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terça-feira, 26 de julho de 2011

A política e a rede nacional de atenção às urgências do SUS


Portaria frustra quem peleja nas emergências dos hospitais
Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com.br

O Ministério da Saúde emitiu, no último dia 7, a Portaria nº 1.600/2011, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde (SUS), demonstrando assim sensibilidade frente a situações que impõem sofrimento adicional a pessoas vulnerabilizadas quando a vida corre risco. Portanto, digo: bravo!
Não é por falta de diretriz nacional que os serviços de urgência são insuficientes e os existentes, alguns precários - de equipamentos, recursos humanos e até medicamentos -, vivem abarrotados a um ponto que, não raro, são obrigados a lançar mão da figura retórica de "fechar o serviço", temporariamente, em nome da segurança dos admitidos e do limite imposto pela física de que dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço.


A referida política - Portaria nº 1.863/GM/MS - data de 2003, donde se deduz que os pontos de estrangulamento evidenciam que alguém não cumpre o dever constitucional do cargo que ocupa.
Há responsabilidades constitucionais bem definidas: é papel do Ministério da Saúde elaborar a política e é dever dos governos locais, estadual e municipal, executá-la. Logo, o xingamento diante da dificuldade de acesso aos serviços, ainda que na busca de atenção em lugar errado, deve ser estadualizado e municipalizado...




Li e reli muitas vezes a portaria. Diria que as intenções são boas, mas apontam para uma prática aquém, já que a realidade nos diz que portarias ministeriais na saúde serão sempre cartas de intenções enquanto não houver uma Lei de Responsabilidade Sanitária. Fica a pergunta: a nova portaria teoricamente responde aos problemas enfrentados pelo povo e pelos trabalhadores da saúde? Sinto falta de algo...


Dias e dias a fio
numa maca e até nela morrer
são retratos dolorosos de desrespeito
aos direitos humanos.
Quem vai encarar?


Das três, uma ou mais: o alemão (Alzheimer) está querendo me pegar; ou a burrice tomou conta de mim; ou a portaria dilui, holisticamente, responsabilidades e competências ao definir que "A Rede de Atenção às Urgências é constituída pelos seguintes componentes: I. Promoção, Prevenção e Vigilância à Saúde; II. Atenção Básica em Saúde; III. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) e suas Centrais de Regulação Médica das Urgências; IV. Sala de Estabilização; V. Força Nacional de Saúde do SUS; VI. Unidades de Pronto-atendimento (UPA 24h) e o conjunto de serviços de urgência 24 horas; VII. Hospitalar; e VIII. Atenção Domiciliar".
Se há na saúde serviços que não comportam visões holísticas, embora não sejam "ilhas", são os de urgência, que devem portar características materiais e humanas que os habilitem a atender, em tempo hábil, pessoas em estado crítico e agudo, cujo foco na missão depende do suporte de práticas de atenção domiciliar, postos e ambulatórios que absorvam a demanda de consultas "comuns" e especializadas, impedindo que deságuem nas urgências coceiras crônicas, perebas, curubas e assemelhados. E, sobretudo, a falta de leitos hospitalares de retaguarda para os casos que necessitam de internação é um gargalo que urge ser superado.


A portaria frustra quem peleja na atenção à urgência e à emergência por não expressar em seus propósitos o calor escaldante das enfermarias superlotadas, o frio gelado dos corredores no inverno; nem o sofrimento de doentes amontoados em macas em corredores, como regra cotidiana, a mais perfeita tradução do inferno de Dante...
Dias e dias a fio numa maca e até nela morrer são retratos dolorosos de desrespeito aos direitos humanos. Quem vai encarar?

Publicado no Jornal O TEMPO em 26.07.2011
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LIMA COELHO 
O TEMPO
VERMELHO
VI O MUNDO


Ficheiro:William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Dante And Virgil In Hell (1850).jpgDante e Virgílio no Inferno, quadro de William-Adolphe Bouguereau.

Lei de Responsabilidade Sanitária, proposta de Humberto durante campanha, chega ao Congresso

Senador Humberto Costa quer punição para mau gestor
O senador Humberto Costa (PE), protocolou. hoje, o projeto de Lei de Responsabilidade Sanitária. O projeto foi um dos motes de sua campanha ao Senado, no ano passado e tem como base a sua experiência na área de Saúde. Humberto é médico e já exerceu os cargos de secretário de Saúde do Recífe e ministro da Pasta.
Nos moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, o projeto propõe a criação de um instrumento legal que estabeleça obrigações e defina responsabilidades para os gestores dos recursos destinados à saúde pública, nas esferas federal, estadual e municipal.

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RESPONSABILIDADE COM A SAÚDE
Humberto Costa

Reconhecido como um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, o SUS representou uma das grandes conquistas da sociedade brasileira. Permitiu o acesso integral, universal e gratuito da população aos serviços médicos e hospitales. Apesar dos avanços, o atendimento ao público ainda é deficiente. O SUS necessita de mais recursos e enfrenta problemas de controle de desperdícios.
É possível obter mais recursos para o setor por meio de diferentes caminhos. Uma das vias mais legítimas é a garantia da aplicação adequada do dinheiro público com a saúde, evitando desperdícios e desvios. O Senado Federal aprecia no momento o projeto de lei
nº 174, de minha autoria, que estabelece as responsabilidades da União, Estados e municípios, bem como a dos gestores, dentro do SUS. Com essas obrigações claras, é possível cobrar melhores resultados dos entes públicos, além de aperfeiçoar os mecanismos de controle de despesas.
O projeto institui a Lei de Responsabilidade Sanitária (LRS), definindo procedimentos de ajuste de conduta em situações de não cumprimento das obrigações por parte dos gestores ou punições administrativas e criminais para casos de gestão fraudulenta. Ao mesmo tempo, a matéria facilita o acompanhamento e fiscalização dos gastos com saúde pelos conselhos de saúde e órgãos de controle. Poderemos melhorar os serviços em saúde e aumentar as receitas disponíveis para investimentos.
Paralelamente, a regulamentação da Emenda nº 29, em tramitação na Câmara dos Deputados, permitirá que os recursos aplicados nas ações e serviços de saúde não sejam usados para outros fins. Isso porque ela define o que efetivamente são gastos com saúde, tomando como referência a Resolução n. 322/2003 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), homologada por mim quando ministro da Saúde. Sem essa definição, muitos governantes se utilizam de artifícios para atingir os percentuais dos gastos obrigatórios da Constituição Federal, que para os municípios são de, no mínimo, 15% e, para os estados, de 12% das suas receitas. É o que vimos, no passado, em Pernambuco, quando o governo computava despesas que não eram universais como sendo gastos do SUS. Nesse cálculo, eram incluídos, por exemplo, recursos aplicados na manutenção de hospitais exclusivos para funcionários públicos ou em planos de saúde para os servidores.
A Lei de Responsabilidade Sanitária e a regulamentação da emenda 29 são duas medidas importantes que podem trazer resultados efetivos à população. A elas somam-se outras soluções como a criação de um mecanismo mais simples e eficiente de contrapartida do setor privado ao setor público. Ainda são muitos os desafios do SUS no Brasil. O mais importante é não recuar, manter o debate e resolver problemas inadiáveis.

