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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tambor de crioula do Maranhão & Carnaval

Tambor de Crioula, de Lisy Telles


TAMBOR DE CRIOULA - É uma dança praticada por descendentes de negros do Maranhão, em louvor a São Benedito.
Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de criola são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos.
Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de criola é dançado com maior frequência no carnaval e durante as festas juninas.
Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.







TAMBOR DE CRIOULA

Júnior e Oderban Oliveira


Quem ainda não viu
tambor de crioula do Maranhão?
afinado a fogo tocado a murro
dançado a coice e chão?
crioula, crioula
aê tambor da ilha rufou
aê ê a cachaça já baixou
aê ê tinidô, repipocou
aê ê a pungada derribou
ô vira vira os óio pro rabo da saia dela
cambono tá inspirado e ogã cantando pr´ela
requebra com peneirado, olerê
rosa amarela
ô vira a boca cheia de dentes pr´outro lugar
palmito meu tu não come
besta é tu pode rinchar
coreiro de mão inchada olerê já vai parar
ô dá licença minha gente eu vou m´embora
eu vou m´embora já está chegando a hora
eu vou m´embora mas um dia eu volto aqui
se deus quiser Jesus e Nossa Senhora
se deus quiser Jesus me dê cachaça
se deus quiser Jesus e dona da casa
se deus quiser Jesus e cabocla Jurema
se deus quiser Jesus e dona da casa


Alcione, Oberdan Oliveira, Célia Sampaio e Fátima Passarinho
FONTE: www2.uol.com.br/ritaribeiro/disco_2009_f13.htm
 





O ritmo é executado em três tambores feitos de tronco, escavados a fogo.
O tambor grande é chamado Socador ou Roncador (faz a marcação para a punga);
o médio, o Meão (responsável pelo ritmo); e
o pequeno, Pererenga ou Pirerê (faz o repicado).



TAMBOR DE CRIOULA - dança marcada por muita descontração dos brincantes, a animação é feita com o canto puxado pelos homens, com acompanhamento das mulheres, chamadas de coreiras. A coreografia da dança apresenta vibrantes formas de expressão cultural pelas mulheres que ressaltam em movimentos coordenados e harmoniosos cada parte do corpo.
As dançantes se apresentam individualmente no interior de uma roda formada por um grupo de vários brincantes, incluindo dirigentes, dançantes, cantadores e tocadores.
A brincante que está no centro é responsável pela demonstração coreográfica principal, mostrando sua forma individual de dançar. No centro da roda os movimentos são mais livres, mais intensos e bem acentuados.
No Tambor de Crioula encontramos uma particularidade que se constitui o ponto mais alto da dança, a punga.
Entre as mulheres, se caracteriza como o convite para entrar na roda. Quando a brincante está no centro e quer sair, avança em direção à outra companheira, aplicando-lhe a punga, que consiste no toque com a barriga. A que estiver na roda vai para o centro para continuar a brincadeira.
FONTES: www.turismo-ma.com.br/carnaval.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula

TAMBOR DE CRIOULA



Mexe, remexe, rebola é tambor de crioula
A ginga descente envolvente é tambor de crioula
É sensualidade pura, não da pra segurar
Faz qualquer tristeza se alegrar
Chega mais pra cá, chega pra sambar
Mostra todo o seu gingado
Faz nego babar, quando rebolar
Quero ver seu requebrado
O Terreiro na palma da mão
De cavaco, tantan, violão
Quero ver ferver...
Quero ver ferver, o tambor de crioula
ê ê ê.. criooula.. criooula.. (crioula)
criooulaaaaa.. criooula

TAMBOR DE CRIOULA, DANCA FOLCLORICA
Tambor de crioula, de Maria do Perpétuo Socorro Bandeira Pinheiro
(73 anos, São Luís-MA)

Ministro Gilberto Gil e Mestre Felipe, por ocasião do registro do
Tambor de Crioula como Patrimônio Imaterial Brasileiro


Tambor de crioula é selo





O Estado do Maranhão - MA (22.02.2008)

Depois de ser oficializado como patrimônio imaterial do Brasil, o tambor de crioula ganha, agora, sua versão impressa. O balanço da saia colorida da coureira, dançando ao som da batida inconfundível do tambor está retratado no selo postal e carimbo que serão lançados pelos Correios hoje, às 19h, na Casa do Maranhão (Praia Grande), em homenagem à manifestação característica do Maranhão.

