Visualizações de página do mês passado

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O povo lá de cima e o povo lá de baixo: 50 anos depois...


cidade de Graça Aranha  (Igreja Matriz de Graça Aranha-MA)

NO MUNICÍPIO, GOVERNO DE COALIZÃO É FRACASSO
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_



As últimas eleições pautaram discussões acirradas sobre a política de alianças, ou coligações eleitorais. Relembrando que partidos políticos são partes do que pensa uma sociedade, jamais significam ou representam o todo. Nunca é demais refrescar a memória sobre a política de alianças eleitorais ser legítima na democracia. Logo, fazer alianças não é crime.
Criticar alianças é um direito, mas condená-las em si é desconhecer que elas não são um fim, mas um meio para, pois aliança é "ato ou efeito de aliar-se pontualmente para um fim específico e imediato". Em uma aliança, nenhum partido abre mão do seu programa, pois o acordo é temporário, conjuntural: indicar uma mesma candidatura e eventualmente estabelecer um governo, paritário ou não, de coalizão - acordo político para um fim comum, como governar juntos.
Um governo de coalizão nacional, como pretendeu ser o governo Lula, por exemplo, é desafio inerentemente complicado no presidencialismo brasileiro, em que o cargo de presidir a República assume ares de poder imperial, de reinado e de divindade. No âmbito do município um governo de coalizão é tarefa fadada ao fracasso, por conta das miudezas do cotidiano local e da história de vida de cada ser político.




  (Graça Aranha-MA)



O "conversê" acima introduz uma memória pessoal. Na noite de 7 de outubro passado, o meu irmão Gil, que mora em Imperatriz (MA), era só alegria ao telefone: "Aqui, o Madeira foi reeleito. A melhor é que, meio século depois, ganhamos as eleições em Graça Aranha: o prefeito é Nilton, filho de Crezo e de Ana". Retruquei: "Então, não ganhamos. Dona Terezinha Damasceno, a mãe de Crezo, não era do nosso lado; era ‘do povo lá de cima’!". Ele: "Agora é ‘do povo lá de baixo’". Meu irmão saiu de Graça Aranha criança; não entendia o que eu dizia. Lamentei com meus botões: "Esperar tanto para eleger um prefeito e nem é um legítimo ‘do povo lá de baixo’!".

Nilton Nilton 12PDT

Pense numa longa espera: Graça Aranha virou município em 10 de outubro de 1959. Eu estava com 6 anos, mas a nitidez do foguetório à alta madrugada é como se tivesse sido ontem: a notícia foi trazida pelo padrinho Beleza, o chefe político "do povo lá de baixo", que foi candidato a prefeito na primeira eleição e a perdeu para Nacor Rolim, "do povo lá de cima" - acho que em 1962, já que o município só foi instalado em 18.11.1962. Desde então, "o povo lá de cima" não perdeu eleição para prefeito até 2012, com a eleição de Josenewton Guimarães Damasceno, vulgo Nilton, do PDT, da coligação Agora é a vez do Povo (faltou o "lá de baixo"!), formada por PRB/PDT/DEM/PSB/PSDB/PCdoB/PTdoB).


(Vista áerea de Graça Aranha-MA)


Traduzindo: no fim da década de 50, a rigor, em Graça Aranha, havia uma rua, a do Comércio (o resto era chamado de "ponta de rua"), onde moravam as pessoas remediadas, dividida politicamente em "lá de cima" e "lá de baixo", a um ponto que até as crianças eram ensinadas a nem pisar na calçada dos "contras"! Nem namoro era permitido entre os "lá de cima" e os "lá de baixo"! É irracional, mas, há poucos anos, uma sobrinha, que nem conhecia Graça Aranha, chegou toda melosa: "Tia, tô namorando fulano de tal, de Graça Aranha". Não titubeei: "Essa gente não presta! É o que seu avô diria se fosse vivo!". Meses depois: "Tia, o vovô estava certo: esse povo lá de cima não presta".
Na cultura política local, pouca coisa deve ter mudado, independentemente de qual partido, pois, lá, partido é mero detalhe sem valor: vota-se, em Graça Aranha, ainda no "povo lá de cima" e "no povo lá de baixo". 




