Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
A “pequena política”, como sinônimo de política local,
é um enredo de pequenez infinita na qual os donos do lugar, os aboletados no
poder, só aspiram permanência ad eternum. Ela não é apenas provinciana, é bem
menor: é paroquiana, bairrista e interessa aos donos do poder que seja
restrita, fora do mundo da grande política – aquela que discute os grandes
temas da cidadania, a universalização do bem-estar social e o futuro da Nação,
com foco nas necessidades e demandas locais – porque facilita a manutenção do
poder local. A pequena política tem como objetivo maior encabrestar a consciência
e assim entrava o aflorar da consciência crítica, que é libertadora!

Um caso exemplar da pequena política é o Maranhão,
onde a peleja eleitoral será entre Flávio Dino (PCdoB) e qualquer preposto do clã
Sarney (PMDB). O do momento é Luís Fernando. Há dúvidas. Pouco importa. Vale
analisar a representação da aspiração do continuísmo do clã Sarney, que festeja
Bodas de Ouro de mando no Maranhão, cujo PIB per capita é de US$ 4.300 – comparável
ao de Cabo Verde (país insular africano), que é de US$ 4.200. E Sarney
blefando: “O Maranhão está bombando, eufórico e cheio de esperança. O cavalo
está selado” (Cavalo selado, O Estado do Maranhão – 16.02.2014). Hemhem...
(O Fusca de Antônio Carlos, o Pirata da Litorânea, estacionado na orla há mais de três anos, foi rebocado dia 12 de fevereiro por agentes da SMTT em cumprimento a determinação do Ministério Público)
Basta que miremos dois dos assuntos que mais bombaram
na mídia maranhense, incluindo blogs, nos últimos oito dias. O primeiro, o
Pirata da Litorânea (12.02); e o segundo está centrado na última pesquisa
divulgada pela DataM (18.02). Os dois, com reverberações midiáticas na web, na
TV e jornais impressos, parecem questões de vida ou de morte para o povo do
Maranhão. Em ambos, os blogueiros da Branca moveram mundos e fundos para atacar
o candidato a governador da oposição mais bem situado nas pesquisas. Nenhum
efetivamente discute o Maranhão que queremos, mas tentam passar a certeza que
sim! E assim segue a procissão eleitoral com seus fetiches...
Tomemos também como exemplo da pequena política, Minas Gerais, onde dois ex-prefeitos de Beagá são os candidatos viáveis do ardido duelo: Pimenta da Veiga (PSDB, 1º.01.1989-1º.04.1990) X Pimentel (PT, 02.11.2002-1º.01.2009)
.
Aecismo e
sarneysmo são estados mentais similares
O cenário da pequena política nos dois estados possui
singularidades, todavia há em comum a figura da herança biológica na política –
cargos eletivos como profissão hereditária e o férreo controle da grande mídia
local.
Em Minas, o ex-presidente Tancredo Neves foi
governador e o seu neto Aecim foi governador por dois mandatos e ainda elegeu
sucessor um homem de sua absoluta confiança (Antônio Anastasia).
No Maranhão, o ex-presidente Sarney também foi
governador (1966) e manda no Maranhão diretamente do Palácio dos Leões há quase
meio século, além de a filha ter sido governadora por quatro mandatos. À exceção
do curto mandato de Jackson Lago (1º.01.2007-16.04.2009), os demais governadores são crias da criatura
Sarney! Tancredo e Sarney foram ungidos,
respectivamente, presidente e vice-presidente da República na transição da
ditadura militar de 1964 para a democracia (15 de janeiro de 1985).
Minas é
“dentro e fundo”, como disse Carlos Drummond de Andrade
Pimenta da
Veiga (PSDB), deputado federal pelo
MDB (1978-1998), fundador do PSDB, 1º. prefeito de uma capital eleito pelo
PSDB, deixou a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato (1º.01.1989-1º.04.1990)
para ser candidato a governador. Perdeu. A doce filosofia da rocice, donde
derivam a mineirice e a mineiridade, não tem o dom do perdão! É ex-ministro das Comunicações de FHC
(1998-2003) e também é filho
de político – o nome dele é João Pimenta da Veiga Filho, o seu pai foi advogado
criminal de larga reputação e deputado estadual por várias legislaturas em Minas. Pimenta da Veiga saiu diretamente do colete de Aécio Neves para ser candidato a governador, segundo as boas línguas, por ser o político do PSDB menos "queimado" em Minas!
(Pimentel, Lacerda e Aécio Neves)
Fernando
Pimentel (PT), economista, professor
da Economia da UFMG, lutou contra a ditadura militar de 1964, desde estudante
secundarista no Colégio Estadual Central, no grupo VAR-Palmares; viveu a
clandestinidade e ficou preso de 1970 a1973.