Em pequeno pedaço de papel, o designer Márcio Guimarães, autor da ilustração, resumiu as principais características da música e da dança que servem para louvar a São Benedito e encanta pela beleza coreográfica e som hipnótico que emociona não apenas os maranhenses, mas também turistas do Brasil e do exterior.
O som cadenciado, as batidas frenéticas e as letras de teor simples feitas por gente do povo ganharam contornos traduzidos no desenho do selo, que traz, em primeiro plano, uma coureira de saia colorida e adereços marcantes. Como pano de fundo, os tocadores de tambor.
O selo é parte da série América e será integrado ao acervo do Museu dos Correios. Além disso, percorrerá o mundo em correspondências postais.

Concorrência
Márcio Guimarães, que já havia assinado o selo da mostra Nordeste Criativo, enviou a proposta em novembro do ano passado e concorreu com outros artistas cadastrados pelos Correios no país inteiro. “Para mim, foi uma surpresa o fato de o trabalho ter sido escolhido, acredito que o fato de eu ser maranhense contribuiu para isso”, diz.
O designer conta que se inspirou em fotografias batidas por ele no dia 18 de junho de 2007, quando o ministro da Cultura, Gilberto Gil, oficializou a manifestação como patrimônio imaterial do Brasil. “O desenho traz a silhueta de uma coureira e três tocadores em um fundo verde. Busquei colocar também as cores da chita e detalhes da renda das blusas das dançarinas”, explica ele.
De acordo com Márcio Guimarães, a ilustração foi feita à mão livre. “As cores utilizadas simbolizam, além do tambor, o tropicalismo brasileiro e sua riqueza de cores”, observa. Será apresentado também hoje o carimbo, que tem a mesma imagem, com aplicação diferente.

Trajetória
Márcio Guimarães nasceu em Imperatriz, mas desde os 2 anos de idade vive em São Luís. Aprendeu a desenhar antes de ler e escrever.
Nunca estudou pintura ou desenho, mas passava horas observando e tentando imitar obras dos grandes mestres e de seus gibis. A brincadeira acabou ganhando tons mais sérios.
Formou-se em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), aperfeiçoou-se em Design Estratégico pelo Instituto Europeu de Design e desde 2001 é consultor do Sebrae em projetos que apóiam o desenvolvimento do artesanato e do turismo maranhense.



Correios lançam Selo Comemorativo sobre o Tambor de Crioula

Com a missão de propagar os valores culturais maranhenses e do Brasil, os Correios, por meio da Comissão Filatélica Nacional, aprovou a publicação do Selo Comemorativo referente ao Tambor de Crioula do Maranhão, expressão cultural recentemente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Iphan em 18 de junho de 2007.

(18/03/2008)

Com a missão de propagar os valores culturais maranhenses e do Brasil, os Correios, por meio da Comissão Filatélica Nacional, aprovou a publicação do Selo Comemorativo referente ao Tambor de Crioula do Maranhão, expressão cultural recentemente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Iphan em 18 de junho de 2007.
O selo que terá tiragem de cerca de 22 milhões de unidades, já está sendo comercializado desde 1º de fevereiro, principalmente em São Luis, faz parte da série América, Festas Nacionais e pode ser adquirido em qualquer agência dos Correios.
A imagem contida no selo, representa a manifestação cultural de matriz africana em toda a sua plenitude. A mulher dançando descalça, com sua saia estampada com cores que representam o tropicalismo brasileiro, ladeada pelos tocadores dos três tambores, instrumentos típicos do Tambor de Crioula.
Como cultura afro-brasileira, o Tambor de Crioula é tocado principalmente nas festas carnavalescas e juninas realizadas no estado, geralmente em louvor a São Benedito e encerrando as festas de bumba-meu-boi.
FONTE: www.memoriaviva.org.br/default.asp?id=1&mnu=1&ACT=5&content=1749








sábado, 26 de fevereiro de 2011

De Chiquinha Gonzaga para Dilma Rousseff: “Ô Abre alas...”