* Artigo originalmente publicado no jornal Diario de Pernambuco, no dia 02.06.2011. Humberto Costa é senador (PT-PE), líder do partido e do bloco de apoio ao governo no Senado. Foto: Sérgio Figueirêdo.
Em consulta pública:

PROJETO DE LEI DE RESPONSABILIDADE SANITÁRIA (Ministério da Saúde)

domingo, 24 de julho de 2011

Denise Paiva: Itamar Franco e a indignação contra a miséria

Denise Paiva e o presidente Itamar Franco, no lançamento do livro  "Era uma outra História: Política Social do Governo Itamar Franco: 1992-1994" (Editora UFJF), 1º de julho de 2009, no Museu de Arte Murilo Mendes/UFRJ, Juiz de Fora – MG.

Em outubro de 1992, ainda na interinidade, Itamar manifestou publicamente sua indignação: "Que modernidade é esta que produz tanta fome e tanta miséria?". Este contraponto inaugurou uma força sinérgica que integrou a confiança e a colaboração do novo governo com os setores populares e progressistas da sociedade brasileira, em especial com o Movimento pela Ética na Política.
Ficheiro:Rio Paraibuna Paulista.jpgRio Paraibuna, Juiz de Fora -MG
TRAJETÓRIA: Como foi a vida do homem que deixou Juiz de Fora para se tornar presidente
Juiz de Fora-MG
Na essência, esta manifestação do presidente liberou energias e identidades onde se reconhece o DNA do movimento de combate à fome e a miséria, que se deflagrou no país em 1993, por convocação e apoio incondicional do governo.
Movimento gerador de um modelo inédito de integração e responsabilidade compartilhada entre o governo e sociedade, Betinho foi símbolo e ícone desta inédita e saudosa mobilização cívica de amplitude nacional pelo impeachment da fome, arquitetada pela engenharia política de Itamar.

" Itamar manifestou publicamente sua indignação: Que modernidade é esta que produz tanta fome e tanta miséria? "






Itamar teve a sabedoria e humildade de ouvir e incorporar sugestões vindas de fora do governo, e construir no âmbito governamental propostas com consistência técnica capazes de ganhar o respeito e adesão da sociedade. Ainda em outubro de 1992 reuniu-se com a Frente Nacional de Prefeitos, coordenada pela prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, e acatou um conjunto de sugestões, dentre as quais a retomada e descentralização da merenda escolar e a administração dos estoques de alimentos, alvos de desvios, desperdício e corrupção.
Foi histórica, em 11 de janeiro de 1993, a reunião do presidente com os ministros da área social - Walter Barelli no Ministério do Trabalho, Antonio Brito na Previdência, Jamil Haddad na Saúde, Mauricio Correa na Justiça e Murilio Hingel na Educação - onde pela primeira vez foram convocados presidentes do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para se engajarem na política social.

"Itamar teve a sabedoria e humildade de ouvir e incorporar sugestões vindas de fora do governo "






O combate à fome torna-se eixo prioritário e articulador com participação do Partido dos Trabalhadores. Lula junto e mediado pelos senadores Pedro Simon e Eduardo Suplicy, ainda em janeiro de 1993, sobe a rampa do planalto pela primeira vez.
Lula entrega um documento elaborado pelo governo paralelo do PT em 1992. Este documento trazia diretrizes e ações, das quais muitas já vinham sendo planejadas e implementadas, mas tinha a novidade que era a criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), símbolo maior da política social do governo Itamar.
Grupo de trabalho com representantes do governo e da sociedade formataram o Plano de Combate à Fome e a Miséria com a participação de todos ministérios e agregaram ao mesmo o "Mapa da Fome", elaborado pelo Ipea. O Brasil tomou conhecimento que 32 milhões de brasileiros passavam fome.
O Consea, instalado em 13 de maio de 1993, foi presidido durante todo o tempo por Dom Mauro Morelli, bispo de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Com uma visão religiosa libertária e comprometida com as lutas populares deu uma contribuição inestimável a todo esse processo ao lado de Dom Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB, conselheiro do Consea e uns dos grandes articuladores da Ação da Cidadania junto com Betinho.
Em 24 de junho de 1993, Itamar cede o horário privativo ao Presidente da República e dá vez e voz à sociedade pela primeira e única vez na história do Brasil. Mais uma vez, uma mudança de paradigma quebra a liturgia do poder. Betinho e Dom Mauro, em rede oficial de rádio e TV, convocam os brasileiros a participarem da Ação da Cidadania Contra a Fome a Miséria e pela Vida, naquele dia formalizada. Milhares de comitês, milhares de militantes, inspirados e movidos por um gigante da sociedade, com o corpo fragilizado pelo vírus do HIV, Herbert de Souza.
Natal sem Fome, Lei Orgânica da Assistência Social, Erradicação do Trabalho Infantil, Genéricos, Plano Real, Reforma Agrária, foram tantas as realizações e conquistas que me fizeram escrever "Era Outra História". Para me ajudar convidei pessoas que não só fizeram esta história, mas se uniram e ainda estão unidas numa mesma dimensão do agir e de pensar por um tempo onde o econômico seja um meio e não um fim como acreditava e ensinava o presidente Itamar.

* Denise Paiva - Assistente Social e ex-assessora de Itamar como prefeito, senador Constituinte e presidente da República. (14.07.2011)
LEIA +:O legado de Itamar Franco

FONTE:Tá lubrinando – escritos da Chapada do Arapari

Indicação de leituras:
(Editora UFJF)

"Pelas moedas de ouro da amizade", Itamar por Denise - Fátima Oliveira
 DUKE

terça-feira, 19 de julho de 2011

A mesa posta para o café da manhã é uma cultura de ternura

(DUKE)
Legar esse conforto à descendência é um privilégio
Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com.br

Legar zonas de conforto à descendência é um dever e um privilégio. Há memórias que, quando puxo por elas, fico enternecida. Não é propriamente saudosismo o que se apodera de mim, mas uma zona de conforto e de ternura. Lembrar a mesa posta para o café da manhã é uma delas.
Na casa da vó Maria, com quem eu morava, uma das primeiras tarefas de minha responsabilidade, por volta dos 7/8 anos, foi "pôr a mesa do café" à noite.