Homem forte do PT na prefeitura de Beagá desde 1993: secretário
Municipal da Fazenda (1993-1996), gestão de Patrus Ananias; no primeiro mandato
de Célio de Castro, continuou na Fazenda até junho de 2000, quando foi
candidato a vice-prefeito de Célio de Castro (já no PT). Em janeiro de 2001, foi
empossado como vice-prefeito de Célio de Castro, tendo assumido o cargo de prefeito
em novembro do mesmo ano por licença para tratamento de saúde do prefeito; em 8
de abril de 2003, com a aposentadoria do prefeito Célio de Castro, assumiu o
cargo de prefeito.
Pimentel foi reeleito em 2004 – foi prefeito quase
sete anos, com uma gestão internacionalmente premiadíssima, embora não tenha
sido assim nenhuma Brastemp, pois na área de saúde, principalmente, não avançou
em nada, nem na ampliação da municipalização da saúde (ainda há muito por
fazer, pois a turma do Aecim não entrega para a gestão da PBH os equipamentos
públicos de saúde que a Secretaria de Estado da Saúde mantém em Belo Horizonte!),
tanto que em termos de estrutura, manteve à duras penas o que foi deixado por
Patrus Ananias, o resto é conversa fiada!
O site inglês Worldmayor, que analisa o trabalho mais
impactante de prefeitos do mundo para as comunidades e elabora uma lista dos
dez melhores prefeitos, designou Pimentel o oitavo melhor
prefeito do mundo, em 2005, sobretudo pelos programas “Orçamento participativo”;
“Vila Viva”, urbanização de vilas e favelas, pelo qual foi o 1º. colocado mundial
do “prêmio Metropolis Awards, título concedido a cada três anos pela Rede
Metropolis, em reconhecimento às melhores práticas públicas desenvolvidas nas
cidades com mais de um milhão de habitantes”; pelo “Nascentes”, recuperação e
preservação de cursos d’água, Beagá “foi escolhida para representar a América Latina na criação do Fundo
Global para o Desenvolvimento de Cidades, medida integrante da Rede Metropolis”.
No entanto, tem como maior feito na memória coletiva
ter ensaiado trocar “balaim” de votos com seu “coleguinha de infância” (olha aí
a Síndrome de Estocolmo na política!): elegeu prefeito um indicado de Aecim, Márcio
Lacerda (PSB), não com meu voto, em troca do apoio do PSDB para elegê-lo governador!
Quer dizer, entregou uma eleição certa de mais um prefeito do PT em Beagá por
absolutamente nada, agindo como um coronel de votos! Esqueceu o que disse Drummond: “Minas é dentro
e fundo...” e levou uma rasteira de Aecim.
Pimentel é ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior do Governo Dilma e está saindo para ser candidato a
governador de Minas Gerais, pelo PT. Vai provar da doce filosofia rocice interna
do PT mineiro que também, como eu já disse, não tem o dom do perdão. Dilma
terá dificuldades em Minas para carregar Pimentel nas costas. É esperar pra
ver...
Liberdade, essa palavra...
(Aécio Neves e Anastasia)

Aécio Neves foi governador de Minas de 1º.01.2003-31.03.2010, mas
manda aqui até hoje, tendo como marca maior o horror à liberdade, do tipo
“Liberdade, essa palavra”... – seu vice, Anastasia, virou governador para Aécio
virar senador, foi reeleito, é o governador desde 2011. Incluindo o governo de
Eduardo Azeredo (1995-1999) – que estão esconjurando por conta do “mensalão
tucano”, mas ele, abandonado pelos seus pares do PSDB, ensaia seus pulos: renunciou,
sabiamente, como bem constatou Guimarães Rosa: “Sapo não pula por boniteza, mas
por precisão”. É esperar para ver se em sua esperteza Azeredo fez um giro ou um
jirau...
Eis o PSDB governando Minas por quase 20 anos, sem
conseguir imprimir uma marca que faça diferença no cenário nacional, fora o
imaginário “choque de gestão”, que gerou o tal do “déficit zero”, de há muito
desmascarado. Mas se Minas é grande e rica demais para ser esquartejada em 20
anos, o povo usufrui cada vez menos de
suas riquezas!
Mas o herdeiro eleitoral de Tancredo ainda quer mais
do manto de uma figura mítica tão forte e impregnada no imaginário mineiro. A publicidade
subliminar, bem trabalhada por marqueteiros, é que o Brasil deve a Minas a
presidência da República que a morte roubou!
Por fim, a pequena política é execrável em todos os
sentidos porque, repito, entrava no nascedouro o aflorar da consciência crítica
e rouba do povo direito de sonhar! E quanto mais pobre o lugar, pior e mais
terra-a-terra é a pequena política, pois assume ares de Fla-Flu e nada mais
interessa, a não ser o grito de gol! A pequena política é um arcaísmo no qual
os donos do poder aprisionam consciências.
Beagá, 20.02.14