Fátima Oliveira


Na sexta-feira na boquinha da noite, regulando umas seis e meia, a turma de Estela, afilhada de Dona Lô, juntamente com Cesinha, apeia na Matinha de Dona Lô e é recebida por ela com abraços e muitas gargalhadas, dizendo que passou a tarde com Maria Helena e Gracinha preparando comes e bebes para a noitada.
Pedro, mal apeou da caminhoneta todo porloche, crente que estava abafando, sem conter o riso, se dirigiu à dona da casa: “Ah, eu trouxe um CD de Marchinhas de Chiquinha Gonzaga pra Vosmicê apreciar... E nem almocei esperando os comes daqui”.





– Caaaaalma, Pedro! Deixe de ser glutão! A noite é longa. Temos muito tempo. Vamos chegando minha gente! Tudo bem, Cesinha? E com vocês, meninada? Nem um cherim na dindinha? Viiiixe, como você está bonita Estela! Oxente, cortou o cabelo que nem o da Dilma, hein?
– E que historia é essa de que Dilma é uma flor de sal?
– Gente, Pedro tá que tá... Preparei uma saladinha de entrada pra nossa noitada pra você compreender o que é flor de sal, meu chapa! Aliás, tem comido muita flor de sal aqui em casa sem saber apreciar direito.

Árvore da prosperidade, feita de flor de sal (Cimsal)
– ...
– Parece que esses anos todos alimento você com flor de sal como se estivesse dando pérolas aos porcos... Eh, Estela vai letrar esse homem nunquinha, não? Terminem de arrumar os “teréns” de vocês e venham pro alpendre. Aqui tá correndo uma fresca boa que só! Vamos bebericando enquanto chega a hora do jantar. Maria Helena, minha rosa, traga a saladinha, minha filha! Cadê o CD Pedro? Enquanto termina de chegar, vou começar ouvindo uma musiquinha da nossa Chiquinha...



– Que era uma mulher de verdade! Das porretas mesmo! Abolicionista da primeira hora...
– Deixa de lero aí Estela! Vem ajudar aqui com as coisas dos meninos! Chega e vai logo se abancando, como se não tivesse nada para fazer...
– Está falando comigo Pedro? Estou cansada, meu bem... Vou ficando por aqui com Dindinha. Estou com sede... Vá você! Depois volte pra cá. Cesinha, os meninos querem cavalgar um pouquinho por aqui nos arredores da casa. Não vão pra longe, não! Já é noite, viu? Os cavalos estão prontos. Telefonei da estrada pra Zé Vaqueiro. Vá lá com eles, por favor! E aí, vamos comer o quê?
– Ih, já vi! Que coisa! Vocês só chegam aqui pensando em comer! Há a salada que Maria Helena já vem trazendo. Temos uns petisquinhos básicos que andei inventando. Coisinhas pra degustação. E, claro, uma carninha de sol, que parece estar muito boa. Gracinha está chegando pra finalizar uma Galinha de parida pro jantar. Tá de bom tamanho, não?


Ô ABRE ALAS
Chiquinha Gonzaga (1939)

Ô abre alas que eu quero passar
Ô abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira não posso negar
Eu sou da lira não posso negar


Ô abre alas que eu quero passar
Ô abre alas que eu quero passar
Rosa de ouro é que vai ganhar
Rosa de ouro é que vai ganhar






– E aí Pedrão, o que tem a dizer?
– Euuuuuuuuu Dona Lô? De que e sobre o que senhora?
– Qualquer coisa! Prove da saladinha de flores com flor de sal...
– Usando de honestidade intelectual, sem brincadeira, acho que Dilma vem surpeendendo pra muito mais do que o esperado... O jeito dela de ser, o estilo de governar, o gosto dela de administrar o governo “pegando o touro pela unha”, tem agradado a grande mídia. A nativa e a internacional. Ela está se impondo bem.
– ...



Dilma Rousseff e Hebe Camargo se encontraram no Palácio da Alvorada nesta quinta-feira
Dilma Rousseff e Hebe Camargo se encontraram no Palácio da Alvorada (24.02.2011Foto: EFE/Folha Press)

–  Sem falar que as elites estão amando comparar o jeito de ser da Dilma com o do Lula. Bobagem sem tamanho! Mas tem dado o que falar. Claro, puro preconceito! Aproveitam pra dizer que Lula não trabalhava, só fazia discursos e viajava. Um bando de... desclassificados. Mas Pedro, o que mais? Pitaque mais um pouco, mestre!



