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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Stéphane Hessel, o embaixador ético e político da indignação

A indigação num “best-seller”

7 janeiro 2011


A venda de "Indignai-vos!", de Stéphane Hessel, já ultrapassou os 500 mil exemplares. Aos 93 anos, este filósofo e antigo resistente faz um apelo ao envolvimento social e político em nome da emoção suscitada pelas injustiças.

Um casal à volta dos sessenta, com ar de professores reformados, chega a correr mesmo em cima da hora de fechar: "Tem o livro de Stéphane Hessel?” "Está ali um monte deles”. Um grande suspiro de alívio: pelos vistos, tinham. Um outro livreiro conta que alguns clientes compram por atacado: "Levo dez, para oferecer aos meus amigos”. Esta cliente pergunta na caixa: "Para que associação reverte o dinheiro das vendas?"
Publicado há dois meses, Indignai-vos!, de Stéphane Hessel, teve um êxito fulminante: 500 mil exemplares vendidos, dez edições e pedidos de tradução no mundo inteiro, da Turquia ao Brasil, da Polónia ao Japão.

Uma emoção coletiva

Sendo uma brochura de umas vinte páginas a três euros, este êxito não é tanto uma receita editorial milagrosa, mas sobretudo um fenómeno social. Da mesma maneira que trauteamos uma música e recomendamos um filme aos nossos amigos, Indignai-vos! cristaliza o espírito de uma época. Comprar esta brochura é um ato militante, um gesto de comunhão, a participação numa emoção coletiva. O objetivo, numa sociedade esgotada pelos altos e baixos da finança mundial e seus efeitos sociais, é encontrar palavras para dizer que a sociedade se ressente.
Quando escreve: "A atual ditadura internacional dos mercados financeiros […] ameaça a paz e a democracia", Stéphane Hessel exprime um sentimento largamente generalizado com a autoridade que a sua história pessoal lhe dá.
Depois do fracasso do alter mundialismo, uma vasta franja de opinião procura um meio para dar a conhecer que não quer viver num mundo onde uns enriquecem ao mesmo ritmo a que outros empobrecem. Acabou de encontrar um. Embora os seus leitores reúnam diversos ativistas de esquerda, Stéphane Hessel assume claramente a herança social-democrata.
Quanto ao resto, no seu texto, Hessel mantém uma grande moderação. Ao estabelecer uma comparação com a Resistência, pretende desde logo diversificar: "As razões para se indignar podem parecer atualmente menos claras, ou o mundo demasiado complexo. Quem manda, quem decide? Nem sempre é fácil distinguir as correntes que nos governam. Deixámos de ter contacto com uma pequena elite cujas atitudes compreendíamos claramente. É um vasto mundo, que sabemos bem ser interdependente."
E embora se coloque sob a autoridade do programa económico do Conselho Nacional da Resistência, não afirma conhecer soluções: "As propostas que figuram neste texto e os desafios que designo não são muito originais em si mesmos", reconhece.

A indignação é por si só um valor?

Resta o título, Indignai-vos!, slogan eficaz, mas ambíguo. A indignação é a chave do compromisso, repete Hessel, eliminando outros motivos que pudessem conduzir à ação política: tomada de consciência, decisão racional, desejo de servir, amor à justiça, ou à verdade …
Com este apelo à indignação, Hessel, infelizmente, alinha pelo diapasão de uma época dedicada ao espetáculo das emoções. A filósofa Hannah Arendt já havia analisado estes perigos ao provar como a "política da piedade", baseada na emoção suscitada pela miséria alheia, poderia prejudicar uma verdadeira "política da justiça". Será que uma "política da indignação" não irá correr o mesmo risco? Será a indignação por si só um valor?
Houve uma época em que o sonho dos avant-gardes das artes e dos contestatários era chocar a burguesia: a indignação era assim uma reação de direita. De A Velha Senhora Indigna, um conto de Bertolt Brecht, eis que passamos assim ao "velho senhor indignado".

