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terça-feira, 26 de abril de 2011

A tecnologia mineira do abraço



Slide 1. M COISAS DE MINEIRIM
Slide 2. A TECNOLOGIA MINEIRA DO ABRAÇO
Slide 3. O matuto falava tão calmamente, que parecia medir, analisar e meditar sobre cada palavra que dizia... “É ... das invenção dos hómi, a que mais tem sintido é o abraço.”
Slide 4. O abraço num tem jeito dum só apruveitá! Tudo quanto é gente, no abraço, participa duma beradinha...
Slide 5. Quandu ocê ta danado de sordade, o abraço de arguém ti alivia... Quandu ocê ta danado de reiva, vem um, te abraça e ocê fica até sem graça de continuá cum reiva...
Slide 6. Si ocê ta filiz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim de sua alegria... Si arguém ta duente, quandu ocê abraça ele, ele começa a miorá, i ocê miora junto tamém...
Slide 7. Muita gente importante e letrado já tentô dá um jeito de sabê pruquê quié qui o abraço tem tanta tequilonogia, mas ninguém inda discubriu...
Slide 8. Mas, iêu sei... Foi o isprito santo de Deus qui mi contô... Iêu vô conta proceis uqui foi qui ele mi falô: O abraço é bão prucausa do Coração...
Slide 9. Quandu ocê abraça arguém, fais massage no coração!... I o coração do ôtro é massagiado tamém! Mas num é só isso, não...
Slide 10. Aqui ta a chave do maior segredo de tudo: É qui, quandu abraçamo arguém, nóis fiquemo tudo é com dois coração no peito!... (autor desconhecido)
Slide 11. M INTÃO, MI DÁ UM ABRAÇO?
FONTE: www.slideboom.com/presentations/149715/AbracoMineiro

Só combater a pobreza é pouco para debelar o racismo

Luiza Bairros assume a Secretaria de Políticas de Promoção da 
Igualdade Racial
Pobreza é uma coisa e racismo é outra coisa
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br


O Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), produziu dois relatórios sobre a situação dos negros (Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2007-2008 e o de 2009-2010) - obrigatórios para o movimento balizar suas reivindicações e para orientar a ação de governos que não professam a fé bandida do racismo.
O Relatório Anual pinça as desigualdades raciais; procede a mensuração delas via indicadores econômicos, sociais e demográficos; e sistematiza avanços e recuos da equidade racial em seus múltiplos aspectos. O Laeser mantém o Fichário das Desigualdades Raciais: indicadores sociais e demográficos segundo o recorte racial/étnico, que, junto com o Relatório Anual, são guias indispensáveis para a elaboração e execução de políticas públicas, pois retratam o miserê vivenciado pelos negros na vida social e política.
No relatório de 2007-2008 destaco a conclusão que revela de modo inequívoco o quanto a ideologia racista está entranhada, de cabo a rabo, na amostra dos tribunais de Justiça estudados (85 casos em 13 tribunais, de 1º.1.2005 a 31.12.2006): "Nos acórdãos provenientes de decisões de primeiro grau, de natureza civil ou penal, 40% dos processos foram julgados como de mérito improcedente: o juiz analisou a questão e concluiu que a vítima não tinha razão. Em 5,9% dos casos, o processo foi julgado improcedente sem mérito. Isso implica que o magistrado não analisou a matéria de direito e de fato, permitindo que a vítima possa propor nova ação".
"Os processos julgados procedentes corresponderam a 35,3% dos casos e a procedência, em parte, correspondeu a 14,1%, juntos totalizando 49,4% dos casos. As vítimas, para o período estudado, ganharam mais que perderam nos processos de primeiro grau. Nos tribunais de segunda instância, as vítimas ganharam em 32,9% dos casos, enquanto os réus venceram em 57,7%: na fase de segundo grau, os réus vêm levando vantagem, tendo alteradas as decisões de primeiro grau, vencidas, na maioria, pelas vítimas" (www.laeser.ie.ufrj.br/relatorios_gerais.asp).
Parece difícil, mas é simples. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) deve ousar agir junto aos tribunais visando elevar a consciência antirracista de seus integrantes.
Sem atacar de frente e a fundo os padrões culturais que alimentam o racismo, a luta será inglória.
Para o pesquisador Marcelo Paixão, em entrevista à "Afropress", "algumas políticas que vieram da Constituição significaram avanços" para a população negra. E cita o SUS: 80% dos negros se internam pelo SUS; os indicadores de universalização da cobertura da rede de ensino, entre 7 e 14 anos; e o Bolsa Família: a maioria dos beneficiários é negra.
"Para cada um desses indicadores, há tantos vetores que servem como contraponto que cada um deles fica colocado sob uma perspectiva que acaba não sendo muito otimista".
O relatório do Laeser de 2009-2010, cotejado com o momento bom da economia nacional, evidencia que uma política de combate à pobreza é necessária para extirpar a miséria e minorar a pobreza entre os negros, mas é insuficiente para conferir cidadania plena, caso não inclua ações antirracistas, pois pobreza é uma coisa e racismo é outra. Embora possam estar juntas, possuem dinâmicas diferentes.
O resto é balela. Bem sabe a ministra Luiza Bairros.


O TEMPO em 26.04.2011
Republicado:  Site Lima Coelho    e VI  O MUNDO


segunda-feira, 25 de abril de 2011

“As mulheres na ressurreição de Cristo” é um agradecimento por Dilma


Gustavo Rosa homenageia a presidenta Dilma Rousseff

Fátima Oliveira


Dona Lô estava deitada no sofá da sala lendo uma revista quando começou a matutar, remoendo suas lembranças...
“Quando Gracinha ia fazer o ginásio um dia pegou minha mãe chorando e decidiu que não a deixaria sozinha. E aqui ficou nos horizontes curtos da Chapada do Arapari, por mais que mamãe dissesse que ela estava ‘cortando a sorte’ decidindo não estudar mais. Talvez sim, talvez não. Nunca se sabe. O certo é que ela ficou fazendo companhia à mamãe quando eu não estava aqui.

[Tays Rocha]

Poucos anos depois, um dia pegou uma barrigada numa vaquejada lá pelas brenhas. Assim nasceu Cesinha, que virou “o tudo” de mamãe e Gracinha a cozinheira. De carteira assinada. Antes, até ter Cesinha, era uma afilhada que morava com a madrinha. Assim herdei Cesinha de mamãe também. Ele é de minha responsabilidade, até o dia em que vestir a toga de juiz. Era o desejo de Donana, minha mãe, e assim será!
Agora Cesinha vai aparecer aqui trazendo uma namorada a tiracolo. E achando pouco, a mãe da namorada! Valei-me Santíssima! Foi o que pensei quando ele perguntou se poderia trazer duas visitas para a Semana Santa. Um pouco assustada, na dúvida, tive um clarão.
Pensei que era melhor eu conhecer as ditas cujas. Concordei. ‘Você vai dormir no quartinho da selaria, onde se hospedava Inácio Vaqueiro, para poder acomodar suas convidadas dentro de casa, em seu quarto’. O bichim ficou saltitante de alegria”.
Gracinha não gostou muito quando Dona Lô falou que parecia que Cesinha estava “encegueirado” com uma coleguinha; e que ela e a mãe viriam para a Semana Santa na Matinha.

[cottage_with_flowers.jpg]

