Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
A divulgação das pesquisas dos nobéis de economia 2012 gerou frisson na economia (mercados com dinheiro) e até no campo da escolha de parceria afetivo-sexual (mercados sem dinheiro). Curiosa, indaguei o que os achados de tais estudos concentram de tão extraordinário sobre a escolha de parceiros para casamento, pois compartilho da opinião de que se casar é concretizar jogos de interesses, confessáveis e inconfessáveis, como escrevi em "Casamentos, desde sempre, são negócios que não exigem amor" (O TEMPO, 12.6.2012).
Em 2012, foram agraciados com o Nobel de Economia os norte-americanos Alvin Roth (60 anos, economista, Universidade de Harvard, hoje em Stanford) e Lloyd Shapley (89 anos, matemático, Universidade da Califórnia), pelo trabalho de ambos com o algoritmo Gale-Shapley - grosso modo, um modelo matemático estabelecido, nos anos 60, pelo economista David Gale (1921-2008) e o matemático Lloyd Shapley -, que demonstra que, "partindo de uma hierarquia de preferências de participantes de dois grupos quaisquer, é possível, com um algoritmo simples e num número finito de etapas, chegar a combinações (matchings) estáveis de seus elementos".
Para Chris Giles, do "Financial Times", o trabalho do professor Shapley versa sobre a teoria dos jogos de cooperação em área em que as normas simples do mercado não são adotadas; e o do professor Roth consistiu em "empregar os resultados de Shapley em laboratório e na prática para combinar médicos com hospitais, doadores de órgãos com receptores e alunos com escolas" ("Valor", 16.10.2012).
Para a professora e economista Aida Isabel Tavares, da Universidade de Aveiro, em "Matching markets: mercados de correspondências e as suas aplicações", as pesquisas de Shapley e Roth são de engenharia econômica e visam a responder ao problema econômico central de otimização da oferta e da procura; eles "se preocuparam em desenhar mercados sem dinheiro: ‘market design’. Em particular, mercados de ‘correspondências’: ‘matching markets’, que se caracterizam pelo fato de podermos escolher algo ou alguém, mas onde também somos escolhidos".
Difícil entender? Simples: é a busca da melhor distribuição de "produtos" de oferta limitada. Em escassez de bens, como alimentos ou eletrodomésticos, a resposta à demanda quase ilimitada é o mecanismo dos preços, equiparador da oferta e da demanda. Todavia, em várias áreas, não há mercado onde distribuir outros produtos escassos: vagas em escolas, órgãos para transplante ou par afetivo-sexual. Os estudos com o algoritmo Gale-Shapley evidenciaram "que faz diferença qual das partes recebe o direito de fazer a escolha. O sexo que escolhe é mais feliz e obtém um resultado melhor do que o que é escolhido".
Publicado no Jornal OTEMPO em 23.10.2012
Oi Fátima, Já li várias matérias sobre o assunto, mas não havia compreendido. Agora sim
ResponderExcluirGaranto que o post é uma das melhores explicações que já li sobr eo assunto
ResponderExcluirFátima, tenho dúvidas quanto à autenticidade das pesquisas
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