                   Biografia

O século XX num só homem

Stéphane Hessel publica Indignai-vos! no final de uma vida fabulosa, que abrange quase toda a História do século XX. Nascido em 1917, em Berlim, numa família de judeus (mas parcialmente convertida ao luteranismo), chega a França em 1925, naturaliza-se em 1937 e entra para a Normale Sup em 1939. Mobilizado, prisioneiro, consegue fugir e junta-se ao general De Gaulle, em Londres. Enviado para França, em 1944, é preso e deportado para Buchenwald, onde dissimula a sua identidade para escapar à forca. Foge mais uma vez, é capturado, salta de um comboio, junta-se aos soldados americanos…
No dia da Libertação, entra para o Secretariado-Geral da ONU e participa na redação da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Galardoado com o título de "Embaixador de França" pela esquerda, em 1981, dedica-se, na reforma, à luta pelos "sem papéis" (serviu de mediador por ocasião da ocupação da Igreja de São Bernardo, em Paris) e, mais recentemente, pelos palestinianos, associando-se inclusivamente à campanha de boicote aos produtos israelitas.
Promovido a Grande Oficial da Legião de Honra, em 2006, Stéphane Hessel dá ares de velho senhor à moda antiga. Afável, sedutor, extremamente cortês, não há nada que mais o encante do que levantar-se da mesa no final de uma refeição e recitar Baudelaire ou Paul Verlaine. Mas também não menospreza o prazer da política: figurou, o ano passado, em posição não elegível, nas listas da Europe Ecologie, e continua a ser militante do PS – atualmente, apoia Martine Aubry [para as eleições presidenciais de 2012], de quem é amigo.
Eric Aeschimann, Libération (excertos).
FONTE:  presseeurope
 
"Indignai-vos", diz Hessel
04/10/2011, Hugo Almeida
A ecologia, o terrorismo e o fosso entre os muito ricos e os muito pobres são os três desafios que a Humanidade enfrentará nas próximas décadas, afirmou o ex-diplomata Stéphane Hessel, um homem que diz "Lutei contra Hitler. E venci."
A propósito da publicação em Espanha da autobiografia "Danse avec le siécle", editada originalmente em 1997, Stéphane Hessel, atualmente com 93 anos, falou dos desafios da Humanidade para os próximos tempos e reforçou o apelo para que os cidadãos se empenhem numa mundança.
 "Nunca devem desanimar", apelou.
 Stéphane Hessel nasceu em Berlim em 1917, mas cedo foi viver para França com a família, tendo obtido a nacionalidade francesa. A origem judaica obrigou-o a abandonar o país aquando da ocupação nazi, para se juntar à Resistência liderada por De Gaulle em Inglaterra.
 Em 1944, foi preso em território francês e enviado para campos de concentração nazis, de onde conseguiu evadir-se. Após o fim da guerra, iniciou uma longa carreira diplomática e representou a França junto das Nações Unidas.
 Stéphane Hessel é o único redator ainda vivo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948.
 Em 2010 publicou o pequeno manifesto "Indignai-vos", um sucesso de vendas traduzido para 25 países, incluindo Portugal. Só em França, o livro vendeu mais de dois milhões de exemplares.
 A autobiografia que publicou em 1997 foi agora editada no mercado espanhol e a esse propósito recordou a longa vida à agência Efe.
 "O mundo é menos injusto hoje do que quando eu era jovem, mas ainda continua injusto", lamentou.
 Quase a completar 94 anos, Stéphane Hessel recordou os tempos em que foi enviado para os campos de cooncentração, onde assistiu "ao horror absoluto", e o dia em que, no 27º aniversário, escapou à forca trocando de identidade como um homem que tinham morrido de tifo.
 A tábua de salvação terá sido o optimismo, a alegria de viver e a poesia, que pode recitar "aos camaradas em alemão, inglês e francês".
 Tanto nos campos de concentração como nas fileiras da Resistência, Stéphane Hessel orgulha-se de dizer hoje: "Lutei contra Hitler e fui eu que ganhei".
 Aos 93 anos, Stéphane Hessel desvaloriza o facto de estar indicado para o Nobel da Paz e diz-se sossegado perante am morte, porque é alguém que aproveitou bem a vida e foi muito feliz.


