Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Ao ler o artigo “Mulher” (no blog #AgoraÉqueSãoElas, em 22.2.2016), da atriz e escritora Fernanda Torres, no qual diz: “A vitimização do discurso feminista me irrita mais do que o machismo”, além de expor ideias irreais sobre assédios sexuais sofridos por Irene, sua babá negra, pensei: escrito diretamente da Belle Époque, cujo centro irradiador era Paris, então capital cultural do mundo, mas que persiste como estilo de vida!
Matutando sobre as linhas e entrelinhas do artigo, não esquecendo que
vivemos num país desigual, de muitas castas, racista e machista, num contexto
de fascismo descarado, repito: por mais solidários que sejam, ricos e brancos
jamais saberão o que é exploração de classe e a vida sob o tacão do racismo.
Tive a sensação de carregar água na peneira na longa peleja contra o
patriarcado, o racismo e a opressão de classe, com todas as mazelas deles
decorrentes.

A Belle Époque é contemporânea das
mobilizações que resultaram na Revolução Russa de 1917. Enquanto a Belle Époque
fascinava letrados do mundo (leia-se: classe média e burguesia), as ideias
socialistas ganhavam corações e mentes da classe operária em diferentes países.
A Belle Époque é contemporânea da segunda onda feminista: luta sufragista,
mobilizações das operárias (criação de sindicatos femininos) e internacionais
socialistas de mulheres: 1ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas,
Stuttgart, 1903; 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas,
Copenhague, 1910; e 3ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas,
Berna, 1915.




O inusitado de “Mea culpa” é a
rapidez com que uma atriz do quilate dela, endeusada pelo seu trabalho, admite
que “meteu os pés pelas mãos” e sai da zona de conforto do estilo Belle Époque:
“Esperava-se de uma voz feminina que tem um espaço para se posicionar uma
opinião menos alienada e classista diante da luta pelo fim de tanta
desigualdade e sofrimento que as mulheres enfrentaram e enfrentam pelos
séculos”.
[Tia Ciata (1854–1924)]





É verdade, logo, são legítimos
desabafos e análises cruentos sobre os dois artigos da atriz e escritora.
Todavia, eu, do meu lugar de negra feminista, avalio que devo dizer no Dia
Internacional da Mulher: bem-vinda às lutas feministas e antirracistas,
Fernanda Torres!

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