– Viiiixe, pois tenho de falar com Zé Vaqueiro pra gente receber esse povo.
– Pucardiquê Gracinha? Cesinha não mora com você! As visitas dele quem tem de receber sou eu, pois não?
Ela ficou calada. Olhando de rabo de olho, Dona Lô não viu as lágrimas escorrendo no rosto de Gracinha. Não prestou muita atenção porque teve de atender o celular. Era Inácio Vaqueiro.
– Dona Lô, como vai Vosmicê? Não mereço, mas peço as minahs desculpas. Estou telefonando pra desejar felizes “Dias Grandes” pra Vosmicê. E também pra tomar uma opinião. Laurinha deseja mandar as crianças tomar benção ao pai pela Semana Santa. Vosmicê acha conveniente?
– Ô Inácio, onde já se viu ser inconveniente filho vir tomar benção ao pai? Vai mandar como e quando? Não quero nem você e nem Laurinha por aqui por perto, viu? Mexeu com Zé Vaqueiro, mexeu comigo... Logo, não quero nem dadas e nem tomadas com vocês por aqui... Não ensandeça o homem, sô!
– ...
– Zé Vaqueiro é do bem. Mas você sabe: cabra-macho, maxixe maduro, por essas bandas, não aceita, na paz, ser corneado, não! É uma baita besteira, coisa do tempo antigo, mas ainda é assim. Difícil de civilizar nosso povo daqui. Chifre existe desde que o mundo é mundo, né não? É como a morte, que é coisa certa, mas ninguém acostuma. E eu não quero Zé Vaqueiro metido em encrenca. Ele mesmo não vai se importar, já até casou de novo. Mas o povo vai ficar metendo fogo. Cê sabe como é que é lugar pequeno, onde todo mundo se conhece e sabe da vida de todo mundo.
– ...
– Por favor, não me leve a mal, mas também acho muito cedo pra você e sua mulher aparecerem lá pela Chapada do Arapari. Não os proíbo porque não sou dona de lá. Porque se fosse não queria ver nem o azul de vocês com dentes na fresca por lá. Estamos entendidos mestre Inácio?
–...
– Ah, ligue mais tarde que vou ter uma prosa com Zé Vaqueiro. Daqui a umas duas horas telefone outra vez, que ele está nas quintas e deve voltar pro almoço. Hoje é terça-feira. Vamos vê se ele pode hospedar tanta gente: babá, motorista e três crianças. Até a criança que é sua filha, já estou sabendo, vai vir? Cê que sabe! Caber até que cabem todos na casa, mas é preciso a gente olhar tudo direitinho. E Zé Vaqueiro tem de dar o aceite, oxente! Até mais.
E dirigindo-se a Gracinha: “Você ouviu. Era Inácio Vaqueiro. Já entendeu que terá visitas na Semana Santa, não? Claro que seu marido vai querer ver os filhos. Melhor que venham, né não Gracinha? Você não vai ter sossego por esses dias. Só trabalho em cima de trabalho. Tem de fazer o almoço aqui da casa todos os dias junto com Maria Helena, porque ela sozinha não dá conta. A janta a gente se vira. Teremos muitas mulheres na casa. Não vai cair a mão de ninguém fazer jantar por uns dois dias.”
– ...
– É muita gente. Isso aqui vai fervilhar de gente, como de costume.
– Quem vai vir tanto, Dona Lô?
– Vamos contar: Estela com toda a catrevagem: quatro pessoas; Cesinha com a namorada e a mãe dela, dão três; o povo da boiada, vem todo: Dr. Jonas, sua mulher Mariá e a filha, a Dra. Helena; o desembargador Elpídio Lobato e os dois filhos: João e o Dr. Francisco de Paula; o Dr. Graciliano, veterinário aqui da Matinha, com uma nova namorada, que ali é cabra vira-folha quando o assunto é mulher. Femeiro demais, minha rosa! São nove. Totalizando: quinze pessoas. Agora bote mais Mãe Zefinha e o povo de Zé Vaqueiro: os três filhos de Laurinha, o motorista e a babá deles, total de cinco. Assim teremos umas vinte e uma pessoas pelos Dias Grandes. Casa cheia, a cara de Donana.
– Hemhem. Mermim, Dona Lô! Sem problema, a compra de comida desses dias foi feita pra trinta pessoas. Sem falar no bacalhau para a sopa da Sexta-feira da Paixão, os dez quilos de costume de toda Semana Santa. Foi a conta que fiz com Maria Helena. Não vai faltar nada!
– Então, tudo nos trinques!
Mãe Zefinha, acabava de chegar e foi logo entrando na conversa... Mas com assunto novo.
– Ô Lô, o motorista passou lá em casa pra pegar um tacho, a mando de Gracinha, e eu achei por bem vir logo, mía fia... Como tu tá?
– Benção, Mãe Zefinha! Tô aqui vendo umas coisas para receber meus convidados...
– Ô Lô tão falando que vai ter um drama “deferente” esse ano no Domingo de Páscoa... É verdade, fia?
– Hemhem... Mas o que estão falando, hein?



– Umas coisa estranha, fia. Tu sabia que existia uma Santa Maria Madalena? “Dizqui" tem inté igreja com o nome dela...
– Sabia. E a senhora nunca ouviu falar nela?
– Oxé, nunca, nunquinha... A única Madalena que eu sei que tem é aquela que Jesus perdoou os pecados, que era mulher da vida. Ora, e mulher da vida lá vira santa, Lô? Como pode? Peca, peca até se danar depois vira santa?
– Ih, Mãe Zefinha, Deus não perdoa tudo? Por que não perdoaria a uma mulher da vida arrependida, hein senhora? Deixe de bobagem! E o drama que vai haver na Páscoa não é só sobre Maria Madalena, não! Será sobre todas as discípulas de Jesus. Por isso é que tem o nome de “As mulheres na ressurreição de Cristo”. São várias...
– ...
– No Novo Testamento Maria Madalena é descrita como uma das discípulas mais dedicadas de Jesus Cristo. Cristo tinha os doze apóstolos e mais de setenta discípulos e discípulas que o acompanhavam. Ela é uma santa para as igrejas Católica, Ortodoxa e Anglicana. O dia de Santa Madalena é 22 de julho. Há muitas igrejas a ela dedicadas pelo mundo todo.







– “Dizqui” tem mermo um magote de muié que seguia Jesus! Agora me alembrei. Iscutei vocês falando naquele dia lá da reunião. Mas num tinha compreendido que uma delas tinha virado santa. Agora, nesses cunverseiro de boca de noite, é que a fuxicada tá correndo solta. Minina tão falando inté que Jesus era casado cum ela, essa tal de Maria Madalena! Viiiiiiiixe, num pode né não, Lô? Jesus era solterim, solterim. E morreu solteiro, oxé! Solterim da silva! Toda vida eu “sube” assim...


Ficheiro:Igreja de Santa Maria Madalena-Braga.jpg
Na Serra de Falperra, em Braga, Portugal a Igreja de Santa Maria Madalena, construída por ordem do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. É um harmonioso monumento em estilo barroco, precedido por uma ampla escadaria, de acordo com a tipologia comum aos santuários mais próximos.
– Ih, Mãe Zefinha! Hemhem. Tem muita conversa. Mas o que se sabe mesmo é que todas as mulheres que conviveram e que seguiram Jesus, da Galileia até Jerusalém, desempenharam um papel de muita importância na vida e após a morte dele: Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus Cristo ressuscitado, é o que dizem as escrituras, ou não é? Maria, a mãe de Jesus, Verônica, Tecla, Susana, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Maria de Betânia, a irmã de Marta e de Lázaro, que ungiu Jesus para o sepultamento, Maria mãe de Tiago, e Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu. Acho que havia mais mulheres, mas só estou lembrando-me dessas. É que os padres são machistas mesmo, não falam.

"Nos evangelhos Maria Madalena é a mulher mais citada pelo nome. Além disso, ela aparece sempre realizando funções muito importantes para as origens do Cristianismo:
* como discípula de Jesus (Lc 8,1-3).
* como testemunha da sua crucifixão (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49; Jo 19,25).
* como testemunha do seu sepultamento (Mc 15,47; Mt 27,61).
* como testemunha da sua ressurreição (Mc 16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-10; Jo 20,1;20,11-8).
* como enviada aos Onze com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17-18)".
[Maria Madalena e as outras Marias, por por Mercedes Lopes]

Procissão de Santa Maria Madalena em União dos Palmares, Alagoas
– Sei não Lô, pucardique tu tá mexendo nisso, fia? E se os padres não gostarem? E o bispo, o que queria contigo, será que soube desse negócio de Santa Maria Madalena?
– Que padre, que bispo, senhora? E eu lá tenho medo deles. Não vou fazer nada nas igrejas deles. Vou fazer na minha capela, que o povo da Chapada do Arapari vai herdar quando eu morrer! Aqui mando eu! Vou falar sobre as mulheres na vida de Jesus. E não é mentira, elas existiram. E ponto final.
– Santíssisma! Num se afubele não, mulher! Eu tô só perguntando.
– Seeeeeeeeeeeeeeeeei! Num tô afubelada nem um tiquim. Espie, escute: falando das discípulas de Jesus, dando conhecimento ao povo que elas existiram, estamos dizendo a Deus da nossa alegria e da nossa gratidão de termos Dilma como presidenta. Ou não estamos?
–...
– Maria Helena, leve Mãe Zefinha pro quarto dela, fazendo favor. Ela não dá conta de levar a sacola sozinha. Vá cochilar, senhora! Já conversou demais por hoje! Daqui a pouco mando chamá-la pra almoçar. Deve estar fraquejada por causa do jejum. Sei que está jejuando desde segunda-feira.
– E é mermo, fia! Eu jejuo de segunda até Sexta-feira da Paixão. Donana também jejuava assim que nem eu... Ah, Lô agora estou compreendida, fia! É bom que a professora fale na hora do drama para evitar confusão e fuxicada dos povos, né não Lô? Eu achei a benzeção dos ramos no domingo muito bonita, não foi Lô? Celestina tirou uma ladainha das mais bonitas. Assim eu achei. Ela me disse que na Sexta-feira da Paixão é certo tirar a ladainha daqui da Matinha. Me diga, vai ter a Sopa de Bacalhau de Donana depois da ladainha?
– Mãe Zefinha, tudo do mesmo jeitim que mamãe fazia toda Sexta-feira da Paixão. Sopa de bacalhau e pão de batata. Uma caneca de sopa e um pão para cada pessoa que estiver na ladainha. É por isso que só entram as pessoas que confirmaram a presença. Nunca foi uma coisa pra todo mundo. Mamãe encerrava em cem pessoas. Continuo fazendo do mesmo jeitim. E quem dá as ordens da sopa, como sempre, é a senhora. Tempero Mãe Zefinha!
– Tá bem! Quero mermo descansar o esqueleto um tiquim pra tapear a fome.