Consistia em limpar a mesa da copa, trocar a toalha e colocar um pratinho e, em cima dele, pires, xícara e colherzinha; e, no centro da mesa, uma bandeja com açucareiro, farinheiro, saleiro, manteigueira e uma "faca de mesa" para a manteiga. Ah, e guardanapos de panos!
Na copa havia um móvel de madeira, o lavatório, com uma bacia branca esmaltada, toalha de mão, sabonete e jarra de água, também de ágata. Não havia água encanada. Trocava a toalha, enchia a jarra de água e verificava se a bacia estava limpa. Nos primeiros dias, vovó ou a Albertina, a cozinheira, ficava ao meu lado, ensinando-me. Depois passei a pôr a mesa sem auxílio. De vez em quando, dava uma "esquecida" proposital... Mas vovó era rigorosa: "Acorda, vai cuidar da obrigação!". Ia para a escola muito cedo, eu tomava café sozinha. Aos sábados e domingos, a família toda tomava café ao mesmo tempo.

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Fotos de  CONJUNTO LAVATÓRIO, ARMAÇÃO, ESPELHO, BACIA, JARRO,SABONETEIRA Fotos de  LAVATÓRIO ESMALTADO COM SUPORTE DE FERRO
O hábito de "pôr a mesa do café" à noite é uma cultura familiar que reproduzi em minha casa. E a responsabilidade foi passando de Maria para Débora, dela para Lívia, para o Biel, que em um belo domingo nos acordou "para tomar café logo, pro misto não esfriar" - e nem completara 7 anos! Pulei da cama imaginando um acidente... Na mesa, uma jarra de suco, um misto-quente para cada pessoa e café fumegando no bule! Desconhecia que ele soubesse acender o fogão! Um baita susto e ele, com sorriso maroto, feliz da vida, apresentando suas estripulias gastronômicas! Desde então, virou o "fazedor de café" oficial da casa.
Por fim, a mesa do café chegou ao Arthur, com quem se perdeu no esvaziamento da casa. Com o ninho quase vazio, o costume de pôr a mesa do café sumiu! Só reaparece quando há visitas.


Mas como "o costume do cachimbo é que põe a boca torta", às vezes, já deitada, pronta para dormir, levanto-me e ponho a mesa... do café! Olho maravilhada e me dou conta de que, há muitos anos, quando saio para trabalhar, não tomo café. Paro na Mercearia Diniz, bebo um cafezinho, quando muito, como um pão de queijo e toco o carro... É cômodo e compatível com o corre-corre da vida de quem pega no batente cedo.


Ensinei ao neto Lucas, depois à neta Luana, que não demonstraram animação, mas insisto, mesmo correndo o risco de ser uma vó chata. Pasmem! Pôr a mesa do café na casa da vovó é uma imagem doce para ambos e sobre ela falam com muito carinho, assim como da outra cultura de conforto: a cochilada após o almoço.
O Lucas, que uma vez ficou escondido ao lado da geladeira, é tranquilo e acompanha-me na sesta e até cochila, mas a dona Luana de-tes-ta! Embora vá, não vendo a hora em que caio em sono profundo pra se mandar dali: "Ô Lucas, vê se a vovó já dormiu pra gente sair; quero ir pro computador...". Dei uma sonora gargalhada: "Luana, eu ainda não dormi. Fica quieta!".
A neta Maria Clara, embora ainda bem pequena, tem muito da pinga-foguice da Luana. Levo-a para a cama depois que almoço e minha sesta é interrompida N vezes pelos seus dedinhos em meus olhos, sinalizando que não está gostando daquilo... A "vozice" teima e teima em cochilar e ela acaba dormindo também... Momentos de ternura.





Publicado no Jornal OTEMPO em 19.07.2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Vadiação de vaqueiros na Matinha de Dona Lô

A valorização da educação é de extrema importância
Fátima Oliveira

A Vaquejada da Matinha de Dona Lô data de um século.
Chamava-se Pega de Bezerros dos Tropeiros, quando começou em 1911. Era uma brincadeira no pátio da fazenda do velho Chico Tropeiro, que foi mantida pelo filho Neneco Tropeiro e pelo neto, quando passou a se chamar Vaquejada de Dona Lô – por ser na Fazenda Matinha de Dona Lô, nome que passou a ter parte da propriedade original da família, onde ficava a primeira sede da fazenda, depois que nasceu a filha de Dotozim Felipe Tropeiro e Donana.

 Gado pé-duro

Dotozim Felipe Tropeiro, neto do tropeiro-fundador, Donana quando ficou viúva dele e a filha deles, a Dona Lô, carregaram no capricho, como uma promessa, a realização da vaquejada anual na Matinha de Dona Lô, como no tempo antigo: há uma demonstração de laçar bezerro, que não segue nenhuma regra das associações atuais do que chamam “Prova do laço” – é só soltar o bezerro na pista pra ser laçado; e a vaquejada propriamente dita, que é derrubar o boi pelo rabo.

Está perdido no tempo, mas foi Donana quem inventou de trazer as toadas de boi para abrir as vaquejadas da Matinha. Sendo ela nascida e criada em São Luís, sentia saudade daquelas toadas e viu na vaquejada uma oportunidade de matar a saudade.
Segundo Mãe Zefinha só se viu bumba-meu-boi por essas bandas depois da estrada de rodagem e “Mermo assim bichinha, num era todos os anos que Donana conseguia convencer os brincantes a comer poeira na Santa Luzia-Açailândia pra dar c’os costados por cá nesse fim de mundo, não! Era uma viagem cumprida demais pucardiquê as estradas de rodagem, tudim sem esse bicho preto, cumuchama?”
– ...
– Ah, asfalto! Era um trumento do mar maior do mundo. Levavam coisa de dois dias de viage pra chegar por cá. Mas de vez em quando vinha um boi bumbar por cá, que Donana quando encanfinfava cum u’a coisa, ia, ia, até conquistar aquilo! Eita muiezinha teimosa. Num parecia, mas era teimosa demais! A Lô puxou a ela, iscritim! Ela tem a merminha determinação da mãe quando quer as coisas. Num viu esse negoço de eleger a Dilma, de botar a Dilma lá nas alturas? Mermin mermo! Foi assim, dessa teimosia de Donana que tomamo ciência desse boi que dança e é aboiado por cantador. Que aqui num tinha, não! Vinha gente de muitas e muitas léguas prumode vê o boi dançar aqui na pega de bezerro dos Tropeiro. Coisa de admirar mermo!