– No episódio mesmo da ida dela aos 90 anos da Folha. Tenho lido tudo o que tem saído a respeito e até agora a minha modesta opinião é que ela acertou em cheio ao comparecer. Claro que tem lá suas complicações, mas o saldo é positivo para a presidenta. Hoje e futuramente. Claro, a blogosfera progressista está caindo de pau. Coisa de inocentes da política. Nem mais e nem menos. Com amigos assim, quem precisa de inimigos? Tá uma coisa sem limites. Estão metendo o aço! Por enquanto Dilma tem problemas a resolver com o fogo amigo, porque o inimigo ainda não conseguiu acender o fogo dele. Oposiçãozinha sem rumo, sem leme...

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– Muito bem Pedrão! Continue, mas não pare de comer, não! Prove aqui da linguiça de frango com ervas... Coisa fina, inventada e feita por mim... Também há salsicha de frango.
– O quê? Salsicha de frango? Increduincruz! Essa mulher é cheia de surpresas! Nem gosto da linguiça de frango, que dirá da salsicha! Se bem que comi uma linguiça de frango aqui outro dia e achei muito boa, bem temperadinha, com umas malaguetinhas frescas... Dobrando a língua: quer dizer, não gostava. Agora, depende!
– “Queto” Pedro! Aprenda a degustar os quitutes de Dindinha... Lembre-se: as entradas daqui hoje são finalizadas com flor de sal... Aproveite. Lá em casa tem disso, não!
– É! Então tá. Que jeito, né?
– Assim é que se fala Pedro! Vá comendo e vá falando...
– Pois muito que bem... Onde eu estava minha gente?
–...
– Ninguém prestando atenção... Nem lembram onde parei. Cervejinha aqui Maria Helena! Sua patroa bebe, hein minha filha? Enfim, bonita essa música “Atraente” de Chiquinha... Gosto!





– Vocês tem razão! Flor de sal é “caviar marinho”! Tem preço de caviar mesmo! Tanto o nacional quanto francês... Fazer o quê se Dilma não vai sossegar enquanto todo mundo não puder ter sua cota de flor de sal? Eu não preciso esperar, venho comer a minha cota semanal aqui na Matinha de Dona Lô. E pensar que esse patrimônio todo aqui foi construído no lombo de tropas de burros pelo sertão afora...
– Verdade, verdadeira Pedro! Tudo isso aqui e o que vai ficar pra você e sua mulher gozarem do bom e do melhor veio do lombo das tropas de burros...
– Oh, não diga que somos herdeiros?!
– Não Pedro, só Estela, que é quem resta de minha família, de prole sempre muito pequena. Os Tropeiros eram de poucos filhos. Parte disso aqui é dela quando eu me for. Eu disse: parte! Está escrito em testamento, meu chapa. Logo, cuide bem de mim... Porque se maltratar a velhinha aqui, adeus herança!
– Entendi, entendi. Deixe-me dengar a senhora um pouquinho aqui... Superada a votação do salário mínimo, que não dá ainda pras amplas massas provarem o gosto do caviar marinho... Mas eu espero que um dia elas chegarão lá! Diga-me se meu PMDB não saiu melhor do que a encomenda? Tô gostando do Temer. Eita cabra macho! Sabe domar a tropa. Ali tem! O que é eu não sei... Mas que ele está seguindo um plano, isso está!
– Menos empolgação, viu Pedro! Quatro anos não são quatro dias, não! Ainda temos quatro anos pela frente... Estela, e as comidinhas? Estás gostando?