Publicado no Jornal OTEMPO em 30.10.2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Os nobéis e a fórmula da felicidade em mercados sem dinheiro


Uma dupla de norte-americanos levou o prêmio Nobel de Economia em 2012. Alvin E. Roth e Lloyd  S. Shapley

O NEGÓCIO É "PAQUERAR MESMO COM POUCA CHANCE"
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_

A divulgação das pesquisas dos nobéis de economia 2012 gerou frisson na economia (mercados com dinheiro) e até no campo da escolha de parceria afetivo-sexual (mercados sem dinheiro). Curiosa, indaguei o que os achados de tais estudos concentram de tão extraordinário sobre a escolha de parceiros para casamento, pois compartilho da opinião de que se casar é concretizar jogos de interesses, confessáveis e inconfessáveis, como escrevi em "Casamentos, desde sempre, são negócios que não exigem amor" (O TEMPO, 12.6.2012).





Em 2012, foram agraciados com o Nobel de Economia os norte-americanos Alvin Roth (60 anos, economista, Universidade de Harvard, hoje em Stanford) e Lloyd Shapley (89 anos, matemático, Universidade da Califórnia), pelo trabalho de ambos com o algoritmo Gale-Shapley - grosso modo, um modelo matemático estabelecido, nos anos 60, pelo economista David Gale (1921-2008) e o matemático Lloyd Shapley -, que demonstra que, "partindo de uma hierarquia de preferências de participantes de dois grupos quaisquer, é possível, com um algoritmo simples e num número finito de etapas, chegar a combinações (matchings) estáveis de seus elementos".
Para Chris Giles, do "Financial Times", o trabalho do professor Shapley versa sobre a teoria dos jogos de cooperação em área em que as normas simples do mercado não são adotadas; e o do professor Roth consistiu em "empregar os resultados de Shapley em laboratório e na prática para combinar médicos com hospitais, doadores de órgãos com receptores e alunos com escolas" ("Valor", 16.10.2012).


 Em 1962, "Shapley e Gale criaram um método teórico entre dez homens e dez mulheres de encontrar um companheiro estável, pelo qual nenhum homem e nenhuma mulher procurariam se separar de seus parceiros e se associar a uma outra pessoa". "Gale e Shapley provaram matematicamente que esse processo levava a uma parceria estável", pois "ambas as partes não julgam vantajoso procurar um outro parceiro" (Marcelo Garcia, "Arranjos justos", "Ciência Hoje" online, 15.10.2012).
Para a professora e economista Aida Isabel Tavares, da Universidade de Aveiro, em "Matching markets: mercados de correspondências e as suas aplicações", as pesquisas de Shapley e Roth são de engenharia econômica e visam a responder ao problema econômico central de otimização da oferta e da procura; eles "se preocuparam em desenhar mercados sem dinheiro: ‘market design’. Em particular, mercados de ‘correspondências’: ‘matching markets’, que se caracterizam pelo fato de podermos escolher algo ou alguém, mas onde também somos escolhidos".
Difícil entender? Simples: é a busca da melhor distribuição de "produtos" de oferta limitada. Em escassez de bens, como alimentos ou eletrodomésticos, a resposta à demanda quase ilimitada é o mecanismo dos preços, equiparador da oferta e da demanda. Todavia, em várias áreas, não há mercado onde distribuir outros produtos escassos: vagas em escolas, órgãos para transplante ou par afetivo-sexual. Os estudos com o algoritmo Gale-Shapley evidenciaram "que faz diferença qual das partes recebe o direito de fazer a escolha. O sexo que escolhe é mais feliz e obtém um resultado melhor do que o que é escolhido".




     O economista e professor da FGV-SP Samy Dana, na entrevista "Nobel de economia mostra que se deve paquerar mesmo com pouca chance", disse que, no essencial, "é possível inferir que uma pessoa nunca deve deixar de flertar com alguém que prefira só por achar que não tem chances com aquela pessoa".