Agora, com as estradas asfaltadas, Dona Lô todo ano pode fretar um ônibus pra trazer os brincantes de boi. Há na Matinha até uma casa para hospedar o povo que brinca o bumba-meu-boi, os brincantes. Claro que hospeda também outras visitas, mas Donana fez aquela casa só pra dar conforto aos brincantes de boi, quando os trouxe pela primeira vez.
Do que se sabe é a única vaquejada que abre com apresentação do bumba-meu-boi. E tem a particularidade ainda de ser uma vadiação de vaqueiros.  E dela, só vaqueiros de profissão ou dono de fazenda podem participar... São as regras.

Em vaquejada acaba sendo assim: cada lugar tem seus modelos, seus usos... Como diz Dona Lô, isso aqui é vaquejada e não rodeio! Vaquejada é uma coisa e as outras coisas são outras coisas, daí porque têm outros nomes! Nem mesmo tem a ver com o country estadunidense, o rodeio, e nem com a filmografia western. A vaquejada aqui na Matinha de Dona Lô resiste à vaquejada espetáculo, tão em moda. Aqui tem vaqueirice, a cultura vaqueira, o cuidado com os animais.

A namorada de Cesinha já disse que não virá porque é contra maus tratos a animais. E pra ela vaquejada é isso. E toda vida foi! Dona Lô se arretou...
– Rodeio, vaquejada – essa coisa horrível de derrubar o boi pelo rabo ou de laçar bezerros e imobilizá-los na arena – acho que é crueldade para com os animais. Imagine o tanto de maldade: primeiro encurralam o boi ou o bezerro e o agridem com pancadas ou choques elétricos para que fiquem furiosos e corram desesperados na arena; os cavalos são golpeados com chicotes de couro cru e esporeados pelos vaqueiros para que corram desembestados. São praticadas duas violências para garantir o deprimente espetáculo.
– ...
Ou seja, junta boi furioso de dor com cavalos irados por chicotes e esporas. E ainda a perseguição tem de resultar em boi derrubado pelo rabo, muitas vezes com fraturas das patas do boi e até arrancamento de rabo! Mesmo que não arranquem o rabo, é sabido que O gestobrusco de tracionar violentamente o animal pelo rabo pode causar luxação dasvértebras, ruptura de ligamentos e de vasos sanguíneos, estabelecendo-se,portanto, lesões traumáticas com o comprometimento, inclusive, da medulaespinhal”. A laçada de boi também pode resultar em fraturas...
– ...
– Brincadeira mais sem graça! Dois vaqueiros perseguindo um animal furioso...
– Minha santa, laçar boi e puxar boi pelo rabo, são práticas do antigo trabalho do vaqueiro nordestino, cujo objetivo, na apartação do gado, no tempo da criação de gado solto, era ferrar a bezerrama ou mesmo ministrar algum medicamento para curar bicheiras. Ou era pra deixar o bicho ser comido pela bicheira?
– ...
 
  Era um gado praticamente selvagem, o criado solto. O vaqueiro tentava laçar, mas em meio à caatinga, com muitos espinhos e varetas secas dos galhos das árvores, muitas vezes não era possível laçar; e o vaqueiro, astucioso e habilidoso, aprendeu a derrubar o boi pelo rabo.  É isso, astúcia e habilidade do vaqueiro, que celebramos na vaquejada.
A mulherada que estava na cozinha imersa nos afazeres de doçaria parou pra ouvir o discurso da namorada de Cesinha...
Dina Vaqueira

Mãe Zefinha estava espocando de ira e não se aguentou: “Ô bichinha, tu podia num comer carne. Pucardiquê pra comer carne tem de matar o bicho. Ou num é? Marcome que nem u’a onça varada de fome! Ou tu faz é pior, come o bicho vivim? Home, deixe de lorota! Deixe de ser malcriada e topetuda! Tua mãe não te ensinou bons modos, não? Tá aqui de visita, sendo bem arrecebida pela dona da casa e me sai com essa de querer cagar regra? Se Lô, por educação, pra não desgostar Cesinha,  num lhe arresponde, lhe arrespondo eu! Chispe daqui agora, já! Vá espiar preguiça no mato, escutar passarim cantar, esfregar o cabaço, se é que ainda tem, que eu duvido, do tanto que tu grosa no Cesinha o dia intiriço, nas fuças dele... Num precisa de tu aqui não, que tu é uma morta de preguiça. Tá vendo nós aqui tudo trabaiando e num faz nadica de nada, nem pra descascar uma banana tua corage num dá”...
E ela saiu batendo o pé e dando rebanada...
Mal ela saiu entrou Cesinha e sequer teve tempo de abrir a boca...
– Cesinha, meu filho, que menina puro entojo essa tua namorada, hein? Todo mundo tem direito de dizer o que pensa. E mais, de pensar como bem entender, mas ela está inconveniente demais. Precisa ligar o desconfiômetro dela. Na toada que ela vai vamos virar políticas...
–...
– Nós aqui nessa trabalheira de doçaria e ela enchendo linguiça de conversa fiada, meu filho! Vai lá pra fora, pega os cavalos e vai dar uma volta com ela por aí e deixa a gente sossegar um tiquinho. Vê se eu preciso de gente, dentro da minha casa, budejando em meu ouvido! Dê as ordens bem combinadinho; passe bem a língua nela e que ela não me volte aqui falando em vaquejada. Nem bem e nem mal! Ela não gosta e eu gosto. Acabou-se e ponto final! Ou ela acha que vou deixar de fazer minha festa por causa dela? Ô iludida! E que não dê com as fuças por aqui no dia da festa para protestar! Aqui é uma propriedade particular, só entra quem eu convidar, quem eu deixar. Tudo bem? Ela veio passar uma semana de férias aqui, não foi? Pois bem, chegou no dia 1º. Não foi? Hoje é dia 7. Pois tá na hora de juntar os paninhos de bunda e dar meia volta, volver... “Caminho do feio, por onde veio”...
– ...
– Entenda, não sou contra ela pensar como quiser. Só não aceito que fique dando a entender que sou uma cruel. Coisa que nunca fui e não sou! Vá logo que estamos trabalhando e ela só no atrapalho!
Desde a segunda-feira, dia 4 de julho, que a cozinha da casa da fazenda virou uma doçaria, comandada por Dona Lô e mais quatro doceiras afamadas.
– Dona Lô, ela vai embora amanhã à tarde. Foi o combinado. A família dela vai viajar de férias. Vão pra praia em São Luís no próximo fim de semana.
– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, muito que bem! Dessa “inconha” vou me livrar, breve!
Na segunda e na terça-feira, fizeram as tachadas de doces de banana, desde bala, a bananada, a compota, bananinhas cristalizadas e doce de casca de banana, um tipo de doce fabricado na Matinha de Dona Lô, uma receita da bisavó dela! É uma quantidade enorme de banana transformada em doce. A casa fica com cheiro de banana entranhado.
E também o queijo coalho começa a ser feito na segunda-feira, pois o costume é fazer de 200 litros de leite o queijo coalho, que vai sendo feito aos pouquinhos, pra não perder o sabor e nem a qualidade e ser vendido fresco na festa da vaquejada.
Na quarta-feira, os doces de leite: o simples, em quadradinhos, o tijolo, a ambrosia e a aletria. Também a medida é transformar 100 litros de leite em doces.
Na quinta-feira, é dia de fazer a montanheira de bolo cacete, bolo de banana e o famoso biscoito de banana verde, coisa especial da Matinha de Dona Lô.
E na sexta-feira, a mulherada prepara a panelada e a buchada de bode, enquanto os homens tomam conta dos preparativos do churrasco.
Grupo de meninas brincando, PortinariMeninas brincando (Portinari)