Fazenda Matinha de Dona Lô, Chapada do Arapari, 25 de abril de 2011




Sopa de Bacalhau de Donana
(com ervas e engrossado com macaxeira e farinha seca)
Ingredientes:
500 g de bacalhau dessalgado
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
3 dentes de alho picados
2 cebolas picadas
1 folha de louro
1 colher das de sopa de alecrim seco
1 tomate grande
Salsa ou coentro a gosto
Cebolinha a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
1/2 quilo de mandioca
1 xícara de farinha seca
1 copo de vinho branco
2 litros de água


Modo de fazer:
1. Dessalgue o bacalhau de véspera e o desfie em lascas;
2. Esquente o azeite em uma panela e doure o alho e a cebola. Junte a salsa ou coentro, o alecrim e o tomate e refogue por 10 minutos;
3. Refogue o bacalhau;
4. Junte o vinho e a água;
5. Acrescente a macaxeira cozida com a água do cozimento dela;
6. Leve à fervura, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 30 minutos;
7. Acerte o sal e acrescente a pimenta-do-reino e cebolinha picada; e
8. Se o caldo ficar ralo, acrescente a farinha seca para engrossar.
(Suficiente para dez pessoas)
Festa de Santa Maria Madalena, em União dos Palmares, Alagoas
Programação da Semana Santa na Chapada do Arapari
1. Domingo de Ramos
. 17:00 - Ladainha e aspersão de água benta nos ramos (Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição)
2. Quinta-feira Santa
. 18:00: Drama: Lava-pés (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição – Chapada do Arapari)
3. Sexta-feira da Paixão
. 17:00: Ladainha na Capela de Santa Luzia, na Matinha de Dona Lô
4. Sábado de Aleluia
10:00: Malhação de Judas (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição – Chapada do Arapari)
5. Domingo de Páscoa
10:00. Drama: “As mulheres na ressurreição de Cristo” (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição – Chapada do Arapari)
12:00. 6º. Almoço Comunitário de Páscoa da Chapada do Arapari

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Semana Santa na Matinha de Dona Lô

[Anildo Motta]

Fátima Oliveira


Dona Lô estava almoçando na casa de Estela. Saiu de sua casa cedo da manhã. Foi à cidade atender a um chamado do bispo. Foi pronta. “De chicote e espora na ponta da língua”, como ela gostava de dizer quando sentia que precisava estar preparada pro que desse e viesse numa briga.
Não sabia o assunto que o bispo queria tratar com ela, mas intuía: “De certeza é furdunço daquele padreco safado”. Fuxico grosso. “Dou uma boiada pra não sair dessa briga. Ah se dou, e com gosto!”
Enquanto almoçava, rememorava...
“Se o bispo engrossar, direi poucas e boas... Nas fuças dele. A primeira delas, é que a Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na Chapada do Arapari, é uma propriedade particular. Né da Santa Sé, não! Foi erguida por minha mãe, Donana Tropeira, em terreno particular dela e com o dinheiro dela. Tenho os documentos. Ainda vai nascer o macho que vai tomá-la de mim. Nela quem dá as ordens sou. Né bispo nenhum, não!”
– Calma Dindinha! Não entre na conversa assim tão destemperada, não! Faz bem pouco tempo que a senhora entrou de sola naquela encrenca sobre a Rede Cegonha... Não cansa de brigar, não?
– Que mané destempero coisíssima nenhuma, Estela! Pense numa mulher azuada... Sou eu! Azuretadinha. Ainda estou na quentura da Rede Cegonha. Mas os moços lá estão de crista murcha. Precisava, não? Cada coisa é uma coisa e cada uma em seu cada qual, oxê! Nada de querer inventar a roda. Já existe faz é muito temo, pois não? Mas o ministro tem ares de quem é do acordo. Vai resolver. O que me dana era que não precisava ter sido da maneira que foi... Uma gastança de energia, sem necessidade nenhuma. Deixe pra lá! Quando você estiver lá em casa conversaremos mais. Com tempo.
– ...
– Imagine o bispo pedir uma conversa comigo! Logo eu que nem sei onde é esse tal de Palácio Episcopal. Não devo nada a ele, por que...
– Ora, senhora! O bispo é um homem muito cordato. Sabe quem é senhora muito bem. Ora se sabe! Talvez queira apenas saber a sua versão sobre o incidente com o padre...
– Estelinha, não fale o nome daquela cascavel em minha frente, por favor! Meus ouvidos vão explodir... Em minha casa é proibido falar o nome daquele senhor. Se bem que eu não estou em minha casa, mas na sua...
– Tudo bem Dindinha. V’ambora... Vou deixar a senhora lá. Dispensei seu motorista hoje pela manhã. Foi dar umas voltas por aí...
O almoço transcorria em silêncio, até Pedro chegar.
– E aí Dona Lô, o que o bispo queria com a senhora, hein?
– O de sempre Pedro...
– Como o de sempre? O que é o de sempre?
– Pedir, pedir e pedir... Já viu algum padre que não é pidão? Disse-lhe que não tenho obrigação de dar nada pra Igreja dele. Quem faz cortesia com o meu chapéu sou eu. E mais ninguém...
– Ihhhhhh... Então nada foi bem.
– Ao contrário, Pedro! Estamos agora com tudo em pratos limpos. Ele perguntou como seria a Semana Santa em nossa região e como a diocese poderia contribuir. Eita cabra sabido! Não entrou em bola dividida. Respondi entregando-lhe a nossa programação.
– Programação? Como assim?
– Não se faça de leso Pedro! Há muitos anos há um modo de se fazer Semana Santa na Chapada do Arapari. Desde que eu era menina. Ou você não sabe? Nunca precisamos de padre para fazer nossas coisas. É bem recente isso de padre aparecer por lá pra dizer uma missinha corrida; enche a pança do bom e do melhor, uns trocadinhos nos bolsos também; e depois cai nas abas do mundo. Mas só começaram a aparecer pra essas missas ligeiras depois das estradas boas. No tempo em que só havia um caminho serra acima, padre aparecia por lá uma vez por ano, em desobriga. Não mais! E olhe lá!
– ...
– E nem por isso o povo deixou de ser temente a Deus, de ter religião. O povo se vira sempre e sobrevive, com padre, sem padre, com governo, sem governo. A sobrevivência da Chapada do Arapari até hoje é uma prova.
– Viiiiixe que a senhora hoje tá que tá... Baixou aí o espírito do primeiro dos Tropeiros, pelo visto...
– Pode ser. Não havia pensado, mas pode ser...
– ...
– Há uma cultura da religiosidade popular que celebra a Semana Santa, na qual padre é o de menos. Até dispensável. Disse ao senhor bispo. E que vamos continuar a tradição. A porta da capela está aberta para qualquer padre, menos para aquele senhor, que é um arengueiro contra o povo. Imagina, o cabra dizia que era pecado votar em Dilma! Foi aí que eu emputeci.
– E o bispo?
– Calado estava, calado ficou. Foi aí que aproveitei para dar tchau! Foi isso...
Estela observava com ar de riso.
– Tá rindo de que Estela?
– Eu? De nada! Pedro, veja como esse povo é pidão. Depois dessa conversa toda o bispo ainda pediu a Dindinha que visse a possibilidade de ceder a Matinha para uma reunião pra daqui a dois meses, duma pastoral não sei das quantas, que vai durar três dias, com cerca de 15 pessoas...
– E ela?
– Dindinha? Uma lady...Disse que receberia a reunião do bispo com muito gosto! Eehehehehe... Você precisava ver a cara dela. E acrescentou que depois da Semana Santa ele mandasse alguém de sua confiança procurá-la para definir o cardápio e outras coisas. “A Matinha de Dona Lô tem por hábito receber bem seus convidados”. E que ele não se preocupasse que correria tudo por conta dela. Claro que ele abriu um sorriso de orelha a orelha e disse que Dindinha não negava ser filha de Donana, mulher das mais caridosas que ele já viu na vida.
– Entonce, Inês é morta pro padre...
– Não pronuncie o nome do sujeito na frente de Dindinha, que ela tem alergia...
– Seeeeeeeeeeei! E a programação Dona Lô, cadê?
– Não viu ainda, não Pedro? Pois pegue aquele papel ali na mesa, meu filho. Fiz no papel pra mostrar pro bispo. Pouca coisa diferente do tempo em que Donana era viva. Uma coisinha só diferente no Domingo de Páscoa... Novidade.
[lava+pés.jpg]
[arc-lavatorio.jpg] 
O lava-pés (Maestro della Passione)
Semana Santa na Chapada do Arapari