Dalai Lama e Stephane Hessel

Stéphane Hessel, o embaixador da indignação
DE SÃO PAULO
13/02/2011-08h00

"NOVENTA E TRÊS anos. É a derradeira etapa. O fim não está longe."
A despeito do que pode sugerir a abertura de "Indignez-vous" ("Indignai-vos", Indigène Éditions), de Stéphane Hessel, a nova coqueluche da esquerda francesa não é a constatação nostálgica de uma vida que chega ao final, mas um convite à indignação.
Segundo sua editora, Sylvie Crossman, "ele convida à não cooperação com a financeirização do mundo, prega a desobediência civil a leis e reformas injustas, como a recente das aposentadorias".
Com o panfleto de 32 páginas que lançou em outubro, ao módico preço de 3 euros (menos de R$ 8), o nonagenário embaixador se transformou numa zebra da lista de mais vendidos francesa: já vendeu 1,3 milhão de exemplares, deixando para trás o prêmio Goncourt 2010, "La Carte et le Territoire" (O Mapa e o Território), romance de Michel Houellebecq.
O que poderia ser um fenômeno tipicamente francês --uma diatribe indignada contra a reforma do Estado e o capitalismo financeiro-- começa a transbordar pelas fronteiras da Europa.
Há edições previstas em Portugal, na Espanha (em espanhol, basco, catalão e galego), em países do Leste europeu, na Turquia, na Escandinávia,
na Coréia do Sul. No Brasil, deverá sair pela editora Leya, ainda sem previsão de data.

Em 23 de fevereiro, a revista semanal americana "The Nation" deverá publicar
o texto na íntegra (depois será lançado em livro).


FENÔMENO UNIVERSAL
"Ele vai se tornar um fenômeno universal porque a mensagem de Hessel é universal", diz Sylvie Crossman. Para ela, o autor é comparável ao líder indiano Mahatma Gandhi. "O embaixador Hessel é um homem livre, um partidário da não violência."
O engajamento do embaixador na causa palestina foi motivo de uma recente polêmica, quando uma conferência sua na École Normale Supérieure, um dos templos
da intelectualidade francesa, foi cancelada.

Num manifesto publicado no jornal "Libération" em janeiro, o filósofo Alain Badiou apontou como origem do cancelamento pressões do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França e de intelectuais como os filósofos Bernard-Henri Lévy e Alain Finkielkraut, de perfil direitista.
Em seu livro, Hessel defende as conquistas sociais trazidas pela Resistência logo depois da Segunda Guerra, como a previdência social, com um argumento simples: "Como pode haver falta de dinheiro hoje para manter e prolongar essas conquistas já que a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde o fim da Guerra, quando a Europa estava arruinada?".
A política francesa de imigração,com "expulsões e suspeitas contra os imigrantes", também está na sua mira.

REAÇÕES
À direita, a reação ao panfleto de Hessel veio rápido - e de cima, o que prova que sua mensagem está longe de ser o benigno canto do cisne de um decano da esquerda gaulesa.
Embora o governo não seja explicitamente citado, o primeiro-ministro François Fillon, alinhado com o presidente Nicolas Sarkozy, vestiu a carapuça e saiu de sua habitual reserva para criticar: "A indignação pela indignação não é um modo de pensamento", disse ele no começo do ano.
À esquerda, a auto intitulada "insurreição pacífica" de Hessel parece trazer esperança para vencer os impasses de socialistas e comunistas franceses.
O embaixador está em todas as causas "subversivas" da França de hoje: a defesa dos sem-teto, dos imigrantes ilegais e da Palestina.
Engajou-se também no front ambiental, apoiando a candidatura do ex-líder de Maio de 68 Daniel Cohn-Bendit e de José Bové, líder agricultor antiglobalização, para o Parlamento Europeu de 2009, numa chapa verde.
Fez isso, segundo disse num comício, "para ver surgir uma esquerda impertinente que tenha peso na realidade política".
Num ponto, entretanto, Hessel concorda com Nicolas Sarkozy: "O ideal seria que o ex-presidente Lula se tornasse secretário-geral da ONU ", disse ele à Folha, ecoando as palavras do mandatário francês durante uma reunião do G-20 em Pittsburgh, nos EUA.
"Esse cargo é perfeito para ele", disse Hessel. Dilma Rousseff também o empolga: "Quem sabe ela não possa aprofundar as reformas sociais de Lula?".
Hessel vibrou quando a diplomacia brasileira reconheceu o Estado Palestino, gesto logo imitado por outros países sul-americanos.