Ah, e também fazem pirulitos de mel, sempre na sexta-feira, à tardinha, que são os dodóis de Dona Lô: “A lembrança que mais dava saudade das vaquejadas daqui de casa quando estava fora do Brasil era o pirulito de mel que Mãe Zefinha fazia! Quando criança, vaquejada para mim era igual a ter pirulito de mel para chupar à vontade!”
Sexta-feira, às doze horas em ponto, como era o costume, quando o fogo do churrasco estava só o braseiro, tudo, absolutamente tudo, britanicamente, estava pronto para começar a primeira atividade da festa, o churrasco de vitelo! Aí Dona Lô foi tomar seu banho pra se aprontar pra começar a receber suas visitas.
Quando estava saindo os primeiros espetos de costela, chegam Estela e sua catrevagem... Pedro, pra não variar, já desce do carro dando gaitadas. Tão animado que aquela animação dele sempre dá nos nervos de Dona Lô... “Ai, Santíssima, misericórdia! Se não fosse por Estela, esse Pedro não seria tolerado aqui... Gente boa ele até que é, mas é PMDB doente, doente... Bem, poderia ser pior, do PR, desse partido que fez do Ministério dos Transportes um balcão de negócios. Mas Dilma vai dar um jeito nesse colesterol ruim que está entupindo as veias do governo dela. Ora, se vai! E tem de ser ligeiro. Há uma ruma de colesterol ruim em muitos lugares do governo. É rastrear e desaboletar dos lugares que ocupam porque embolia de gordura os médicos dizem sempre que é coisa séria. Vumbora Dilma! Quem for podre que se arrebente. Não há outro jeito: é fazer uma limpeza ética no governo e a base aliada que se aguente...”.
– Dindinha, faz três dias que Pedro e os meninos só falam na ambrosia daqui de casa...
– É que pra mim é a melhor ambrosia do mundo e Dona Lô sabe bem disso. Não sei o que diacho ela coloca nessa ambrosia da vaquejada porque é melhor do que as outras feitas no decorrer do ano. Tem diferença. Qual é não sei. Mas tem!
– Bobagem Pedro. A receita é a mesminha: doce de leite com ovos! Ambrosia bem feitinha é gostosa mesmo. Vou repetir. Coisa que faço todo ano pra você. Veja se presta atenção e aprende! A palavra ambrosia quer dizer "Manjar dos Deuses do Olimpo, que garante a imortalidade”.  Isto é, substância mágica comida pelos deuses da mitologia grega e romana, que também a esfregavam no corpo, com a finalidade de garantir a imortalidade. 
– Dizque a namorada de Cesinha se arretou aqui e picou a mula, foi?
– Se se arretou não sei de nada, mas que picou a mula é verdade. Mas pergunte à Mãe Zefinha que teve um entrevero com ela... Mas deixe isso pra lá, pra não estragar a nossa festa.
Antônio Cícero (cantador), Dona Dina e Luiz Gonzaga (Missa dos Vaqueiros de Canindé)

A brincadeira, isto é a vaquejada, é sempre num sábado. A chegada dos bois, dos vaqueiros e fazendeiros com os animais inscritos pra correr, é na véspera. Ou seja, na sexta-feira, a partir de meio-dia, quando são recepcionados com um churrasco de novilho novo, um vitelo, que entra pela noite e quando são servidos dois tipos de caldo, de abóbora e de macaxeira, todo mundo sabe que tá na hora de se recolher e obedece. São as regras da Matinha de Dona Lô.
A chegada dos convidados do churrasco aconteceu sem atropelos. Por volta de duas da tarde todo mundo já havia chegado. Até o ônibus do bumba-meu-boi, com trinta componentes! Comida boa, bebida, idem e as conversas, melhores ainda. Dona Lô e Estela transitavam em meio aos convidados: um como vai ali, outro acolá. Tapinhas nas costas, abraços e muitos risos...
– Pois Dona Lô, a senhora fique sabendo que aqui pelas redondezas não há pista de vaquejada nem no rumo da sua, que é a melhor de todas que conheço. E olhe que conheço muitas...

– Obrigada seu Pedro Paulo! Nossa pista é bem conservada mesmo. Faço questão, sem falar que Zé Vaqueiro, que treina bastante nela, tem um cuidado especial. É sempre tudo bem cuidadinho e demarcado. É uma pista padrão: 160 m; com duas pistas: a faixa de tolerância, a faixa de pontuação, a área de desaceleração e o brete.
– Me diga, por que não aumenta a participação de gente nessa festa, senhora?
– Todo mundo sempre fala nisso. Minha vaquejada é um evento de prazer, não é uma coisa comercial, como andam fazendo por aí com as vaquejadas, que não sou contra, o que não pode é perder a ideia da vaqueirice...
– ...
  Mas aqui não tenho como receber mais do que quinhentas pessoas com conforto. Enquanto eu não puder receber todo mundo igualzinho, ficamos mesmo só nos quinhentos ingressos. Tá de bom tamanho para mim. Controlo melhor.
– ...
  E olhe que fazer uma festa assim é trabalhoso e a gente quebra muito a cabeça. É preciso cuidado com o meio ambiente e também com a segurança: limitar as possibilidades de arengas. Daí porque só cerveja em lata, pinga no tonelzinho de madeira, nada de garrafas! Garantir água potável à vontade pra todo mundo, e de graça, bem geladinha, dispensando a água mineral engarrafada. Tudo isso é preocupação...
– Entendo, entendo! A senhora é muito sistemática. Igualzinho à sua mãe Donana que, pode crer, fez dessa festa esse colosso que é hoje. Certa feita ela disse que estava triste com os rumos da vaquejada espetáculo, com coisas que o povo falava que eram maus tratos a cavalos e a bois – falam o mesmo dos rodeios – e que enquanto ela viva fosse a Vaquejada da Matinha seria sempre como foi: uma brincadeira capaz de demosntrar que mesmo a vaquejada tendo virado um esporte que atraia multidões e dava aos seus organizadores rios de dinheiro, era possível manter a sua como um momento de descontração para quem apreciava a brincadeira e que vaqueiro que tirasse sangue do cavalo ou do boi, estava fora para sempre de sua pista de vaquejada e aqui perdia o prêmio.
...
– Foi quando Donana instituiu que os prêmios daqui só seriam dados depois que os animais, bois e cavalos, fossem vistoriados pelo júri da vaquejada. Sabia que só aqui tem disso?
– Não apenas sei. Faço igualzinho a ela. Pista de vaquejada não pode ser palco de crueldade com os animais. Nunca! Aqui não aceitamos, é proibido, vaqueiro puxador e vaqueiro bate-esteira metido a mau com os bichos.
Lá quase pelo fim da tarde Dona Lô pediu licença pra dar uma cochilada, avisando que a idade pesa e que voltaria para ouvir os violeiros que deveriam chegar por volta da boquinha da noite.
No sábado, o pátio da fazenda amanheceu com as barraquinhas de comidas montadas e nelas foi servido para as visitas um café do sertão, dos mais legítimos: café, leite, chás, beiju, batata-doce e inhame cozidos, ovos cozidos e estrelados, cuscuz de milho e de arroz, chapéu de couro, bolo frito e queijo coalho. Ah, manteiga de garrafa e espeto de carne seca assada na brasa!
Há comida de monte na vaquejada. Todo mundo come nas barracas, cada uma comandada por uma cozinheira afamada do lugar.