1. Domingo de Ramos
. 17:00 - Ladainha e aspersão de água benta nos ramos (Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição)
2. Quinta-feira Santa
. 18:00: Drama: Lava-pés (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição  – Chapada do Arapari)
3. Sexta-feira da Paixão
. 17:00: Ladainha na Capela de Santa Luzia, na Matinha de Dona Lô
4. Sábado de Aleluia
10:00: Malhação de Judas (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição  – Chapada do Arapari)
5. Domingo de Páscoa
10:00. Drama: “As mulheres na ressurreição de Cristo” (Adro da Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição – Chapada do Arapari)
12:00. 6º. Almoço Comunitário de Páscoa da Chapada do Arapari
– Huuuuuuuuuum... E essa encenação de “As mulheres na ressurreição de Cristo”... Um Jesus Cristo superstar feminista, é?

Última Ceia com Maria Madalena, do pintor renascentista espanhol Juan de Juanes (1500 – 1579)

Foto: GooglePalavra de Fé -  Quando Jesus é lembrado...
– Ainda não! É só uma coisinha diferente, em merecimento de Dilma. Dar visibilidade à presença das mulheres na vida de Jesus Cristo, porque a bem da verdade elas foram muito presentes na vida, morte e ressureição dele. Ou não sabia? Falam pouco, mas o papel das mulheres na vida dele é destacado. É que escondem. Vamos desencavar. Coisinha simples... Dar a Maria Madalena o que é de Maria Madalena. Nem mais, nem menos...



Vitral, retratando Jesus com Maria Madalena grávida (Igreja Católica de Kilmore, Dervaig, na Escócia).

O Retorno de Maria Madalena
Madalena como um novo modelo para a mulher independente e apaixonada - Roger J. Woolger
Evidências do Casamento de Jesus e Maria Madalena

 
 – Eu não entendo como a senhora não sendo católica emprega tanto seu tempo nessas coisas...
– Ora Pedro, simples! O nosso povo é profundamente religioso. Quero dizer, católico. Mamãe entendia esse lance muito bem. Ela também era religiosíssima, mas tinha um modo particular de se relacionar com Deus e via que as festas religiosas populares eram eventos culturais, momentos de sociabilidade. Portanto ela as estimulava. O bom de ter dinheiro e ao mesmo tempo ter consciência social é que a gente pode manter vivas as tradições religiosas e culturais emanadas e vivenciadas pelo povo como um modo de viver. Entendeu?

– Médio...
– Então, tá! Vou dar uma cochilada porque quero sair mais no finzinho da tarde, com o sol mais baixo. Preciso chegar em casa antes da reunião com a diretora do grupo, marcada pras seis horinhas. Vamos dar uma olhadinha nos preparativos dos “dramas” que a meninada do grupo está ensaiando pra apresentar na Semana Santa. Muita novidade no Domingo de Páscoa, viu?
– Como assim? Ah, deixe pra lá! Vou estar lá mesmo, então vou ver... E o cardápio lá da Matinha, senhora?
– Ora, Pedro você vai estar lá mesmo, então vai comer...

Chapada do Arapari, 22 de abril de 2011




Jesus Cristo Superstar (a versão da Última Ceia de Jesus Cristo)












Maria Madalena (completo de 1 a 10):  http://youtu.be/SjCS_sXwUBU

Ecce Homo (Georges Rouault)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Vídeo orienta vítimas de homofobia na UFMG - Orientações DAE

O diretor para Assuntos Estudantis da UFMG, Luiz Guilherme Knauer, oferece orientações básicas a pessoas que se sentirem atingidas por discriminação de qualquer natureza dentro da Universidade.
A peça foi gravada pelo Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual (Gudds!), com o objetivo de se antecipar à campanha contra a discriminação que está em processo de criação na UFMG.

UFMG prepara campanha contra discriminação
Além de nomear comissão de sindicância para apurar casos de homofobia que teriam ocorrido no campus Pampulha em evento estudantil no início do mês, a UFMG está convidando as entidades representativas dos diversos segmentos da comunidade acadêmica para deflagrar campanha contra a discriminação.
“Queremos lançar uma campanha intensiva e permanente contra a discriminação, com ênfase para os casos de homofobia”, explica o diretor de Assuntos Estudantis, professor Luiz Guilherme Knauer. Ele destaca que a iniciativa segue o espírito da campanha Bocados de Gentileza.“Não podemos pensar uma sociedade em que a homofobia continue existindo”, enfatiza Knauer. Segundo ele, nos próximos dias o reitor Clélio Campolina vai nomear os integrantes da comissão de sindicância que terá prazo de 30 dias para averiguar os fatos.
De acordo com o resultado da apuração, será instaurada comissão de inquérito para, se for o caso, abrir processo de punição. “Caso o agressor seja aluno da UFMG, será proposta uma punição exemplar. Caso não seja integrante da comunidade acadêmica, os dados serão entregues às autoridades competentes”, explica Knauer, que é professor do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências.

Reunião
Luiz Guilherme Knauer explica que as informações sobre as agressões a dois casais homossexuais em calourada da Faculdade de Letras chegaram à UFMG pela imprensa e, posteriormente, por meio de manifesto de uma entidade de representação estudantil.
“A UFMG tomou a iniciativa de apurar os fatos e, por intermédio da entidade estudantil e do Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual (Gudds!), realizamos reunião na manhã desta quinta-feira, 14, com os alunos que teriam sido atingidos e a quem a Universidade garante o sigilo. A partir daí, eles decidiram formalizar a denúncia”, relata o professor.
“A apuração é necessária, pois foi algo muito grave, mas a campanha é fundamental, pois é inadmissível que ocorram casos como esse, envolvendo agressão, física ou não”, ressalta.

Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
jornalismo@medicina.ufmg.br - (31) 3409 9651

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sua Excelência, o bacalhau, na culinária da Semana Santa


Falam que o Vaticano era proprietário da frota bacalhoeira
Fátima Oliveira

Minhas lembranças da Semana Santa, ou "Dias Grandes", são um misto de proibições (o jejum) e comidas deliciosas. Na Quaresma, era seguindo à risca o preceito de não comer carne na Quarta-feira de Cinzas e em nenhuma sexta-feira naqueles 40 dias. Já foi pior.
A sentença mercantilista do Vaticano era não comer carne todos os dias da Quaresma. Era uma semana inteirinha dedicada a guardar contritamente a dor sofrida por Jesus Cristo, com rezação, mortificação e silêncio, pois nem o rádio podia ser ligado. Criança que fizesse alguma danação poderia contar como certa a reprimenda no rompimento da Aleluia.
Dando um tempo ao mundo das lembranças, tentei descobrir por que o bacalhau (em latim: baccalarius) reina na culinária dos "Dias Grandes". Antes, o que é bacalhau? É o nome de peixes do gênero Gadus, da família Gadidae. Chamam de bacalhau cinco peixes após a salga e a secagem (cura).