– Muito Dindinha, gracias! Quero dizer como estou vendo essas coisas. Um olhar mais sociológico. Penso que é uma bobagem jogar Dilma nos braços da matilha sempre que ela não agir conforme desejamos. Nem sempre chefia de Estado pode fazer só o que quer. Tem de visar em primeiro lugar os interessses do Estado que, no Estado burguês, nem sempre coincidem com os interesses populares. Aliás, regra geral o Estado buguês é contra o povo. É da natureza dele ser assim. Ou podemos nos dar o luxo do esquecimento que Dilma se elegeu para chefiar um Estado burguês? Evidente que não, sob pena de sofrimentos inúteis. Ou seja, para mim o nó não é a Dilma, mas o Estado! E ela tem de atuar nos limites da legalidade do Estado burguês.
– Meu Deus, ser marido de mulher inteligente, intelectual, não é nada fácil!
– Ah, é Pedro? Então larga o osso. Vai roer mulher burra!
– Calma, minha gente! Bebamos com moderação! Ainda nem jantamos. Concordo com Estela. Dilma tem lado. E por enquanto nós somos o LADO dela! Eu não tenho e jamais tive ilusões com Dilma ou com Lula. Nem com PT, que é um partido socialdemocrata. O PT só aspira ser um bom gerente da crise do capitalismo. Nem mais e nem menos. E eu não posso esperar dele mais que isso. Cada um dá o que tem. Na discussão da ida da presidenta à Folha, quem está contrariado tem suas razões, embora eu não as considere com a importância que eles estão querendo dar. Dão a impressão, mas estão redondamente enganados, de que sem eles Dilma não teria sido eleita. Isto é passar dos limites, não é democrátrico e é um insulto à autonomia da presidenta, ao seu direito de ir e vir. Falam tanto em democracia e querem colocar a presidenta dentro de uma bolha ideológica particular. Que diacho de democracia, hein? Assim não dá!
– ...
– Evidente que jogaram um papel importante, por dever cívico, por puro patriotismo, ainda acho assim. Ou gente séria queria que o PSDB voltasse ao poder? Creio que não! Vamos cair na real: não exigir de Dilma e de seu partido mais do que eles podem, efetivamente, dar, nos marcos do Estado burguês e do republicanismo! Enfim, não dá pra ter ilusões além dos limites da República burguesa.



– ...
– Evidente que por mim Dilma não teria ido àquela festa. Mas ela deve ter tido seus motivos pessoais e suas razões de Estado para comparecer. E não vou crucificá-la por tal coisa. Prefiro esperar para compreender o inteiro teor da jogada. E se aquilo tudo não era uma festa, mas um enterro, hein?
– Ô língua ferina Dona Lô! Tudo bem que a Folha perdeu, depois de 24 anos, a hegemonia de diário de maior circulação nacional... Mas daí a falar em enterro...
– ...
– Nos preparemos para a chiação de setores feministas mais à esquerda. Dia Internacional da Mulher vem aí. A ordem parece ser nem pronunciar a palavra aborto! É o que se fala pelos becos, pelos botecos... Por sorte de Dilma o 8 de março é terça-feira de Carnaval. Se pra quem sabe ler um pingo é letra, o anunciado por enquanto, que não é de todo claro, as comemorações do 8 de março que serão protagonizadas pelo governo federal, são... assim.. digamos, “quase meia boca”... O que acha Estela?

Dilma no desfile Galo da Madrugada, em Recife, 13/02
Dilma no desfile Galo da Madrugada, em Recife, 13.02.2010

– É esperar pra ver. Mas a senhora está coberta de razão. A tinta feminista é escassa, escassa. Digamos que tudo foi programado por um viés... O economicista. Não está errado. É uma parte, mas não é o todo. E por não ser o todo, fica capenga. Uma pena que com tanta feminista militante de visão mais ampla, o PT no governo não consiga acertar o passo nessa questão de gênero rumo a uma visão mais global, capaz de incorporar o todo. Digo, uma visão imediata e uma visão estratégica das necessidades de gênero. As duas precisam ser contempladas ao mesmo tempo e nelas incluir o combate ao racismo.
– ...
– Falam de um mês da mulher, com a presidenta em evidência pelo país afora. Imagens que deverão valer por mil palavras. Tudo acertadinho pra começar na Bahia profunda, mais precisamente em Irecê, em 1º de março, quando a presidenta anunciará o aumento da Bolsa Família, cujos valores variam de R$ 22 a R$ 220, de acordo com o número de filhos, dando uma média de R$ 94 por família portadora do cartão – um quase nada que faz toda a diferença na vida dos pobres, bem sabemos não é Dindinha? E no sertão, nem se fala, é maná na vida de nossa gente. Gol de placa, sem dúvida, pois conforme dados do governo 93% dos usuários do cartão são mulheres.


Dilma pisará o solo de uma região emblemática de contrastes e confrontos da política e da economia no Nordeste
Dilma pisará o solo de uma região emblemática de contrastes e confrontos da política
e da economia no Nordeste


– Mas na campanha eleitoral aquela mesma gente do cansei e de laias similares, ostentava nos carros o adesivo: CANSEI DE SUSTENTAR VAGABUNDO! Coisa de gente má que nunca soube o que é comer pastel de imaginação.
– Foi mesmo! Bem, mas ainda não se sabe o aumento de quanto será, mas que vai sair, vai! Falta é burilar e deixar transparente que mesmo a Bolsa Família que é uma política, digamos, de conotação economicista porque integra a ideia mais geral de combate à pobreza das mulheres, sobretudo ela precisa estar envolta de um verniz de necessidade estratégica de gênero...
– Tá falando difícil demais Estela...
– Ah, é? Tenha paciência Pedro! Terá um mês inteirinho pra aprender...