Publicado no Jornal OTEMPO em 23.10.2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A psicofobia é um crime; e quem é responsável pelo doente mental?


EM GERAL, A JUDICIALIZAÇÃO TRATA AS FAMÍLIAS COMO BANDIDAS
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


Dia 10 de outubro é Dia Mundial da Saúde Mental, data em que, em 2012, aconteceu a abertura do 30º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, cujo tema foi "Psiquiatria, ciência e prática médica". Pelo que acompanhei no site da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), foi um momento de avaliação da atenção à saúde mental em nosso país e, sobretudo, um espaço para reafirmar a continuidade da campanha "A sociedade contra o preconceito" e o apoio ao projeto de lei "Psicofobia é um crime". De iniciativa do senador Paulo Davim (PV-RN), esse emenda o novo Código Penal, criminalizando a psicofobia, o preconceito contra pessoas com transtorno ou deficiência mental, "punindo com pena de dois a quatro anos de prisão ações motivadas pelo preconceito, como impedir a nomeação em cargo público, demitir de empresa ou vetar acesso a transporte ou estabelecimentos comerciais".


  (Senador Paulo Davim)

Sou uma curiosa da psiquiatria, área do saber médico sobre a qual aprendi a gostar de ler por necessidade familiar, com o intuito de saber mais para não peregrinar à toa nas estradas da vida. Todavia, até hoje peregrino. No entanto, tenho estofo intelectual e científico para discutir, divergir e concordar - uma situação privilegiada, em comparação com o mundaréu de gente que tem de conviver, sem lenço e sem documento, com familiares com transtornos mentais e ainda tem de ouvir de juízes que "as famílias não querem cuidar dos seus doidos", quando busca uma internação necessária. Afirmo, a judicialização da doença mental é uma praga que, em geral, trata as famílias como bandidas!



O problema é que
o sistema de atendimento ao
doente mental não atende às
expectativas dos especialistas
e às necessidades dos pacientes.



Com a palavra, quem entende do assunto por dever de ofício: "Duas em cada dez pessoas em todo o mundo têm ou já tiveram algum transtorno mental. No Brasil, não é diferente. Apesar disso, não há no país políticas públicas satisfatórias em saúde mental (...). Segundo dados do Ministério da Saúde, 3% dos brasileiros sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, e mais de 6% da população tem transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e drogas: 12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental. O problema é que o sistema de atendimento ao doente mental não atende às expectativas dos especialistas e às necessidades dos pacientes.




A Política Nacional de Saúde Mental foi instituída com o objetivo de consolidar um modelo que garantisse o convívio do doente com a família e a comunidade. As diretrizes procuraram evitar as internações em hospitais psiquiátricos. Com isso, unidades foram fechadas, equipes desestruturadas e leitos desativados. Entre 2002 e 2011, quase 20 mil leitos psiquiátricos foram extintos no SUS. Um dos instrumentos utilizados para promover a reforma foram os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), até hoje insuficientes e sem estrutura física e/ou equipes profissionais de atendimento.
Ao fim de 2011, o Brasil possuía 1.742 Caps. Segundo o Ministério da Saúde, essa quantidade atende 72% da população, mas o que vemos na realidade é bem diferente. Os números trazem outros agravantes. Apenas cinco unidades do total de Caps em funcionamento, em todo o país, estão abertas 24 horas, sete dias por semana, para receber pessoas que fazem uso de álcool e drogas; é precário o tratamento do doente mental na rede de atenção básica à saúde, e poucos são os hospitais que oferecem atendimento ambulatorial" (ABP, www.abp.org.br/portal/archive/8884, 9 de outubro de 2012).


Com a palavra, o ministro da Saúde, que precisa dar uma resposta à altura do caos.
Publicado no Jornal OTEMPO em 16.10.2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sepultando os meus mortos à sombra das tamareiras

 


NUM, MEMÓRIAS; NOUTRO, INCURSÃO NO IMAGINÁRIO DO ORIENTE
Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


"Sepultando os Meus Mortos" (memórias, 1935) e "À Sombra das Tamareiras" (contos orientais, 1934), livros do escritor maranhense Humberto de Campos (1886-1934), cuja obra era popular e leitura obrigatória nas escolas maranhenses nos anos 60/70, serviam de deliciosa chacota.