Há a Barraca da carne-de-sol (carne-de-sol na manteiga de garrafa, macaxeira cozida com manteiga de garrafa, baião de dois e Maria Isabel, de carne seca e de carne-de-sol gorda); a da galinha caipira (ao molho simples, ao molho pardo e galinhada); a do bode (de caldo com ou sem leite de coco, pernil e paleta assados no forno, e bode seco assado na brasa); a do porco (espinhaço ao molho, costelinha frita, linguiça caseira, pernil e lombo assados no forno); a da panelada e da buchada de bode; a dos caldos (feijão, macaxeira, abóbora e inhame); a da bebida; a dos doces e quitandas; e a das comidas de São João (milho e batata-doce assados na fogueira, chá-de-burro, canjica, pamonha, amendoim torrado, pé-de-moleque, pipoca e quentão). 
E há um ano apareceu mais uma, a Barraca vegetariana, invenção de um amigo de Pedro, que vende sucos de tudo quanto é fruta que há na região, salada verde e sanduíche de “mil e um matos”. Pois não é que vende e muito? Na vaquejada passada vendeu trezentos desses sanduíches e ainda ficou gente querendo mais! É muito num dia só, não é?
Todo mundo almoça nas barracas. “Não se acende fogo na cozinha da casa de Lô em dia de vaquejada. Já era assim no tempo de Donana”, diz Mãe Zefinha.
Festa de São João (Anita Malfati)

Do amanhecer do dia até a hora em que começa a vaquejada, todas as barracas de comida servem o café sertanejo das visitas, bancado por Dona Lô. Basta apresentar o cartão que dá direito ao café. Na frente das barracas há muitas mesas com bancos rústicos de madeira e tamboretes.
Descrição da imagemLuiz Gonzaga - Boiadeiro
É um grande restaurante ao ar livre, enfeitado com bandeirolas de festa junina e estandartes dos santos juninos, até encerrar a vaquejada. Ao lado, o palco do sanfoneiro, que são dois, que se revezam tocando das nove da matina até encerrar a vaquejada.


Gado pé-duro
 

Quando foi anunciado pelo microfone que estava na hora da vaquejada, fez-se um silêncio total. Dona Lô deu umas palavrinhas contando a historia das Pegas de Bezerros da Família Tropeiro, incialmente só com gado pé-duro, que era o que se criava naquele tempo, pontuando o trabalho do vaqueiro, a cultura da vaqueirce, a importância cultural e historica do gado pé-duro e a luta para ele não desaparecer; e que vaquejada de hoje seria aberta com bezerros pé-duro, nada de o pé-duro ficar no rabo da gata, como uma forma de valorizar essa raça de gado. E que na vaquejada de hoje cada dupla de vaqueiro (o puxador e o bate-esteira) correria dois bois, sendo que um deles sempre seria pé-duro. E o total de pontos seria o somatório dos dois bois corridos.
  Os vaqueiros do sertão nordestino fotografados após a leitura de Os Sertões (Antonio Costa/Gazeta do Povo)Os vaqueiros do sertão nordestino fotografados após a leitura de Os Sertões (Antonio Costa/Gazeta do Povo)

E olhando para as duplas de vaqueiros ao seu lado no palco, todas burnindo e reluzindo, com seus chapéus de couro e gibão estilizados, pediu um minuto de silêncio pelo presidente Itamar Franco – “Para dizer do respeito que temos por ele, pelo seu papel na condução da democracia brasileira e pelo seu exemplo de honestidade, coisa que deveria ser natural nos políticos, que infelizmente não é!” Em seguida pediu uma estrondosa salva de palmas em homenagem também ao presidente recém-falecido. Por fim, pediu à Mãe Zefinha que benzesse os artistas da festa: os vaqueiros, os bezerros, os bois e os cavalos.

E começou a festa, que seguiu conforme abaixo:
Vaquejada de Dona Lô
Programação:
8 de julho (Sexta-feira): chegada das equipes participantes, a partir de 14:00
9 de julho (Sábado) – Exibição das parelhas de vaqueiros inscritas na vaquejada
9:00 às 10:00 – Apresentação do bumba-meu-boi e sorteio da ordem de exibição das parelhas de vaqueiros
10:00 às 12:00 – Exibição de laçar bezerro + Exibição das parelhas de vaquejada (15 minutos para cada)
12:00 às 14:00 – Almoço nas barraquinhas
14:00 às 16:30 – Exibição das parelhas de vaquejada (15 minutos para cada)
16:30 – Encerramento, com a entrega do Troféu Chico Tropeiro pra duplas vencedoras de 1º., 2º. e 3º lugares, seguida de reapresentação do bumba-meu-boi.


