Herança da cultura escravista que urge ser erradicada
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
Estou a matutar com meus botões, após ler duas
matérias sobre o racismo nosso de cada dia: “‘Não vou sujar minha mão com umaraça ruim’, disse australiana presa por racismo em Brasília” – fato ocorrido em
um salão de beleza, local que tem aparecido de vez em quando na mídia como
feudo de racismo, da clientela ou de trabalhadores; e “Racismo explica 80% dascausas de morte de negros no país”, que é um saber público, denunciado inúmeras
vezes.
Eu mesma já disse em “O racismo mata, às escancaras,
todo dia”, minha segunda crônica neste jornal, em 10 de abril de 2001! Então,
disse: “Na Conferência das Américas, em Santiago do Chile (2000), preparatória
da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, fui à tribuna dizer que, em meu
país, o Brasil, as crianças negras morrem mais que as brancas e, para mim, tal
fato é prova de racismo”.
Seppir precisa ser mais
arrojada em exigir do
governo uma medida
que diga que é uma
política de Estado a
tolerância zero
contra o racismo
arrojada em exigir do
governo uma medida
que diga que é uma
política de Estado a
tolerância zero
contra o racismo

E fui aos meus guardados. Escrevi “Bete, a manicure que se ufana de ser uma preta racista” (O TEMPO, 4.12.2012). Mais de um ano
depois, a delegacia nem sequer convocou a manicure Elizabete da Conceição Vaz
Soares, a Bete, para ouvi-la! E ela continua lépida, fagueira e racista no Dell
Cabeleireiros da avenida Prudente de Morais. E a coordenadoria municipal de
Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte nunca conseguiu um horário para
ouvir-me, embora eu tenha tentado inúmeras vezes durante dois meses! A
coordenadora estava sempre sem agenda! Eu não queria nada além de dizer que
estava à disposição para ajudar a pensar “ações de tolerância zero contra o
racismo” nos salões de beleza.
Quantos séculos
ainda teremos pela frente até uma nação livre de racismo? Não atino o que o
governo brasileiro está esperando, pelo menos, para escrever uma “Carta de
Compromissos do Estado Brasileiro para a Erradicação do Racismo” – algo capaz
de dizer que o Brasil abomina práticas racistas, para além das pequeninas
políticas públicas, quase cosméticas, para minorar os efeitos do racismo, posto
que elas são necessárias, mas insuficientes, atuam sobre fatos consumados e
nada possuem de pedagogia antirracista.
O racismo vige
no Brasil sob a batuta de uma cultura racista, herança da cultura escravista
que urge ser erradicada. Não suplantaremos uma cultura racista secular sem que
o governo queira erradicar as bases ideológicas da cultura racista. Entendo que
a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) precisa ser
mais arrojada em exigir do governo uma medida que diga com todas as letras que
é uma política de Estado a tolerância zero contra o racismo. Penso que o
caminho é por aí... Ou a Seppir discorda?
PUBLICADO EM 25.02.14
Achei muito bom
ResponderExcluirA “australiana” racista ganha habeas-corpus canguru. Pra ela não tem Sheherazade. Ainda bem, somos civilizados
ResponderExcluir17 de fevereiro de 2014 | 18:32 Autor: Fernando Brito
A imprensa brasileira se compraz de ver um juiz negar prisão domiciliar para José Genoíno, mesmo este tendo graves problemas cardíacos.
É isso aí, Juiz tem que ser impiedoso, durão, implacável.
Mas não li uma palavra de indignação, um comentarista “cult” protestando contra o que aconteceu em Brasília, com a soltura, quase que imediata, de uma mulher, de naturalidade australiana – mas naturalizada brasileira Louise Stephany Garcia Gaunt- que reiteradamente praticou crime de racismo, ao se recusar a ser atendida por uma manicure negra, mandou-se se retirar do ambiente e ainda ofendeu outra cliente, negra, e um policial – também negro – que atendeu o caso.
Nem mesmo 24 horas a cidadã ficou presa, por um crime que é inafiançável.
Foi solta por um habeas-corpus, sobre o qual a imprensa nada diz, inclusive o nome do sr. Juiz que o concedeu.
Nenhum senhor Promotor Público apareceu protestando e recorrendo, em nome da sociedade, da decisão.
Não teve “Sheherazade” para dizer que seria “compreensível” se a negra Tassia, desencatada com a Justiça que “protege australiana bandidinha” tivessem acorrentado a mulher pelo pescoço a um poste e arrancado suas roupas, deixando-a para a polícia.
Porque Tassia, suas colegas e a dona do salão foram pessoas civilizadas, que fizeram o correto, enfrentar a ofensa e chamar a polícia, que cumpriu a lei e levou a racista à prisão.
Sua atitude é um exemplo de que a sociedade não é feita de bárbaros, diz a Barbie que fala que nosso país não é civilizado. Talvez a senhora Gaunt., que estudou na escola Americana de Brasília, é quem não seja. E olhe que ela é servidora pública, com o salário pago por todos, inclusive a negra Tassia.
Ninguém quer agredi-la ou linchá-la, mas que seja tratada com a lei. Nem que mofe na cadeia, mas que a imprensa ao menos apure e divulgue o que levou o juiz a soltá-la.
Temos uma lei, a lei Caó, que pune o crime e não permite o relaxamento da prisão por fiança e temos uma imensa maioria de pessoas que quer vê-la respeitada.
Maioria talvez não tão grande numa Justiça que funciona de maneira descaradamente discriminatória, que sai correndo para cuidar de gente “boa” como a D. Louise.
Gente tão boa que destila ódio nas páginas dos sites da grande mídia, como você pode ver vos comentários postados a respeito do vídeo, no site do Terra.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=14190