 
 No Maranhão, as tamareiras de Humberto de Campos são tão reais quanto o sabiá de Gonçalves Dias (1823-1864) cantando nas palmeiras... Dizem, e ouço desde criança, que só o sabiá de Gonçalves Dias, em febril delírio de amor por Ana Amélia, sua eterna musa, pousa em palmeiras, pois sabiás voam baixo e só pousam em arbustos! Por aí... Se é verdade, não sei! Jamais vi sabiá em palmeira. Para nós, o nome do livro era "Sepultando os Meus Mortos à Sombra das Tamareiras". Outra versão era usada quando terminávamos um namoro: "Fulano? Morto e Sepultado à Sombra das Tamareiras". Era o fim, fim...


  (Tamareiras brotam da areia, dando um toque de vida ao deserto de Ubari, Líbia).
 (Tamareiras, próximo ao Mar da Galiléia, Israel).


  Em "Sepultando os Meus Mortos", o autor escreveu suas memórias de pessoas com quem conviveu. Sobre "À Sombra das Tamareiras", transcrevo parte do que escreveu Antonio Carlos Secchin (da Academia Brasileira de Letras e professor titular de literatura brasileira da UFRJ): "Na multifacetada obra de Humberto de Campos, ‘À Sombra das Tamareiras’ representa uma bem-sucedida incursão ao imaginário do Oriente (...). Em meio ao imenso espólio da fabulação oriental, torna-se difícil, na apropriação que dele efetua Humberto de Campos, detectar o que seria criação ‘original’ e o que seria tradução ou adaptação de histórias alheias. Na divertida apresentação do volume, intitulada ‘As razões do livro’, o escritor confessa, não sem ironia, um ‘furto literário’ e apresenta razões pouco nobres para editá-lo: precisa quitar a dívida contraída com o suposto verdadeiro autor, e, com malícia, insinua não ter certeza de que o tal Mohammed Zolachid haja, de fato, escrito as histórias (...). Ressalte-se a qualidade da escrita de Humberto de Campos: um estilo claro, fluente, a serviço de uma capacidade fabulativa que prende a atenção do leitor, seduzido pelas reviravoltas e as peripécias das bem-urdidas tramas".


Fotos de  Obras Humberto de Campos Não conheço as obras completas de Humberto de Campos, nem sei o motivo, já que é um autor que acho especial, e a fluência de suas narrativas é, no essencial, agradabilíssima. Todavia, tenho prazer imenso em reler, por pura distração, além dos dois livros mencionados, os minicontos de "Grãos de Mostarda" e "O Brasil Anedótico", um conjunto de historietas das mais engraçadas (segundo o autor, "resumem a crônica do Brasil colônia, do Brasil império e do Brasil república"), como a que se segue, extraída do seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 8 de maio de 1920, na cadeira de número 20, sucedendo ao poeta e jornalista paranaense Emílio de Menezes (1866-1918):
"Em uma roda de literatos, discutia-se, certa vez, metrificação, quando um deles procurou amesquinhar Machado de Assis, observando, leviano: - Era um péssimo poeta. O último verso dos alexandrinos ‘A uma criatura’ tem 11 sílabas; é um verso de pé quebrado.
Emílio de Menezes, que se achava no grupo e sentia uma religiosa admiração pelo mestre, franziu a testa profética e protestou soturno: - Não pode ser.
E sentencioso: - Os bons versos não têm pés: têm asas!".



 O tom sarcástico e humorístico dos seus escritos encantam. Deve ter sido uma pessoa muita engraçada, a ponto que adotou vários pseudônimos: Conselheiro XX, almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios.