  

Às 18:00 em ponto foi passado o cadeado dos portões da Matinha de Dona Lô e começada a limpeza do pátio.
– Ave! Correu tudo bem. Festona bonita! Estou num cansaço que meu corpo só pede cama. Vou sentar ali apreciando a varrição do pátio e a desmontagem das barracas e tomar o meu primeiro gole de cerveja do dia. Ainda bem que não tenho de descer pra Chapada. Minha vaquejada acaba aqui. Ô Estela, cadê Pedro, minha santa?
– Como de costume, tá escornado dormindo. Pedro nunca viu o encerramento de uma vaquejada Dindinha! Come e bebe que nem um condenado, como se a comida e a bebida daqui fosse a última do mundo. Claro, quando dá lá pelas três, o mais tardar quatro, da tarde o bicho tem de dormir. Agora dá sossego. Só acordará amanhã. Depois fica dizendo que um dia vamos balançar o esqueleto no forró da Chapada do Arapari depois da vaquejada. Não sei quando será isso...
– Pelo visto, nunca!
(Bailinho) Anita Malfati

E às 19:00  em ponto começou na Chapada do Arapari o Forró da Vaquejada, que só parou quando o sol raiou no domingo... Mas há outro arrasta-pé famoso, no mesmo dia e na mesma hora, que é no Cabaré de Lalá.  Como diz Dona Lô: “Toda vida acontecem duas festas em dia de vaquejada. Pensando bem, acho que devo incluo na programação oficial o Forró do Cabaré de Lalá, o Peixeira no Bucho!”

Fazenda Matinha de Lô, Chapada do Arapari, 11 de julho 2011

Os quitutes...

BALAS DE BANANA
Ingredientes: 1 kg de banana; 800 gramas de açúcar e 2 colheres de suco de limão.
Modo de fazer:
Descasque as bananas e corte em fatias finas, leve ao fogo com o açúcar e o suco de limão. Deixe apurar até aparecer o fundo da panela. Coloque em um prato untado com manteiga, deixe esfriar, faça as balas e enrole em papel celofane.

BANANADA
Ingredientes: 1kg de banana; 700g de açúcar e suco de limão.
Modo de fazer: 
Descasque as bananas e retire os fios. Bata as bananas no liqüidificador e para cada quilo de massa coloque 700g de açúcar. Em uma panela de alumínio, coloque a metade do açúcar para derreter e em seguida a banana, o restante do açúcar e o suco de limão, mexendo sempre com uma colher de pau, até ficar uma cor escura. Guarde em latas pulverizadas com açúcar.

COMPOTA DE BANANA
Ingredientes: 2 dúzias de banana tipo `Prata´; pedaços de canela em pau; 4 cravos-da-índia e 1½ kg de açúcar.
Modo de fazer:
Leve ao fogo uma panela com água, pedaços de canela em pau, quatro cravos-da- índia e 1,5 quilo de açúcar. Quando a calda atingir o ponto de fio, acrescente duas dúzias de banana. Deixe as bananas ferverem em fogo lento até ficarem cozidas. A seguir, coloque a compota em frasco de vidro, de boca larga, previamente esterilizado. Feche os vasilhames e leve ao fogo, em banho-maria, fervendo por 30 minutos. Deixe os vidros dentro da água, retirando-os depois que a água estiver totalmente fria.

BANANINHAS CRISTALIZADAS
Ingredientes: 2 dúzias de bananas tipo ´Prata´ e açúcar.
Modo de fazer:
Descasque as bananas, sem usar faca. Faça uma calda em ponto de fio e coloque as bananas. Torne levar ao fogo até que as bananas fiquem roxas. Tire-as do fogo e deixe-as escorrer em uma peneira de palha e prepare uma nova calda bem rica em açúcar. Depois de bem escorridas as bananas, deite-as novamente nesta calda e deixe apurar em fogo bem brando. Depois de seca a calda, passe as bananas no açúcar e deixe secar ao sol.

BOLO DE BANANA
Ingredientes: 3 bananas `Nanica´ bem maduras; 2 ovos; ½ colher de chá de bicarbonato de sódio; 1 colher de chá de fermento em pó; 2 xícara de farinha de trigo e ¾ de xícara de açúcar. Passas e nozes moídas (opcional).
Modo de fazer:
Amasse as bananas, acrescente o açúcar e os ovos e misture bem. Adicione a farinha peneirada com o fermento e bicarbonato. Unte uma forma e despeje a massa e coloque para assar em forno médio.

BISCOITO DE BANANA VERDE
Ingredientes: 4 bananas tipo `Terra´ verdes; 1 lata de leite condensado; 1 colher de baunilha; 1 colher de canela em pó e gengibre.
Modo de fazer:
Descasque as bananas verdes e cozinhe-as. Quando estiverem macias, amasse-as e coloque em uma panela. Adicione canela, leite condensado, baunilha e gengibre. Cozinhe a mistura por 15 a 20 minutos e sirva.

DOCE DE CASCA DE BANANA
Ingredientes: 5 copos de casca de banana picadinhas; 3 copos de açúcar; 4 copos de água; e cravo, canela e baunilha, a gosto.
Modo de fazer: 
Cozinhe as cascas picadas em 2 copos de água. Retire e bata no liqüidificador. Passe na peneira e acrescente o açúcar e o restante da água e leve ao fogo, mexendo até dar ponto de doce. Por último, acrescente o cravo, a canela e a baunilha.
FONTE: http://pt.scribd.com/doc/127263/receitas-com-banana

DOCE DE LEITE
Ingredientes: 2 l de leite e 4 xícaras de açúcar (750 g) 
Modo de fazer:
1. Coloque o leite e o açúcar em uma panela grande de fundo largo
2. Leve ao fogo médio, mexendo sempre com uma colher de pau, até ferver (cerca de 15 minutos)
3. Diminua o fogo e continue mexendo até obter um doce marrom claro de consistência cremosa (cerca de 45 minutos)
4. Passe o doce para um refratário, deixe esfriar bem e sirva às colheradas em pratos de sobremesa com fatias de queijo branco
5. Com sabores: vários ingredientes podem ser adicionados ao doce já pronto para mudar o sabor: ameixas pretas previamente aferventadas, coco ralado, passas maceradas ao rum, nozes picadas ou figo em calda.
Dicas:
. Para obter um doce com textura bem delicada e cremosa, é preciso mexer o leite sem parar; e
. Primeiro para dissolver por completo o açúcar e depois para que ele caramelize por igual e não forme grumos (bolas) no fundo da panela

DOCE DE LEITE EM QUADRADINHOS
(30 porções)
Ingredientes: 1 litro de leite; 1 quilo de açúcar; e 1 colher (chá) de bicarbonato de sódio
Modo de fazer:
1. Misture o leite com o açúcar e leve ao fogo até ferver
2. Adicione o bicarbonato, abaixe o fogo e deixe ferver brandamente até engrossar, sem parar de mexer, até aparecer o fundo da panela
3. Retire do fogo e bata o doce até começar a perder o brilho
4. Despeje numa pia de mármore ou tabuleiro untados com manteiga e depois de frio, corte em quadradinhos
 
