Para nós, Márlia é uma linda sempre-viva de nosso jardim
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_

Hoje é aniversário de minha filha Lívia, mãe de Clarinha – que fez 4 anos em 30 de dezembro passado. Por aniversariar em janeiro, mês de férias, passamos pouquíssimos aniversários dela juntas; hoje é um deles.

Impossível relembrar Lívia criança sem a presença da professora Márlia Mesquita de Moraes, que, aos 56 anos, em 12 de fevereiro de 2001, foi assassinada em frente ao shopping Diamond Mall, com três tiros, pelo ex-marido, com quem foi casada por 39 anos, o empresário dos setores de armarinhos e informática Moacir Ribeiro de Moraes, à época com 63 anos. Os filhos do casal declararam que ele ameaçava Márlia de morte porque, em processo de separação litigiosa, não aceitava dividir os bens do casal – entre eles, veículos importados e imóveis!
Quando Márlia foi assassinada, Lívia não estava em BH; e eu, de plantão no dia do assassinato e no do enterro, não consegui despedir-me de uma pessoa que tanto carinho deu à minha filha desde que foi sua aluna, no final da década de 1980.
O assassinato de
Márlia é um caso
exemplar de femicídio
impune a zombar da
vida das mulheres.
Para a Justiça, Márlia,
não é ninguém
O assassinato de Márlia Mesquita de Moraes é um caso exemplar de femicídio impune a zombar da vida das mulheres, pois o assassino, capturado poucos dias após o crime, ficou detido no Ceresp da Gameleira, mas obteve prisão domiciliar alegando câncer de próstata. “Sem comprovar a doença, foi preso na penitenciária Dutra Ladeira, mas conseguiu outro habeas corpus para responder ao processo em liberdade. O empresário ficou dois anos preso e outros quatro livre”, até ser julgado pelo 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette, em 6 de fevereiro de 2006, quando foi condenado por homicídio qualificado a apenas 14 anos de prisão; todavia, permaneceu em liberdade, aguardando o julgamento de um “recurso”.
O assassino condenado, porém solto, em abril de 2007, tentou matar com cinco tiros seu sobrinho e compadre José Agnaldo Teotônio. Preso em flagrante, o delegado garantiu que ele ficaria “detido aguardando julgamento de tentativa de homicídio” (Patrícia Giudice, O TEMPO, 7.3.2007).

Quer dizer: o assassino ficou preso por uns dias, não pelo crime pelo qual foi condenado; depois, foi para o regime semiaberto! Em 4.12.2010, foi condenado a seis anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto, pela tentativa de homicídio. Isso é, ele usufrui do conforto de sua casa e grita em nossa cara que, quando se tem dinheiro, matar é permitido!
Sei que Márlia foi uma pessoa de crucial importância na vida de minha filha, Portanto, quero registrar hoje, quando a Lívia “faz anos”, que, para a Justiça brasileira, Márlia, como todas as mulheres, não é ninguém, mas, para nós, é uma linda sempre-viva de nosso jardim de Cecília Meireles.
Sei que Márlia foi uma pessoa de crucial importância na vida de minha filha, Portanto, quero registrar hoje, quando a Lívia “faz anos”, que, para a Justiça brasileira, Márlia, como todas as mulheres, não é ninguém, mas, para nós, é uma linda sempre-viva de nosso jardim de Cecília Meireles.

Sem palavras...
ResponderExcluirobrigada pela dupla homenagem mãe! adorei!
ResponderExcluirUma homenagem emocionante. E ao mesmo tempo uma denúncia muito forte
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