Fátima Oliveira
Médica- fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
“Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio. Uma só pra mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo, e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele de Cardéque. Mas quando posso vou no Mindubim, onde um Matias é crente metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta e suspende” (Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas”).
O mundo não adotou nenhuma postura de indignação contra o fundamentalismo religioso que matava aos montes na Nigéria, até que islâmicos radicais, na França, bradando “Alá é grande”, no dia 7 último, quinto dia do massacre na Nigéria, promoveram um atentado à sede do semanário “Charlie Hebdo”, uma revista satírica que se pauta pelo secularismo – logo, mira todas as religiões –, no qual morreram 17 pessoas e várias ficaram feridas. Pontuo que, em 2014, a “Charlie Hebdo” já havia sido atacada por ter publicado uma charge sobre o profeta Maomé – os dois atentados foram, inequivocamente, contra a liberdade de expressão.
O arcebispo Kaigama foi cirúrgico em entrevista à BBC: “A mobilização internacional contra o extremismo não pode ocorrer somente quando há um ataque na Europa... Precisamos que esse espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou em Camarões”. Perfeito!
Na prática, as lutas pela liberdade de expressão, pela liberdade religiosa e contra o fundamentalismo religioso são muito íntimas, e a nossa boca é fundamental contra os fundamentalismos! O mundo seria mais acolhedor sem as guerras religiosas, sem tanta mortandade em nome de Deus/Alá, se o sincretismo de Riobaldo fosse a tônica: “Bebo água de todo rio”.
Riobaldo e Diadorim, como são representados na minissérie (1985).
PUBLICADO EM 27.01.15
FONTE: OTEMPO

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