TIJOLO DE DOCE DE LEITE
(doce de leite de corte)
Ingredientes: 1 litro de leite (só dá certo com o leite de vaca puro ou o leite pasteurizado) e
700 g de açúcar
Modo de fazer:
1. Misture os dois ingredientes
2. Leve ao fogo e mexa sem parar até que engrosse
3. Em seguida coloque a panela embaixo da torneira para dar um choque térmico e mudar a textura, continue mexendo até amornar
4. Em seguida coloque em uma fôrma quadrada
5. Consuma após endurecer
 
ALETRIA À ANTIGA
(Tânia Martins )  
Ingredientes: 500 g de aletria (espaguete fino); 4 cascas de limão; 500 g de açúcar; 1 litro de água;  1 litro de leite; 100 g de manteiga; e sal quanto baste
Modo de fazer:
1. Na primeira fase, junte o leite, água, manteiga, sal, açúcar, e limão.
2. Quando começar a ferver, junte a massa; e quando ela estiver devidamente cozida, coloque "estendida",  um tanto separado, num tabuleiro para secar.
3. Deverá ser cortada em pedaços para ser servida.
 Fonte: Culinária & Receitas

DOCE DE LEITE COM OVOS (Ambrosia)
Ingredientes: 1 litro de leite, 4 ovos, 2 xícaras e meia de chá de açúcar; e 1 colher de chá de essência de baunilha
Modo de fazer:
1. Leve o leite ao fogo, deixe levantar fervura e espere esfriar
2. Em uma tigela bata ligeiramente os ovos
3. Junte os ovos batidos ao leite frio, acrescente o açúcar e a baunilha
4. Leve novamente ao fogo brando, até que o leite talhe e forme bolinhas
5. Mexa de vez em quando ligeiramente para não desmanchar o talhado
6. O doce estará pronto quando estiver soltando do fundo da panela

AMBROSIA
(Fernando Jorge Alves – Lisboa)
Ingredientes: 8 gemas de ovos; 1 pau de canela; 2 cravos-da-índia;
500 grs de açúcar; 1 casquinha de limão; 2 dl de leite; 3 dl de água
Modo de fazer:
1. Mistura-se num tachinho, o açúcar com a água, o pau de canela e os cravos-da-índia, leva-se ao lume e deixa-se ferver sem mexer durante 10 minutos.
2. Numa taça batem-se as gemas com o leite e a casca de limão.
3. Deita-se esta mistura lentamente na calda a ferver, mexendo devagar e sem parar, até estar um creme levemente espesso.
4. Retira-se do lume e deita-se em tacinhas ou em taça grande.

AMBROSIA DA VOVÓ MARIA
(Versão grega do doce, menos açucarado que a versão portuguesa porque é feita no leite, ao contrário da outra, cozida na calda do açúcar).

Ingredientes: 5 litros de leite integral; 3 xícaras de açúcar refinado; 5 pauzinhos de canela;
5 ovos ; e canela em pó (opcional)
Modo de fazer:
1. Ferva o leite em uma panela grande e de borda larga.
2. Acrescente o açúcar e mexa sempre, até levantar fervura.
3. Diminua a chama e deixe ir secando vagarosamente, durante três horas.
4. Quando a mistura começar a engrossar e a ficar morena, acrescente a canela.
5. Bata as claras em neve, junte as gemas e bata por mais cinco minutos.
6. Despeje sobre o leite fervendo, sem mexer, e deixe cozinhar durante mais cinco minutos.
7. Corte em cruz, descole das bordas da panela e vire cada pedaço, com cuidado para não quebrar.
8. Deixe cozinhar cerca de quarenta minutos.
9. Despeje em compoteira funda.
10. Sirva gelada e polvilhe canela, se quiser.

QUEIJO COALHO
Ingredientes: 10 litros de leite de vaca; 1 colher de sopa de coalho liquido (pode ser encontrado em lojas de produtos da agropecuária); e 100 g de sal  
Modo de fazer:
1. É preciso ferver o leite.
2. Em seguida deixamos que ele esfrie. Depois devemos acrescentar o coalho e mexer bastante.
3. O leite fica coalhado, uma hora e meia depois.
4. A próxima etapa é separar o leite coalhado do do soro. Não jogue fora o soro.
5. A massa do queijo, que é o leite talhado deve ser aberto numa bandeja. Um rolo de madeira pode ajudar e facilita o escoamento de todo o soro.
6. Agora peque um litro do soro retirado e ponha no fogo para esquentar. Ainda quente misture à massa, dando homogeneidade. Isso facilita para que o queiro fique bem macio.
7. Agora é só colocar o sal e misturar bem a massa. O queijo já pode ir para as formas. A medida que for colocando a massa vá pressionando ou se tiver uma prensa, use-a para dar consistência e dar uma forma  com a massa bem concentrada. O queijo deve ficar na prensa ou forma durante 24 horas. Depois é só desenformar. Está pronto queijo de coalho tradicional.
FONTE: Nordeste Rural

LEITE CONDENSADO CASEIRO
Ingredientes:  ½ xícara (chá) de água quente; 2 xícaras (chá) de leite em pó; e  1 xícara (chá) de açúcar cristal 
Modo de fazer:
Num liquidificador coloque água quente, leite em pó e açúcar cristal. Bata por 3 minutos até ficar com a consistência de leite condensado. Transfira para um recipiente e espere esfriar. Obs.: a mistura vai ficar mais encorpada conforme for esfriando.

PIRULITO DE MEL
Ingredientes: 1 kg de açúcar (cristal ou refinado); suco de um limão pequeno; 1 copo (de 200 ml) de água; e 100 ml de mel
Materiais: Papel manteiga; 60 palitos para pirulito (encontrados em lojas de festas); e 1 caixinha de papelão
Modo de fazer:
1. Numa panela colocar a água, o suco de limão, o mel e, aos poucos, o açúcar. Levar ao fogo brando e mexer por cinco minutos. Deixar por mais 20 minutos, até obter uma calda amarela, mais consistente.
2. Deixar a calda descansar por cinco a dez minutos na panela.
3. Cortar o papel manteiga em pedaços de 6 cm x 9 cm e enrolá-los em forma de cone, fechando no fundo para não vazar.
4. No fundo de uma caixinha de papelão (pode ser usada uma caixa de sapatos), abrir pequenos buracos (com 2 cm de diâmetro) para encaixar os cones.
5. Depois de preenchê-los com a calda, deixá-los esfriar por dez minutos, antes de colocar os palitos. Deixar descansar em temperatura ambiente e servir (de preferência) no dia seguinte.
Rende em média 55 pirulitos.

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