Roberto Stuckert Filho/21.fev.2011/PR
Dilma Rousseff entre a ministra Miriam Belchior (Planejamento) (à esq.) e o governador de Sergipe, Marcelo Déda, durante cerimônia de abertura do 12º Fórum dos Governadores do Nordeste
[Roberto Stuckert Filho/21.fev.2011/PR]




Fazenda Matinha de Dona Lô, Chapada do Arapari, 26 de fevereiro de 2011


Receita de salsicha de frango
Ingredientes
500g de carne de frango moída
1 cebola pequena ralada
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 ovo
Sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de fazer
Em uma tigela, misture o frango, a cebola, a farinha e o ovo. Tempere com sal e pimenta e amasse bem com as mãos. Divida a massa em 6 porções. Abra um pedaço de filme plástico e coloque uma porção formando uma tira. Enrole o filme como rocambole, torça bem e feche as laterais como uma bala. Gire sobre a mesa até ficar bem cilíndrico e lembrar uma salsicha.
Repita a operação e cozinhe os rolinhos em água fervente por 20 minutos. Escorra, desembrulhe e sirva à gosto, inclusive em formato de espetinhos com frutas e legumes.  


Galinha de parida com pirão, à moda do sertão: a receita de Jorge Amado

Os sabores baianos, coadjuvantes nos romances de Jorge Amado (1912-2001), transformam-se em personagens principais no livro de sua filha Paloma Jorge Amado.
[Paloma+Jorge+Amado.jpg] Com ilustrações de Carybé (1911-1997), A Cozinha Baiana de Jorge Amado (320 p., ed. Record) mescla textos do escritor com o preparo dos pratos descritos em seus livros. A receita abaixo, por exemplo, é degustada em Tereza Batista Cansada de Guerra.

“A vida me deu mais do que pedi e mereci. Não me falta nada. Tenho Zélia e isso me basta
Jorge Amado, na foto com a mulher Zélia Gattai
Ingredientes (para seis pessoas):
Para a galinha:
- 1 galinha inteira com cerca de 2 kg;
- 1 tomate grande;
- 1 cebola grande;
- 1 pimentão;
- 3 dentes grandes de alho;
- 2 colheres (sopa) de vinagre;
- 1/2 molho de coentro;
- 1/2 molho de cebolinha;
- 1/2 colher (sopa) de cominho em pó;
- 1 colher (sopa) de cominho em grão e sal e pimenta-do-reino a gosto.
Para o pirão:
- 1 cebola média;
- 1/2 molho de coentro;
- 1/2 molho de cebolinha e 2 xícaras (chá) de farinha de mandioca.

Modo de fazer:
A galinha: corte a galinha pelas juntas, sem retirar a pele. Pique bem miudinho o tomate, a cebola, o pimentão, o alho, o coentro e a cebolinha. Tempere os pedaços de galinha com os temperos picados, o vinagre, o sal, o cominho moído e a pimenta-do-reino. Deixe tomar gosto por, pelo menos, uma hora. Coloque a galinha numa panela com os temperos, ponha água suficiente para cobri-la e leve ao fogo. Quando a galinha começar a ficar macia, coloque o cominho em grão. Reserve.
O pirão: corte a cebola em rodelas. Pique o coentro e a cebolinha (não muito miúdo). Na tigela de servir, coloque as rodelas de cebola, o coentro e a cebolinha picados e a farinha de mandioca. Misture. Jogue por cima o caldo fervente do cozimento da galinha – não coloque pouco, devem ser pelo menos três conchas de uma vez só – e vá mexendo com uma colher de pau. Acrescente caldo até a farinha ficar toda molhada. Sirva em seguida com a galinha.


Receita de Nazareth Costa, do livro A Comida Baiana de Jorge Amado, de Paloma Jorge Amado.