 Publicado no Jornal OTEMPO em 09.10.2012

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Maria de Magdala, a santa Maria Madalena, ícone feminista

Ficheiro:Pietro Perugino 047.jpg  [(Maria Madalena, Pietro Perugino (c. 1500)]

 

A IDEIA DE QUE ERAM AMANTES NUNCA FOI LEVADA A SÉRIO
Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


O boato de que Maria de Magdala, contemporânea de Jesus de Nazaré, era prostituta, "pecadora pública arrependida", não se sustenta em relatos bíblicos nem em pesquisas. Em um contexto em que a participação da mulher na sociedade judaica era restrita à sua casa e aos mandamentos da Lei, ela foi discípula de Jesus e proeminente liderança na Igreja primitiva. Ela é uma figura fascinante, e é um dever feminista resgatar seu verdadeiro papel na história da humanidade.

 
  Para Chris Schenk, da Congregação das Irmãs de São José e diretora da FutureChurch, "a inclusão de mulheres por parte de Jesus em seu discipulado itinerante pela Galileia não é nada menos do que notável. No judaísmo palestino, os homens não falavam publicamente com as mulheres de fora do seu círculo de parentesco, e, muito menos, lhes era permitido viajar com eles em uma comitiva mista".


 Mercedes Lopes, em "Maria Madalena e as Outras Marias", diz: "Nos evangelhos, ela é a mulher mais citada pelo nome; aparece realizando funções muito importantes para as origens do cristianismo: como discípula de Jesus (Lc 8,1-3); como testemunha da sua crucifixão (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49; Jo 19,25); como testemunha do seu sepultamento (Mc 15,47; Mt 27,61); como testemunha da sua ressurreição (Mc 16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-10; Jó 20,1;20,11-8); e como enviada aos 11 com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17-18). Ela é citada em primeiro lugar em todos esses textos. A única exceção é Jó 19,25, em que a mãe de Jesus aparece em primeiro lugar".


  (A última ceia, Leonardo da Vinci)


Chris Schenk, na entrevista "Maria de Magdala, a grande ‘Apóstola dos Apóstolos’", é elucidativa: "As mulheres muito raramente eram nomeadas em textos antigos. Foram nomeadas porque tinham alguma proeminência social e, mesmo assim, na maioria das situações, são nomeadas em relação aos homens presentes em suas vidas: maridos, pais ou irmãos... Mas, quando Maria de Magdala é identificada, foi nomeada pelo povoado de onde veio, não em relação a um parente do sexo masculino... Isso significa que Maria de Magdala era uma mulher rica de recursos independentes".
Na história do cristianismo, Maria de Magdala foi minimizada, ocultada e também ofuscada pelo marianismo. Estudiosas feministas, em especial teólogas, como Mercedes Lopes, aventam que "essa confusão a respeito de Maria Madalena pode ter muitas causas... A deturpação da figura dela mantém uma velha atitude de suspeita em relação às mulheres, passando a ideia de que sua natureza e seus corpos são espaços perigosos, de possessão demoníaca, identificados com pecado. Os corpos inferiorizados e culpabilizados são mais facilmente submetidos".


Em um contexto em
que a participação da
mulher na sociedade
judaica era restrita ela
foi discípula de Jesus
e proeminente liderança
na Igreja primitiva


Palavra de Fé -  Quando Jesus é lembrado...  Margaret George, autora de "Maria Madalena - A Verdadeira História de Maria Madalena e Jesus Cristo" (Geração Editorial), declara: "A ideia de que Jesus e Maria Madalena eram amantes ou casados volta à baila de vez em quando, mas nunca foi levada a sério, pelo menos, não pelos mais sérios estudiosos do assunto. Penso que houve algum tipo de relacionamento entre eles, do tipo espiritual; afinal de contas, foi a ela que ele apareceu no jardim na manhã da Páscoa. Minha velha tia-avó, que conhecia a Bíblia em detalhes, tinha a própria teoria de que era Maria Betânia que Jesus amava, e se levarmos em conta as passagens nas quais Maria Betânia está sentada a seus pés - acho que ela tem razão -, parece haver mais ‘vibrações’ entre eles do que entre Jesus e Maria Madalena. Naturalmente, com um material tão escasso, é difícil tirar conclusões".







[21+-+Igreja+Russa++de+Maria+Madalena.jpg]