Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Cresci ouvindo falar que São Luís era o terceiro
melhor Carnaval do Brasil. A gente se apaixonava pelas marchinhas que pegavam
fogo na Rádio Clube de Pernambuco, a mais ouvida nas brenhas dos sertões
nordestinos.
Falo da longínqua era dos anos 60, antes da radiola. O
povo fazia festa dançante sob os acordes de músicas tocadas no rádio. Basta
dizer que o primeiro rádio de Graça Aranha foi um Philco de mesa, comprado pelo
meu pai! Era 1961, 1962, por aí. Quem não viu não consegue imaginar a romaria
que foi conhecer um rádio!
Vi muito as quengas do Derivaldo pulando Carnaval na
rua, e o rádio tocando, enquanto o sanfoneiro descansava. Era assim na Graça
Aranha dos anos 60, que eternizei num romance, no qual o nome do dono do cabaré
é real, assim como a descrição que vai abaixo, que no livro é “Grotões dos
Bezerras”.



“O Carnaval: consistia em escassos fofões devidamente
mascarados e de homens mascarados vestidos de mulher zanzando nas ruas nos três
dias de Carnaval... Na segunda-feira de Carnaval havia o memorável desfile das
putas da cidade, que todo mundo esperava na maior ansiedade.
Até 1968, com quase 15 anos, jamais havia visto outro
Carnaval quando vim cursar a 8ª série ginasial em São Luís. Cheguei no sábado
de Carnaval. Eu e mamãe fomos, três dias seguidos, ver o corso na praça
Deodoro, os cordões de dominós, a casinha da roça, os fofões, os blocos –
sobretudo os de sujo... De lá para cá, o Carnaval de São Luís sofreu
modificações e 1.001 segregações que garantiam os desejos da “Branca” (Roseana
Sarney), que se dizia foliã e criou seu próprio circuito carnavalesco, deixando
minguar o Carnaval de rua. Em 2016, está em curso o “Carnaval de Todos”, cujas
atrações pré-carnavalescas estão sendo de babar.

Festa do lançamento do ‘Carnaval de Todos’ animou Centro Histórico de São Luís. Foto: Gilson Teixeira/Secom
Compartilho o que escrevi em “Até que enfim, papai
deixou!” (O TEMPO, 23.2.2003): “Desde a sua mais remota origem, o Carnaval é
momento de ‘furor igualitário’ e de desabafo popular. Há algo mais italiano?
Para uns, o Carnaval vem da Grécia: culto a Ísis e dos festejos em homenagem a
Dionísio. Para outros, surgiu nas festas dos inocentes e dos doidos, na Idade
Média. Polêmicas à parte, havia Carnaval na Antiguidade clássica e indícios
dele na Antiguidade pré-clássica: festas animadas, barulhentas, com máscaras e
lascívia.

O baile de máscaras, s/d, Giuseppe Bernardino Bison (Itália, 1762-1844)
(óleo sobre tela)
Carnaval, festa popular por excelência, é uma palavra
cuja etimologia está eivada de controvérsias, desde que o significado de
“terça-feira” gorda – dia após o qual é proibido comer carne, mas, em latim, é
carnelevamen ou “carne, vale!” e quer dizer “adeus, carne!”. Há quem diga que
carnelevamen é popularização de carnis levamen, que significa “prazer da
carne”, uma festa pagã, atrelada ao calendário da Igreja romana, que ocorre em
fevereiro ou em março, nos três dias que antecedem a Quaresma – 40 dias entre a
Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa.
Vários papas foram inimigos do Carnaval, mas Paulo II,
considerado o criador do baile de máscaras, no século XV, permitiu que as
festas fossem realizadas na Via Lata, ao lado do seu palácio”.



Maravilhoso, hoje descobrir esse seu post sobre o carnaval maranhense.
ResponderExcluir