(Extraído do livro Reencontros na travessia -  a tradição das carpideiras, p 249-251, de Fátima Oliveira).
Sinopse: O olhar da autora sobre as carpideiras resgata um tipo de sabedoria brasileira: vindo do sertão e renovado por gerações de mulheres. Vale a pena destacar que esse olhar é de uma médica, feminista e cronista atenta aos movimentos sociais. Antes de mais nada, porém, deve-se ressaltar que trata-se de um olhar generoso que abre espaço para o dizer sábio de pessoas humildes. Através desta porta aberta, pode-se perceber que as personagens só podem ser íntimas do momento da morte porque mantêm um pacto firme com a vida que elas defendem amando e lutando de modo aguerrido. As carpideiras, que choram e cantam para encomendar almas ao outro mundo, possuem filosofia própria e certeira contra a dureza do dia-a-dia e a favor da alegria.
www.mazzaedicoes.com.br/detalheobra.php?l=104

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dilma é uma flor de sal




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Fátima Oliveira

O fato é que Dona Lô ficou muito abalada com o affaire entre Gracinha e Zé Vaqueiro, principalmente depois de ter conversado a sós com os dois. Cesinha percebeu que ali tinha...
Mas sabia que deveria respeitar a dor de Dona Lô e também não remoer muito em cima da dele, então não perguntava nada. Sabia também que ela se sentia traída pelos dois. Mas era uma sertaneja que, como boa cabrita, não berra. Não disse um “O” quando Gracinha se mudou de mala e cuia pra casa de Zé Vaqueiro. Não na frente de Gracinha!
Lembra bem do silêncio que ficou quando sua mãe disse que a partir daquela noite ela se mudaria para a casa de Zé Vaqueiro, já de sacola na mão... E foi saindo, deixando atrás de si um silêncio e um paradeiro que parecia que até o vento sumiu. Nem uma folha se mexia...
– É isso que mamãe chamava de mijando de tiquinho atrás de homem! Eita vida! E aí Cesinha, não vai com a tua mãe, não? Tem de ir! Agora tens pai e mãe, sô! Arruma os panos de bunda e chispa!
– Queeeeeeeeeeeeem? Eu, Dona Lô? Tá falando comigo, é?
– E com quem mais haveria de ser? Vai logo, rapaz! É como na música “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás...” Bezerrinho também...
– Minha casa toda vida foi a casa de madrinha Donana. Ou não, Dona Lô? Vou ficar aqui. Como na música: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Ela escolheu Zé Vaqueiro, não foi? Pois bom proveito! Não vou ficar com mamãe nem quando vier pra cá passar fim de semana. E nem nas férias...
E começaram a rir.
Mais tarde Cesinha sentiu um vazio que doía tudo. Na sede da fazenda a casa parecia bem maior do que era. E os dias pareciam enormes. Ali apenas ele, Maria Helena, que cuidava da casa e cozinhava, e Dona Lô. Até Mãe Zefinha se mandou pra Chapada do Arapari, alegando que Dona Lô andava marrenta demais.
Mas uma semana depois voltou a chamado de Dona Lô.
– Mãe Zefinha, preciso que fique aqui na Matinha, ou lá em casa na Chapada, com Maria Helena, até eu voltar da viagem.
– Que viagem Lô?
– Vou passar a semana do Carnaval em São Luís. Faz muitos anos que não vejo o Carnaval de lá. Dei vontade de ir. Quero ver fofões, Casinha da roça... Dependendo dos agrados, talvez fique por lá todo o mês de março.


– E tu pula Carnaval ainda Lô? Sei que gostava quando era nova, mas agora, nessa idade...
– Eita mulher que gosta de especular! Pode ficar ou não Mãe Zefinha?
– Poder até que posso. Não vou negar um pedido seu. Mas eu não tô compreendendo por que não fecha as casas e vai passear sossegada. É só mandar Maria Helena pra casa da mãe dela, né não?
– Ora senhora! Não quero fechar as casas, não! E onde Cesinha vai ficar quando vier pra cá nos fins de semana? A senhora sabe que ele vem pra casa toda sexta-feira à tardinha ou no primeiro ônibus que sai de lá no sábado...
– E pucardiquê o disgramado desse minino num fica na casa da mãe dele, Lô? Muié, esse minino tem mãe! Num dê corda a isso, não! “Quem pariu Mateus que o embale”, siazinha!
– Se preocupe não, Mãe Zefinha! Mamãe, antes de morrer, pediu que eu não abandonasse Cesinha por nada nesse mundo! Me fez prometer que só deixaria Cesinha por conta própria quando ele fosse juiz. Prometi e vou cumprir.