Peixe Zarbo
Peixe Ling
Quatro deles são das águas gélidas do oceano Ártico (Noruega, Canadá, Rússia, Islândia e Finlândia): o cod Gadus morhua (o verdadeiro bacalhau), conhecido como "cod" ou do Porto, o Saithe, o Zarbo e o Ling. O quinto é o cod Gadus macrocephalus, do Pacífico, ou do Alasca.
Todos são comercializados como bacalhau nas categorias: "Imperial, a melhor classificação - bem cortado, bem escovado e bem curado (o melhor de todos, só para lembrar, é o Porto Imperial); Universal - com pequenos defeitos que não comprometem a qualidade; e Popular - com manchas e falhas causadas pelo arpão, na hora da pesca".
Para Lecticia Cavalcanti, "são semelhantes, no aspecto. Apesar disso, o 'verdadeiro' apresenta características próprias: na forma (maior, mais largo e mais pesado), na aparência (limpa, sem manchas), na cor ('palha', o macrocephalus é branco), na pele (solta com muito mais facilidade) e no rabo (quase reto ou ligeiramente curvado para dentro, tendo o macrocephalus forma de babado). Mas são bem diferentes na panela. Sobretudo depois de cozidos. O morhua desfaz-se em lascas claras e tenras, enquanto o segundo é fibroso - e, por isso, mais barato. Segundo a legislação, só esses dois podem ser considerados bacalhau".




Desde fim do século XV, começo do XVI, o Vaticano, em reconhecimento ao sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, decretou que os cristãos não poderiam consumir carnes "quentes" durante a Quaresma. Falam que o Vaticano era proprietário da maior frota bacalhoeira - caravelas para a pesca do bacalhau que levavam os "dóris", barcos a remo, nos quais os pescadores (bacalhoeiros) se lançavam ao mar para a pesca. Visando a maximizar seus lucros, o Vaticano proibiu o consumo de carne durante a Quaresma, quando então as vendas de bacalhau explodiram. Já era um alimento apreciado nas camadas populares europeias, sobretudo portuguesas, por ser nutritivo e barato.
Durante séculos, até a Segunda Guerra Mundial, o bacalhau foi comida de pobre, mesmo no Brasil, cujo consumo massivo se deu após a chegada da corte portuguesa. Não é à toa que comer bacalhau em qualquer biboca do Rio de Janeiro é sempre saborear um manjar dos deuses. É a manha da tradição culinária sedimentada na corte.
Em Portugal, há "mais de 1.200 receitas catalogadas, de todo tipo: cru, cozido, frito, assado no forno ou na brasa, guisado, grelhado, gratinado, estufado, como recheio de empadas e crepes. Sempre com muito azeite, azeitona, louro, noz-moscada, pimenta (verde, branca ou preta). E mais alho, cebola, coentro, couve, hortelã, salsa, pimentão, poejo, tomate".

Publicado no Jornal OTEMPO em 19.04.2011
Ilustração Portugueza No. 230 July 18 1910 - 6, originally uploaded by Gatochy.
Nas imagens: fotografia de José Gonçalves do maior navio de pesca português, o lugre Mindello da Companhia Africana Figueira da Foz; fotografia de Maduro do capitão do Mindello, José Lão; e a lavagem do bacalhau.
Talvez goste de ler também:
As comidas dos "Dias Grandes" no sertão e queimação do Judas (14.04.2009)
Bacalhau à espanhola de panela (receita de Fátima Oliveira)




sábado, 16 de abril de 2011

Fátima Oliveira: Ministério da Saúde adoça a boca do Vaticano

Fátima Oliveira: Ministério da Saúde adoça a boca do Vaticano, por Conceição Lemes. Memória da atenção integral à saúde da mulher por quem conhece cada palmo desse chão

Veja também em: Fátima Oliveira: Ministério da Saúde adoça a boca do Vaticano (entrevista)




                                                              FRETE
Renato Teixeira

Eu conheço cada palmo desse chão
é só me mostrar qual é a direção
Quantas idas e vindas meu deus quantas voltas
viajar é preciso é preciso
Com a carroceria sobre as costas
vou fazendo frete cortando o estradão

Eu conheço todos os sotaques
desse povo todas as paisagens
Dessa terra todas as cidades
das mulheres todas as vontades
Eu conheço as minhas liberdades
pois a vida não me cobra o frete

Por onde eu passei deixei saudades
a poeira é minha vitamina
Nunca misturei mulher com parafuso
mas não nego a elas meus apertos
Coisas do destino e do meu jeito
sou irmão de estrada e acho muito bom

Eu conheço todos os sotaques
desse povo todas as paisagens
Dessa terra todas as cidades
das mulheres todas as vontades
Eu conheço as minhas liberdades
pois a vida não me cobra o frete

Mas quando eu me lembro lá de casa
a mulher e os filhos esperando
Sinto que me morde a boca da saudade
e a lembrança me agarra e profana
o meu tino forte de homem
e é quando a estrada me acode

Eu conheço todos os sotaques
desse povo todas as paisagens
Dessa terra todas as cidades
das mulheres todas as vontades
Eu conheço as minhas liberdades
pois a vida não me cobra o frete

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Rede Cegonha e a atenção integral à saúde da mulher


Programa retalha a diretriz do Ministério da Saúde
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br


Em 28 de março passado, a presidente Dilma Rousseff lançou, em Belo Horizonte, o Rede Cegonha, uma customização, sem os devidos créditos, de ações bem-sucedidas e em curso, como o Pacto Nacional de Redução da Morte Materna e Neonatal (2005), área de relevância da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM, 2003).
De novidade: a agregação de ações sociais para grávidas, parturientes, puérperas e filhos de até dois anos, como vale-táxi e Samu-Cegonha; e a guinada ao conceito superado de saúde materno-infantil. Mulher é mulher e criança é criança; exigem abordagem autônoma e integral na atenção à saúde.
A forma e o conteúdo da resposta à sensibilidade e decisão política da presidente - acolher quem mais precisa em momentos cruciais - são aplaudidas por quem crê que a saúde da gestante no Brasil era terra de ninguém; nada havia, mas agora chegou! Euforia que diz que Dilma, nas asas da lenda da cegonha, virou rainha-mãe na mente do povo. É espantoso: a mídia em geral, em surto de amnésia, voou na lenda e disse amém!
Exceto O TEMPO, em "A visita da presidente" (Opinião, 29.3), cuja manifestação é a única, das que li, que apresentou pontos que valem reflexão desapaixonada, como se o objetivo do programa fosse reduzir a morte materna, sobretudo no Norte e Nordeste: "Por que não o lançou numa cidade do Norte ou Nordeste?". Faz sentido.
"O programa é auspicioso. Afinal, algo será feito em favor da gestante e do seu filho". O jornal decerto não está de acordo que as gestantes estavam à míngua - a cobertura nacional do pré-natal é alta, e cerca de 98% dos partos são hospitalares -, mas concorda que benefícios que cheguem às mulheres são lucro! "Até antes da eleição, a candidata era a favor da legalização do aborto. O debate eleitoral a fez mudar de posição. O Rede Cegonha confirma essa mudança ao deslocar o foco para a assistência à maternidade e ao recém-nascido. Sinal de que a questão do aborto, assunto que também interessa às mulheres, continuará a ser postergada".
Constatação irretocável, condizente com a postura de quem jamais negou espaço para ideias feministas e antirracistas. Eleitora de Dilma, sonho que seu governo será de consolidação de cidadania e fico espocando de orgulho pela sua crescente aprovação popular - mais uma razão para não perder a visão crítica quanto aos rumos do seu governo.
A polêmica é no tocante aos pilares filosóficos (atenção integral à saúde da mulher) e políticos materializados na PNAISM, que remontam ao Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM, 1985), primeiro registro, no Brasil, do conceito de integralidade na atenção em saúde, na era pré-SUS!
Indagaram quando eu escreveria sobre "a cegonha da mulher". À resposta que o programa carecia olhar apurado, pois "apressado come cru", a surpresa foi a tônica. Ouvi alguns: "Vocês (leia: as feministas) são complexas e eternamente insatisfeitas!". Sem arrodeios, o Rede Cegonha retalha a diretriz do Ministério da Saúde para a saúde da mulher (PNAISM), com viés conservador, a saúde materno-infantil. Nada foi dito sobre os retalhos não aproveitados!
Não sou contra qualquer ação, ainda que insuficiente enquanto dever da pátria-mátria, que carreie mais cidadania. Ações sociais de cuidados à mulher e à criança, como coadjuvantes da atenção integral, merecem apoio, desde que não desmontem direitos inscritos em políticas públicas.
Eis o incômodo e a sensação de perda que o Rede Cegonha causa. Com a palavra, o Ministério da Saúde!




Publicado no Jornal OTEMPO em 12.04.2011
FONTE: www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=14847,OTE
Republicado em:
Site Lima Coelho
www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=5101

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dilma e a Rede Cegonha & Dilemas de Dona Lô...