AÇÃO
"Ele é de um otimismo e de um entusiasmo incríveis, sem ser ingênuo, nem utópico. Seu otimismo o leva à ação", garante a franco-suíça Christiane Hessel, 83, sua segunda mulher e companheira "full time".
Durante o encontro com a Folha, o telefone não parou de tocar com pedidos de entrevistas. O "Monsieur Droits de l'Homme" (Sr. Direitos Humanos), como o apelidou a imprensa, teve uma vida movimentada, conforme narrou o jornalista Jean-Michel Helvig no livro "Citoyen Sans Frontières" (Cidadão Sem Fronteiras, Fayard) e no
documentário alemão "Der Diplomat" (1994), de Antje Starost.

Membro da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso e torturado pela Gestapo, tendo sido enviado para os campos de concentração de Buchenwald e de Dora-Mittelbau.
Com o fim da guerra, participou da equipe de redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), ao lado do brasileiro Oswaldo Aranha, do qual não tem lembranças específicas, embora ressalte sua importância.
Nascido em Berlim, em 1917, naturalizado francês vinte anos depois, Hessel é filho do romancista alemão Franz Hessel, de origem judaica, e de Helen Grund, de família protestante.
Em 1924, Helen deixou a Alemanha com o filho para viver na França com o escritor Henri-Pierre Roché. Franz e Henri-Pierre amavam a mesma mulher e com ela formaram um triângulo amoroso, eternizado no romance autobiográfico "Jules et Jim" e sobretudo na adaptação cinematográfica de mesmo nome, dirigida por François Truffaut (1962).

No filme, o filho de Helen (Jeanne Moreau) é uma menina, o que Christiane Hessel considera "bizarro". Em quase um século de vida, o diplomata se casou duas vezes: com a primeira mulher, teve dois filhos, Antoine e Michel, e uma filha, Anne,
todos os três médicos em Paris.


INTOCÁVEL
Hessel não é um embaixador francês comum, observa o secretário dos Direitos Humanos do governo FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, "mas tem esse título, essa honraria que poucos têm, isso lhe dá um ar de 'intocável'".
Tão intocável que, durante uma viagem a Gaza e à Cisjordânia em 2002, a convite de pacifistas israelenses, logo depois da segunda intifada (levante palestino), cada vez que o ônibus era parado num "check point" na estrada para Ramallah, Hessel se levantava e declamava versos de seus poetas românticos preferidos, em alemão, em francês e em inglês. Quem lembra é Martin Hirsch, político francês de origem judaica que estava no grupo de 11 intelectuais franceses.
Desde aquela viagem, Hessel tornou-se um ardoroso defensor do Tribunal Russell para a Palestina (russelltribunalonpalestine.com), iniciativa da Fundação Bertrand Russell para a Paz, que procura defender as resoluções da ONU e promover a paz e a justiça no Oriente Médio.
O embaixador vai doar 100 mil euros dos direitos autorais do livro para o pagamento de juristas que trabalham no tribunal.

SEGREDO
Qual é o segredo de um livro de 30 e poucas páginas vender 1,3 milhão de exemplares em poucas semanas?
Para Paulo Sérgio Pinheiro, o êxito de Hessel foi "retomar o programa e os valores da Resistência da França depois da derrota do regime fascista de Vichy, momento de reconstrução da democracia democracia francesa, agora no século 21, numa conjuntura política em que o governo Sarkozy revigora o racismo, escorraça os imigrantes, persegue os ciganos, encarcera crianças em centros de detenção".
Pinheiro conheceu o embaixador em Bujumbura, capital do Burundi, em 1998, ambos em missão diplomática. A TV franco-alemã filmava um documentário sobre os 50 anos da Declaração Universal.
Num clima tenso, a comitiva e a equipe de filmagem jantavam ao ar livre, com o hotel sob ameaça de invasão pelos rebeldes. "Na sobremessa", lembra Pinheiro, "Hessel pediu licença para recitar 'Les Chimères', de Gérard de Nerval... e depois uns sonetos de Shakespeare. Todos nós ficamos maravilhados".

FONTE: Folha.com

6 comentários:

  1. Há esperanças para o mundo, sim!

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  2. Luís Eduardo Borges Feitosa17 de outubro de 2011 às 14:55

    Ele é simplesment eo máximo ao dizer: "Lutei contra Hitler. E venci."

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  3. Quanta coragem e quanta certeza contidas em
    Stéphane Hessel!!!!

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  4. Cara Fátima Oliveira, achei o post maravilhoso, sobretudo porque ajuda a entender um pouco o Movimento Indignados

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  5. Muito bom. Eu não sabia nada disso

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