– Donana tinha cada uma! Agora eu vi! Tu ter de ficar de mãe desse molecote. E a mãe dele lá na vida mole só furunfando! Assim é bom ter fii. Assim até eu tinha tido um monte... Facim, facim ter um magote de fii puzouto criar...
– Calma Mãe Zefinha! Até parece que tem inveja do coitado do menino!
– Teu bicho benhi tá tocando. Num vai atender, não?
– Viiixe, nem escutei!

Casinha da roça, atração tradicional do Carnaval em São Luís-MA
São Luís

– ...
– É Estela! Oi, fia! Fala!
– ...
– Minha rosa, está bem! Quer dizer então que vocês virão pra cá na sexta e no domingo à tardinha a gente vai pra sua casa, não é? E o salão, conseguiu marcar na Odetinha? Ah, na segunda cedo, farei o cabelo e as unhas!
– ...
Ótimo, então terei a tarde livre pra comprar umas roupas, não é?
–...
– Pouca coisa Estela. Não é que vou às compras. Quero comprar umas duas a três blusinhas mais soltinhas e fresquinhas e um maiô. Como meu vôo sai daí quase meia-noite, terei tempo de sobra, né não?
–...
– Quer dizer que Pedro está doidinho pra conversar comigo? Seeeeeeeeeei! Quer tripudiar porque o PMDB pela primeira vez na vida foi fiel, isso sim! Só na Câmara! Mijou direitinho dentro do caco na votação do salário mínimo. No Senado alguns mijaram fora, não foi? Mas diga a ele que valeu! Meus respeitos! E o Itamar Franco, minha gente? O que é aquilo, hein?



– ...
– Ele está perguntando o que achei de Dilma ter ido aos 90 anos da Folha de São Paulo? Rsrsrsrsrsrs. Diga que aprenda a ter paciência, que é uma virtude. Conversaremos aqui na fazenda. Se eu falar agora ficaremos sem assunto pra beber cerveja...
–...
– Demais da conta esse seu marido Estela! Figuraça. Não sei o que seria de mim aqui sem ele pra encher meu útero com tanta divergência política. Pedro me faz sentir no mundo. Eita bichim que me cutuca e me aperreia!
–...
– Ele está de mutuca com tanto elogio que Dilma vem recebendo? Também estou! A começar pelos elogios do Papa, que desejou graças divinas a Dilma. O que será que o Vaticano está querendo mais do que Lula já deu com aquela maldita concordata, hein? Aí tem! A Igreja não gasta papel à-toa não! A canheguice chegou ali e parou! Mas o certo é que Bento XVI, mandou por um emissário, o governado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral – viiixe como esse povo gosta de visitar o Papa, hein Estela? Será quem paga esse tanto de romaria a Roma, hein? – cala-te boca! Enfim, a benção papal é datada de 18 de janeiro de 2011 e diz que “Sua santidade Bento XVI, de coração, concede uma benção apostólica a Dilma Rousseff e família e invoca abundantes graças divinas”.
–...
– Também acho que ela precisa se espertar porque pode vir chumbo grosso por aí. Ou não! Dilma está em disputa, não se iluda! Melhor: quero dizer que todas as forças estão disputando a Dilma... É visível demais. Mas ela é dura na queda. Tem nadica de nada de besta. Esse movimento da mídia nacional e mundial pró-Dilma, isola o Serra, o FHC e et caterva. Tem seu lado bom. Não deixa de ter. Ela precisa dar conta de administrar isso... É o inesperado.



– E eu que pensava que o lugar de rainha pra Dilma seria só no seio do povo, posso ter me enganado... Tem muito também do preconceito contra Lula não ser um “formado”, não ter esquentado os bancos da universidade e patati patatá... Claro que a blogosfera que segurou a Dilma, que nem peão segura touro na unha, tá P da vida. Mas passa. Carnaval vem aí! Chega! Diga a Pedro que venha pronto pra gente varar a noite da sexta-feira conversando.
–...
– Mas só adiantando, pra ele vir afiado: eu continuo achando que Dilma não é o sal da Terra, mas é uma flor de sal. Tempero fino.

Produto artesanal da Boutique do Sal da Cimsal

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Fazenda Matinha de Dona Lô, Chapada do Arapari, 25 de fevereiro de 2011