Fátima Oliveira

“Não sei se chamo uma coletiva de imprensa ou se faço uma cartinha pra Dilma. Ô dilema cruel!”
Era o que pensava Dona Lô ao sentar em sua cadeira de balanço na calçada de sua casa na Chapada do Arapari. Parecia agoniada, fadigada... Muitas coisas fora do seu controle. Situação horrível para quem está acostumada a ter nas mãos as rédeas de tudo que lhe compete.
Primeiramente porque Maria Helena, filha de Memélia, a mocinha que substituiu Gracinha – “aquela sim era de forno e fogão e ainda de troco um latão” – era lenta que só uma lesma. Boazinha, é verdade, mas pra virar uma Gracinha, bote tempo! E Dona Lô não parecia lá muito disposta a esperar tanto... Falta de paciência mesmo.
Ela sabe que “O que não tem remédio, remediado está”.
‘‘C’os diachos essa invenção de Gracinha de não se aguentar e andar mijando de tiquim por Zé Vaqueiro! E a lesa aqui nem ter percebido, nadica de nada, oxente! Imperdoável, viu, Lô! De besta aqui só eu mesma. Até Cesinha disse! Depois desdisse, mas deu sua opinião”. Era o que passava em sua cabeça...
E remoía... “Como se a vida estivesse em céu de brigadeiro, aparece Dilma toda porloche na TV anunciando, nada mais e nada menos, do que o minimalismo das ações em saúde da mulher, falado em programa de campanha eleitoral. O mais cristalino retrocesso”. É o que dizem as pessoas entendidas no assunto. E sou forçada a reconhecer que elas têm toda a razão do mundo. Estou com elas e não abro!
Na época Dona Lô não deu muita bola. Imaginou que era o escape possível do acirramento do fundamentalismo do Serra. Tudo para venerar as mães e, por tabela, condenar o aborto. Pois sim, santificando as mães os contras vão entender que não se apoia aborto. Ô raciociniozinho tacanho, fulerim, fulerim... Bem, ali era a campanha eleitoral no momento do “Vai ou racha e quem for podre que se arrebente”. Até compreensível. Era, sim! Mas aquilo era promessa pra ficar só no discurso meu Deus do céu! Tu bem sabes meu Deus!
... Se bem que aquela feminista que é médica, espertíssima, como de costume cantou a pedra, bem antes do segundo turno. Mas ficou por isso mesmo... Eu, Lô, até achei que ela estava radicalizando, que era um exagero, pois Dilma daria continuidade às políticas de Lula na saúde da mulher que, na prática não foram nenhuma brastemp, mas eram bem intencionadas. Quem é especialista no assunto, por profissão ou por militância, concordava, pois ajudou a elaborar aquela política anos a fio até chegar ao que está documentado. Logo, eu nem “Seu Souza” para a implicância da Dra. Fátima Oliveira! É sério. Achei que era um preciosismo, uma inticância dela.
Pois não é que a danisca foi bem na ferida que agora sangra? Ela escreveu: "Numa olhada de relance nos discursos das campanhas à Presidência, a concepção de mulher-mala (mãe e filho) foi o tom das propostas para a saúde feminina. Foi de amargar... Ai, meus sais! Voltaremos ao tema."... ["Algumas ausências que foram paradigmáticas no debate eleitoral"]
E olhe que ela escreveu o que estou lembrando agora foi no dia 5 de outubro de 2010! Não é profetisa, não! Apenas analista criteriosa da conjuntura e de pés bem fincados no chão. Mas não dei pelotas. E olhem que ela é uma mulher com Dilma desde a primeira hora! Comprou a briga em defesa do nome de Dilma nas entranhas do movimento feminista! Foi um bom artigo aquele "Não serve ao feminismo tentar nivelar ideologias díspares".


Já na calçada, bem acomodada em sua cadeira de balanço, ficou a olhar com indisfarçável ternura, a meninada a brincar no adro da capela... E com as pernas inquietas, em petição de miséria, sem achar lugar pra elas, decidiu: “Vou assuntar com Estela. É hora de assuntar mesmo. O bicho, ou melhor, a bicha, que é a cegonha, tá pegando e grudou que nem chiclete... E com razão... Precisava disso não, minha gente! Parece que estou vendo aquela meninada zanzando e estribuchando pra agradar a presidenta. Pura falta de expediente! Donana, minha mãe, dizia que a derradeira disgrota da vida é uma pessoa sem expediente, pois o mundo engole quem não tem expediente!”
E resmungava, falando sozinha: “Só mesmo falta de expediente explica que depois do sucesso do Programa ‘Saúde não tem preço’, o governo de Dilma tenha caído numa esparrela sem tamanho com a tal cegonha! Espiem só, no dia 04 agora, de abril, no Café com a Presidenta, ela falou que o Programa ‘Saúde não tem preço’ já atendeu quase 3,5 milhões de pessoas em dois meses de funcionamento!



Disse a presidenta: “‘Nos primeiros 45 dias, quase 3,5 milhões de pessoas receberam de graça seus remédios para diabetes e pressão alta. É quase o dobro do que a rede ‘Aqui Tem Farmácia Popular’ distribuía quando os remédios tinham que ser pagos. Isso indica que a nossa campanha sobre a importância do tratamento está no caminho certo”, afirmou. “Queremos que todos os diabéticos e hipertensos possam fazer o tratamento direito, sem interrupção... O problema é que essas doenças, se não forem tratadas, levam a complicações muito graves, que podem até matar. Daí a importância da prevenção, com uma vida saudável, uma alimentação saudável e exercícios físicos, desde que o médico controle e receite. E, além disso, o tratamento com os medicamentos corretos”.




“Hemhem, sem dúvida, uma ação bola dentro que concretiza o direito humano ao remédio. Ai, que agonia nas pernas! Fico assim sempre que estou agoniada. Nunca descobri pucardiquê. C’os diachos que Estela não atende ao telefone!” Fincou pé e insistiu em falar com a afilhada, enquanto se deixava encharcar da sensação de agradecimento pela tarde de brisa suave e por aquelas crianças bem vestidas brincando, saltitando, alegres e felizes... Em outras eras, numa horinha dessas estavam todas nas roças, no cabo do enxadeco. Agora, não! Todo mundo na escola, feito gente! Nem sempre foi assim. A melhoria de vida daquela gente se deu mesmo foi com Lula...


– Ô Maria Helena, minha filha, ligue aí de dentro pra casa de Estela e peça que telefone aqui. Preciso falar com ela! É conversa demorada. Não dá pra ficar de lero em celular, não! Tá caro demais! Depois chame a meninada que está ali brincando e dê umas frutinhas pros bichins, viu? Sim, banana prata! Ah, e aquela bandeja de ata madurinha. Há muitas atas e bananas aí que trouxeram da Matinha hoje. Dê o tanto que elas quiserem, a folote mesmo. Se a gente não comer logo vão estragar. Melhor dar pros bichins.
– ...
– Né brinquedo, não Estela! “O programa tem atualmente 15.097 farmácias credenciadas, além de 548 unidades do governo. Para receber gratuitamente os remédios de diabete e hipertensão, o paciente precisa apresentar no posto autorizado a receita médica, o CPF e um documento com foto”. Melhor do que isso cheirosa, nem maná caído do céu! E agora, o que eu faço, hein Estela? Não se sei chamo uma coletiva de imprensa ou se faço uma cartinha pra Dilma.
– Como assim Dindinha? Deixe de maluquice, senhora! Não disse que está aposentada? Tem um montão de organizações feministas que precisam dar o ar da graça nessa refrega, dando o tom e dizendo como é que a roda gira. Praticamente ainda não fizeram nenhum barraco. Tem de haver barraco! Saiu só uma notinha e a entrevista da Rede Feminista de Saúde, que eu considero de alto nível, pois é uma abordagem filosófica, técnica e política da visão da saúde integral da mulher. O feminismo falou e disse! Agora é a vez do ministro Padilha se explicar. Olhe que hoje já é dia 7 de abril. O frege está armado. É isso! No centro, o debate sobre atenção integral à saúde da mulher.
– Como dizia uma amiga feminista, a médica Ana Reis, saúde integral é como o arroz com casca e tudo... Fica facim, facim de entender o que se quer dizer quando se fala em saúde integral, é só pensar em arroz com casca.



– Taí, gostei! É preciso lembrar tal comparação para o ministro Padilha.
– A presidenta lançou o Programa Rede Cegonha dia 28 de março... De lá mesmo de Belo Horizonte ela se mandou pra Portugal, depois voltou na maior carreira, que morreu Zé Alencar... Se a mulherada que entende do riscado ainda não foi pra cima, aí fica difícil mesmo...
– ...

