-se ao santo e, conseguido o intento, paga-se. Promessa é dívida”.
Ah, quem dera que prefeitas e prefeitos pensassem
assim. Mas nosso papel é cobrar. Vamos, gente!

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