– E o que faço, hein Estela? É que estou vendo a vaca ir pro brejo. Ir, não! Está atolada no brejo... Boto a boca no trombone ou no ouvido da mulher? Me diga!
– O bom senso, ético e político, manda que a senhora faça uma carta, uma coisa pessoal. Da senhora pra Dilma, abrindo os olhos dela, ôche! Deixe o embate político, quero dizer, o grande embate, para quem tem a obrigação de fazê-lo... Por mais irada que esteja com a cegonha... E eu pensava que a senhora gostava de bicho...
– Estela, vamos por partes! Gostava, não! Gosto. Fui uma criança cercada de bichos por todos os lados... Menos de cegonha rsrrsrsrsrsrsrs, bicha que nem tem no Brasil. A bicha ainda por cima, é estrangeira, oxente! Importada, Estela! Cegonha no Brasil só importada, minha rosa!
–...
– Só não tive gato e cachorro. Não podia porque era asmática e mamãe dizia pra nem chegar perto de pelo de gato e de cachorro... Coisa da sabedoria do povo, que parece ser certa. Mas criei de tudo: curica, papagaio, periquito, paca, cotia, jabuti, tatu... Em meu tempo de criança, sempre tive minhas galinhas, meus patos e até um pavão! Sem falar nos cabritinhos e carneirinhos enjeitados, quando a mãe morria, que papai trazia pra casa pra que eu cuidasse deles. Dava leite na mamadeira pros bichinhos. Nunca morreu um! Papai dizia que criança aprende a respeitar a natureza é cuidando de bichos! Portanto, toda criança precisa ter um animal de estimação... Nem que seja só um! Pode ser até peixe em aquário...
– Ave-Maria Dindinha, zoológico é pouco, hein?
– Acontece Estela, como li num comentário na internet, que a meninada que está no Ministério da Saúde é crua e inocente, inocente – pra não dizer coisa que agrave Seu Ninguém. Só inocência mesmo, pois nem o beabá da cartilha da continuidade de um governo essa gente se deu ao trabalho de ler. Sequer sabem que a pólvora foi descoberta faz é tempo! Estão gostando de puxar a mãe do corpo da presidenta... Só pode, ôche! É um surto de puxa mãe do corpo! Se Dilma fosse homem, seria surto de puxa saco!
– Hemhem... Como assim? Pucardiquê?
– Como assim e pucardiquê? Num tá acompanhando não, minha rosa?

– Médio... Li o artigo da professora Clair Castilhos “As cegonhas vão parir… tudo está resolvido!!” O veio é bom; e o estilo gozador é perfeito! Uma delícia de leitura. Por alguns comentários, percebe-se que muita gente interessada no assunto não entendeu direito que o buraco é bem mais embaixo. Tem muita gente achando que as feministas gostam mesmo é de encrenca. E não é nada disso. Vai ser preciso popularizar a linguagem pra que as pessoas entendam do que se trata. Ah, isso vai!
– ...
– Por exemplo, o Pedro, no Azenha, no blog Vi o Mundo, disse: “Ela criticou somente o nome? Porque não vi nenhum argumento contra o programa em si”. Houve um que escreveu: “Durante a campanha ela já falava ‘Rede Cegonha’. Portanto, o nome não foi invenção de alguém do Ministério sem consultá-la (João Sérgio). Até separei os comentários que li sobre o assunto, tanto no Azenha, quanto no Saúde com Dilma...
– Aaaaaaaah, e foi? Pois leia aí Estela! Vamos apreciá-los juntos.
– ...
– Tudo, não! Só os mais representativos... Quer dizer, que confirmam a sua hipótese de que muita gente não está entendendo direito que esse tal de Programa Rede Cegonha enterra ou faz sombra à  Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher”...


Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, “investiremos em toda a rede de serviços que devem assumir o cuidado à gestante e à criança, desde o pré-natal até os dois anos: começa pela unidade básica de saúde, passa pelos exames do pré-natal, pelo transporte seguro, até o parto nos leitos maternos do SUS “. Estimativas apontam que o Brasil tem cerca de três milhões de gestantes no momento, sendo que mais de dois milhões são assistidas exclusivamente pelo SUS.


– O Luís Alberto Furtado, aquele contista do Site Lima Coelho que inventou a personagem Dona Luisinha, no Saúde com Dilma, assim se expressou: “Um texto que soube brincar com as coisas sérias de modo a chamar a atenção pros problemas. Parabéns professora Clair. Concordo com tudo que você escreveu. A presidenta Dilma foi enganada pelos seus assessores (leia-se ministro Padilha e seu imediato Helvécio Magalhães), pois nenhum dos dois entende de Saúde da Mulher, pois se entendessem teriam dito: ‘Peraí presidenta, isso tudo de dinheiro é pra ir para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher' ... E não para ficar inventando retrocesso, como é o caso dessa tal Rede Cegonha. Que vergonha! Ou esse dois senhores sentam suas digníssimas bundas nas cadeiras que ocupam para ouvir e aprender com os movimentos sociais, ou não vão dar conta do recado e levarão a presidenta pro buraco. No caso da Política de Saúde Indígena, o bicho também tá pegando”. (03/04/2011 www.saudecomdilma.com.br/).
“O programa Rede Cegonha é uma resposta pela vida de que a atenção integral à saúde da mulher e da criança é prioridade absoluta no governo da primeira presidente mulher da história do Brasil”, disse o secretário de Atenção à Saúde do Ministério, Helvécio Magalhães, durante coletiva de imprensa realizada neste domingo (27) na capital mineira.
– E olhe que Luís Alberto é danado de inteligente. Um sábio! Um feminista... É casado com uma feminista que entende do assunto e sabe muito bem que nós, feministas, contrapomos ao Programa Rede Cegonha uma política mais ampla e bem elaborada, que já existe, que é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), uma política de governo, elaborada no Governo Lula, na qual a mortalidade materna está devidamente contemplada e é uma das áreas, que está sendo efetivada bem. Inclusive o Brasil já recebeu prêmios internacionais por conta do bom andamento da ação. Há o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal (2005), onde as ações de redução da morte materna e neonatal estão bem desenhadas. É só cumpri-las!
– ...
– Então Estela, o que sobraria para Rede Cegonha? A parte de Assistência Social. Em outras palavras: o apoio às gestantes ditas “carentes” (odeio essa palavra!). Isto é, a parte estritamente de atenção à saúde da gestante, parto, puerpério e quetais já existe no PNAISM e estão detalhadas no Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal (2005). E agora, vão jogá-lo fora? Não creio! É maluquice elevada à enésima potência! É deixar com a cegonha a parte de assistência social. Não mais! É, pelo menos pra aproveitar aquele monte de obra de arte doada por Romero Britto. É isso! Não mais! Minto...


– Como mente?
– Minto por estar sendo rasteira, com preguiça de pensar. Mas, deixando a preguiça de lado, vou ser franca. A Rede Cegonha como dizem ser a expressão do sentimento da presidenta de cuidar adequadamente das mulheres que vão ter filhos deveria ter sido pensada como parte de uma política de cuidados. É isso! Seria um programa social de cuidados de grávidas e puéperas, dentro das ações de saúde. Mas como “Quem não sabe assar, queima”... O Ministério da Saúde queimou o sentimento de cuidado da presidenta! Falta de expediente, mesmo!
"Um país deve ser medido pela atenção que dá as mães e às crianças". Presidenta Dilma Rousseff
Apresentador: A senhora está indo hoje a Belo Horizonte, lançar o programa Rede Cegonha, mais uma novidade dirigida às mulheres. A senhora já falou do Rede Cegonha aqui rapidamente, mas gostaríamos de saber mais, pode ser?
Presidenta: Pode sim, Luciano. Você sabe que uma das grandes preocupações do meu governo é assistência à mulher e ao bebê. Um país só pode ser medido pela atenção que dá às suas mães e às crianças. O Rede Cegonha é um programa que vai dar atendimento à mulher do início da gravidez até o segundo ano de vida do bebê. Vamos agir bem cedo, sabe por quê? Porque o futuro de uma criança começa muito antes do nascimento dela, começa na qualidade de vida da mãe, nas condições da gravidez e nas condições do parto. Vamos investir R$ 9 bilhões até 2014 para garantir um atendimento integral.
REDE CEGONHA DARÁ ATENDIMENTO À MULHER DA GRAVIDEZ ATÉ O SEGUNDO ANO DO BEBÊ


– ...
– Um passo além do que era a antiga LBA (Legião Brasileira de Assistência). Lembrando que em saúde “uma política de cuidados exige um novo contrato social e ético a ser celebrado entre governo X profissionais de saúde X instituições de saúde, fundado no respeito ao ser humano, na alteridade e no entendimento de que assegurar qualidade de vida possui um valor moral e um sentido político”.
– Eu também vejo assim. Mas agora ficou mais cristalino que é preciso fazer um escarcéu! Mas vamos a outro comentário: “Professora Clair, a benção! Eu estava muito incomodada com o silêncio das feministas diante dos descasos do Ministério da Saúde para com a Saúde da Mulher, jogando no lixo uma proposta de Política Nacional de Atenção à Saúde Integral da Mulher. Pois sim jogou no lixo. E aparece com Rede Cegonha como se saúde da mulher fosse apenas gravidez e parto e dentro de um olhar antigo: mulher e filho. Pensando bem, esses meninos que estão dando as cartas no Ministério da Saúde são leigos em saúde integral da mulher ou finíssimos bajuladores – quiseram agradar a presidenta que na campanha eleitoral foi mal assessorada de um tanto que a única proposta pra saúde da mulher foi essa tal de Rede Cegonha que, como vemos, ludibriaram a presidenta e ela, leiga, caiu no canto da cegonha. E o ministro da saúde, idem.” (Terezinha Sanches).

– ...
– E há outro excelente comentário de Terezinha Sanches, respondendo ao João Sérgio, que já li bem no começo, que dizia que a Rede Cegonha havia sido falada por Dilma num programa de TV, durante a campanha eleitoral: “Aquilo era uma bobagem da ignorância de quem assessorava a ministra. Ou seja, falar em Rede Cegonha em detrimento de uma política elogiada no mundo inteiro. Engabelaram a candidata e agora a presidenta! Sobre o assunto a Dra. Fátima Oliveira, que entende de saúde da mulher como gente grande, e está nessa luta desde que eu a conheço há mais de vinte anos, escreveu no artigo: “Algumas ausências que foram paradigmáticas no debate eleitoral” (...) (Terezinha Sanches).
– ...
“Ah, a professora Clair Castilho disse bem: a RELAÇÃO DAS CEGONHAS COM OS RECÉM-NASCIDOS NÃO PASSA DE LENDA!!! Eis o conto e o canto da cegonha. Mas pra frente é que se anda. Espero que a presidenta Dilma dê uma puxada de orelha nesses meninos dela que estão no Ministério da Saúde para que aprendam e respeitem a luta feminista brasileira, que vê a saúde da mulher na REAL, sem cegonha... Ôche, nunca vi cegonha no Brasil mesmo... Tudo embromação. (Terezinha Sanches).

As cegonhas (Ciconia spp.) são aves migrantes da família Ciconiidae. As cegonhas têm cerca de 1 metro de altura e 3 kg de peso. O seu habitat é variado e a alimentação inclui pequenos vertebrados. São animais migratórios e monogâmicos. As cegonhas não têm faringe e por isso não emitem sons vocais, emitem sons batendo com os bicos, atividade a que se dá o nome de gloterar.



As cores vibrantes do artista plástico pernambucano Romero Britto vão ilustrar o novo programa do Ministério da Saúde, o Rede Cegonha, que será lançado nesta segunda-feira (28/3), pela presidenta Dilma Rousseff, em Belo Horizonte (MG). Britto doou peças originais que serão a logomarca do plano que amplia a atenção à saúde da mulher, com foco no planejamento familiar, na gravidez, no parto e pós-parto, assim como o cuidado até o segundo ano de vida da criança.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentou a ideia do modelo de atendimento para o artista, em março, durante uma agenda de Pernambuco. Entusiasmado pela assistência à mãe e ao bebê, Britto se prontificou a doar imagens para ilustrar o plano. “Considerando a importância da melhoria da qualidade da atenção à saúde da mulher e da criança, doei uma série de 10 quadros, de acrílicos sobre tela, produzidos por mim”, explicou o artista, que é considerado um ícone da cultura pop moderna. Os quadros estão avaliados em US$ 800 mil.
Romero Britto doa imagens para ilustrar Rede Cegonha

– ...
– E a Caetana postou a nota que saiu no Estadão, tanto no Azenha quanto no Saúde com Dilma: "Movimento de mulheres critica programa para gestantes lançado por Dilma"
– Dindinha, qual o dia da Semana Santa que a senhora vai fazer o “Bacalhau à espanhola”?
– Ora Estela, no de sempre, na Sexta-feira da Paixão, esqueceu? Increduincruz, só pensa em comer!
– Quêquisso Dindinha, assim a senhora me ofende... Perguntei por perguntar, só pra mudar de assunto. Ah, dá pra mandar pro meu email a receita do “Bacalhau à espanhola”?
– Pucardiquê Estela? Desde quando tu não passas a Semana Santa na Matinha de Dona Lô? Vais inventar moda de ficar em tua casa e cozinhar nos Dias Grandes, é?
– Nããããão e não, Dindinha! Imagina! É que uma amiga minha, que já passou uma Semana Santa aí comigo e mora no Espírito Santo, pediu a receita...
– Aaaaaaaaaah, bem!

Chapada do Arapari, 07 de abril de 2011
 

Maria, Maria
Milton Nascimento

Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta

Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria...

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....

Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!...

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria...

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho, sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê
Hei! Hei! Hei! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!
Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!...

Bacalhau à espanhola de panela
(receita de Fátima Oliveira)

Ingredientes:  
2 kg de bacalhau do Porto
½ kg de pimentão vermelho
½ kg de pimentão verde
½ kg de pimentão amarelo
1 kg de tomate maduro
1 kg de cenoura
1 kg de batata
1 kg de cebola
250 g de azeitona verde
250 g de alcaparra
1 cabeça de alho de tamanho médio
1 maço de salsa ou coentro (escolher a gosto)
1 maço de cebolinha verde
1 folha de louro
Pimenta do reino moída (a gosto)
Azeite de oliva (a gosto, em média entre 300 a 500 ml) 1 limão
**
Modo de fazer:
1. Deixe o bacalhau de molho de 12 a 24 horas em numa vasilha com cerca de 5 litros de água fria;
. Escorra a água do bacalhau a cada duas horas (em média);
. Após 24 horas escorra o bacalhau e retire as peles e as espinhas;
. Enxugue os pedaços de bacalhau;
. Corte o bacalhau em postas do tamanho e da espessura que desejar;
. Esprema um limão nas postas de bacalhau; passe a pasta de alho (sem sal!), feita com a cabeça de alho; e salpique pimenta do reino moída a gosto (reserve por meia hora).
2. Corte em rodelas os pimentões, as cenouras, as batatas, os tomates e as cebolas (reserve).
3. Pique a cebolinha e a salsinha ou o coentro (reserve).
4. Deixe as azeitonas e as alcaparras de molho em um litro água fria por cerca de meia hora (para retirar o gosto de conserva!).
5. Numa panela grande, preferencialmente de barro ou de ferro, comece a montagem do prato:
5.1. Desepeje um pouco de azeite de oliva na panela e espalhe por ela toda;
5.2. Distribua as verduras em camadas: cebola; tomate; batata; cenoura e pimentões;
5.3. Cubra as verduras com uma camada de bacalhau;
5.4. Despeje azeite de oliva a gosto;
5.4. Salpique as azeitonas, as alcaparras, a cebolinha e a salsinha (ou coentro);
5.5. Faça outra camada de cebola; tomate; batata; cenoura e pimentões;
5.6. Cubra as verduras com mais uma camada de bacalhau;
5.7. Despeje azeite de oliva a gosto;
5.8. Salpique as azeitonas, as alcaparras, a cebolinha e a salsinha (ou coentro);
5.9. Finalize com outra camada de cebola; tomate; batata; cenoura e pimentões...
5.10. Coloque a folha de louro!
6. Tampe bem a panela e leve ao fogo baixíssimo durante 60 minutos;
7. Depois de 60 minutos de fogo baixíssimo, cozinhar em fogo médio por mais 60 a 90 minutos!
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Observações:
1. Dependendo do tamanho da panela os ingredientes são suficientes para duas ou mais camadas de bacalhau e de verduras; e
2. Finalize com uma camada de verduras! Azeite de oliva a gosto.
Lembretes:
1. Não mexer com colher! Apenas dê “sacudidelas” a cada 15 m para que o sabor se misture por igual e nada grude no fundo da panela!
2. Não colocar água! O bacalhau e as verduras cozinham na água que vai soltando do bacalhau e das verduras!
Sirva com arroz de alho ou à la grega
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*,**,*** Fotos de La Belle Cuisine